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Na 8ª final seguida, Corinthians vira referência no feminino com intensidade, rotação e ofensividade

Em entrevista ao 'Estadão', técnico Arthur Elias analisa momento do futebol feminino no Brasil antes de comandar a equipe em sua décima decisão

19 dez 2020 - 08h10
(atualizado às 08h10)
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Desde 2018, não existe torneio feminino de futebol com a participação de um clube brasileiro sem a presença do Corinthians na final. Também será assim neste domingo, quando o time visitará a Ferroviária, na Fonte Luminosa, às 11 horas, para o segundo duelo da decisão do Campeonato Paulista. Um desempenho que coloca o clube entre os maiores da história da modalidade no País. E que tem o estilo ofensivo e a intensidade com algumas das suas marcas.

Atual campeão estadual, o Corinthians chega à final em vantagem após vencer o primeiro confronto, em Barueri, na sua terceira final seguida do Paulistão. Também foi campeão brasileiro recentemente, uma conquista que já havia ocorrido em 2018 - o time perdeu as decisões de 2017 e 2019. E no ano passado venceu a Libertadores. Nesse período, o time teve uma incrível série invicta de 49 jogos, encerrada no fim de fevereiro.

Desde 2016 à frente do Corinthians, Arthur Elias comandará, em Araraquara, o time em sua décima final, sendo a oitava consecutiva, em busca do sétimo título. O adversário, a Ferroviária, também tem no banco de reservas uma referência da modalidade, Tatiele Silveira, primeira treinadora a ser campeã nacional, em 2019.

Há outros casos de domínio do futebol feminino no país, com o do Radar, que por oito vezes consecutivas venceu a Taça Brasil na década de 1980, do Santos, que ganhou duas Copas do Brasil e duas Libertadores no fim da década passada, ou mesmo o São José, três vezes campeão da Libertadores no início da atual década.

A diferença, porém, é que o predomínio corintiano se dá no período de maior visibilidade do futebol feminino no País, o que trouxe investimentos e clubes de camisa para a modalidade, como São Paulo e Palmeiras, se juntando a equipes mais tradicionais, com a Ferroviária, o Santos e o Kindermann.

"Havia uma diferença de investimento muito grande, com poucas equipes brigando de igual para igual. Hoje é um cenário de investimento de clubes de camisa e de tradição, com atletas muito qualificadas. A dificuldade é maior, estamos em alerta e trabalhamos para merecer as conquistas", avaliou Arthur, ao Estadão.

O sucesso esportivo também tem demandado um esforço extra do Corinthians. De 16 de novembro até este domingo, o time terá disputado nove jogos consecutivos de mata-mata. E só agora, para a decisão com a Ferroviária, conseguiu ter uma semana cheia de preparação.

Até por isso, tem sido comum ver Arthur rodar bastante o elenco, mesmo nesses jogos decisivos, a ponto de a jogadora que mais vezes atuou nesta temporada, Gabi Portilho, ter sido mais acionada para sair do banco de reservas - 19 jogos - do que ser titular - 11 partidas. Um trabalho que torna esse Corinthians, na opinião do treinador, o melhor que ele já dirigiu.

Os números podem referendar esse desempenho. Afinal, o time marcou 93 gols em 31 jogos na temporada, uma média de 3 por compromisso, com 18 sofridos. Só perdeu duas vezes, com 27 vitórias e três empates. E tem a artilharia bem dividida: são 12 gols de Gabi Nunes e Victoria Albuquerque, cada, e 11 de Crivelari.

"Rodamos ainda mais o elenco, com todas as atletas se saindo bem. Os conceitos evoluíram, a goleira jogando mais alta, assim como a marcação. Temos maior variação quando estamos com a bola, uma leitura melhor das atletas nas ações defensivas e ofensivas", disse o treinador, que na finalíssima do Brasileirão teve três baixas de última hora, incluindo Andressinha, por causa do coronavírus, mas ainda assim faturou o título.

"Um time de futebol é como a igreja Sagrada Família em Barcelona, sempre em construção. É um desafio fazer com que a equipe não seja previsível. E que as jogadoras sigam motivadas", acrescentou Arthur Elias, apostando na sequência do trabalho em evolução para seguir tendo sucesso, algo que o faz ser visto como referência por Tatiele. "Tem um grupo há bastante tempo, isso faz diferença, porque sabe o modo dele pensar. É ambicioso, busca jogar ofensivamente, usando as possibilidades que tem no banco, conhece bem o elenco. É o que a gente tenta fazer na Ferroviária", afirmou a treinadora.

O adversário da decisão, aliás, é um dos poucos que conseguiu evitar conquistas do Corinthians em anos recentes ao ganhar a decisão do Brasileiro do ano passado nos pênaltis, após dois empates. Mérito do trabalho de Tatiele, a quem Arthur reencontra neste domingo. "Ela trouxe bastante solidez defensiva, sabe jogar um mata-mata, gerencia bem o grupo e consegue se sair bem nesses confrontos", disse.

Só que dessa vez não bastará para a Ferroviária se defender. Afinal, com o triunfo de virada no domingo passado, o time pode até perder por um gol de diferença. Forçar o oponente a mudar sua postura foi um fato celebrado por Arthur. "A vantagem é boa, ela terá de sair do modo que costuma jogar contra a gente", comentou.

Não foi, porém, fácil obter essa vantagem. No domingo passado, em Barueri, perdeu um pênalti e levou o gol na sequência. Só conseguiu o empate aos 40 do segundo tempo, tendo marcado três gols em seis minutos. Fruto de uma intensidade que se vê em vários momentos de todos os jogos e resultado do que é trabalhado e exigido nos treinos.

"Trabalhamos hábitos, para jogar com intensidade e reagir rápido o tempo inteiro. Além dos aspectos táticos e da assimilação dos modelos, a equipe está habituada com a intensidade do dia-a-dia. Não paro muito nos exercícios, nem em cobranças de falta São acostumadas a trabalhar no 220V, é um hábito incorporado na equipe", detalha Arthur.

Já tendo marcado história no futebol feminino, ele sonha com uma mudança rara no futebol. Ele espera um dia trabalhar em uma equipe masculina, embora toda a sua trajetória tenha sido construída entre as mulheres, o que inclui a conquista do Brasileiro de 2013 pelo Centro Olímpico.

"É um objetivo, para crescer como profissional, é sempre bom ter novos desafios. Já tive propostas. Espero que aconteça em algum tempo. O que vai me fazer mudar é a estrutura, o projeto, ver se é um passo adiante. Não me considero um treinador de futebol feminino, como tem essa taxação pelo senso comum. A gente se forma como treinador de futebol, gerir um grupo de mulheres não é fácil, para isso deve ser até mais difícil. No masculino, você tem mais profissionais para te ajudar. Um dia deve acontecer, mas hoje estou muito feliz onde estou. O gênero não faz diferença para o profissional", conclui.

Estadão
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