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Hoje crítico do elenco do Corinthians, Carille era só elogios no início do ano; Relembre

15 out 2019 - 05h06
(atualizado às 05h06)
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Se no início da temporada Fábio Carille retornou ao Corinthians cheio de moral, depois de dez meses o clima parece ser totalmente diferente no Parque São Jorge. As críticas ao comandante alvinegro vão além das ideias de jogo e passam pelas polêmicas declarações em recentes entrevistas coletivas.

Prestigiado pelo título do Campeonato Brasileiro de 2017 e Bi-Paulista em 17 e 18, Carille voltou ao Timão com contrato válido por dois anos após sete meses no futebol árabe. Como prova de confiança depositada pelo clube, a participação do técnico na montagem do elenco corintiano foi central. Ainda em fevereiro, diante da chegada da décima contratação, Carille rasgou elogios ao trabalho da diretoria.

Carille vive momento de instabilidade no Corinthians (Foto: Djalma Vassao/Gazeta Press)
Carille vive momento de instabilidade no Corinthians (Foto: Djalma Vassao/Gazeta Press)
Foto: Gazeta Esportiva

"Não (esperava). Quero deixar claro, agradecer o presidente Andrés Sanchez, o Duílio, o Edu Ferreira, o Dr. Kalil, o Alessandro, que iniciou tudo, o Vilson e o Emerson, que chegaram agora. Foi muito acima do que imaginei, muito acima do que eu esperava. Estou muito feliz mesmo. Está ficando uma equipe muito equilibrado, vai elevar o nível dos treinamentos, o que eleva o nível do time"

Equilíbrio nas peças

O entusiasmo foi grande principalmente para as chegadas de nomes como Júnior Urso e Ramiro. Depois da vitória contra o Ituano, em março, Carille falou sobre o equilíbrio do elenco e de como estava satisfeito com as características dos jogadores buscados no mercado.

É o elenco mais equilibrado meu como técnico

"Estou muito satisfeito pelo o que está acontecendo, o Corinthians buscou jogadores da característica do Corinthians, com participação com e sem bola, tenho que dividir a responsabilidade"

As primeiras críticas no Campeonato Brasileiro

Apesar do dito elenco equilibrado, o Corinthians conquistou o Campeonato Paulista em cima do São Paulo já sob questionamentos sobre o desempenho da equipe. E esta onda de cobrança seguiu com o início do Brasileirão.

Depois da derrota para o Santos, na 9ª rodada, o treinador corintiano admitiu que o time tinha dificuldade na fase ofensiva. A parada da Copa América era aguardada para que os ajustes necessários fossem feitos.

"A respeito da parte ofensiva, a gente está com essa dificuldade desde o começo do ano, essa vai ser minha busca de melhora na parada para a Copa América. Teremos uns 20 dias de trabalho para isso"

Com o Brasileirão de volta, Carille enxergou evolução na sua equipe dentro das quatro linhas. Após o empate em 0 a 0 contra o Internacional, na 14ª rodada, o treinador deu respaldo aos seus comandados.

"Time com cara de time, jogadores sabendo mais o que fazer dentro de campo. Rendimento tem me deixado satisfeito".

Atrito com o elenco

Os elogios de Carille já não eram tão convincentes. Críticos e parte da torcida continuavam a questionar o futebol apresentado em campo e o estilo do treinador. Os problemas ficaram ainda mais evidente na partida contra o Independiente del Valle, em Itaquera, pela semifinal da Copa Sul-Americana.

Na tentativa de explicar uma derrota vexatória, Carille falou de deficiências no elenco, e citou dois dos mais jovens do grupo alvinegro para exemplificar o peso da inexperiência.

Um jogo de imposição física, de 'nego malandro', a gente com muito menino em campo, que tem que entrar em campo para aprender. Dificuldade do Pedrinho, Mateus Vital, marcação forte, jogo de Sul-Americana

Pedrinho contestou a avaliação do treinador, mas Vital foi ainda mais contundente. A relação de Vital e Carille não ficou boa e o meia acabou sacado da equipe titular nas partidas seguintes.

"Não, ninguém sentiu pressão, não. Faz parte. Por que pressão? Pegamos o Fluminense e jogamos, Fluminense é uma equipe grande, confronto parecido com esse, ninguém sentiu pressão nenhuma", disse Vital após o jogo de ida contra o Del Valle.

Quem também esbanjou sinceridade e falou em tom de crítica ao estilo de jogo adotado por Carille foi o centroavante Mauro Boselli. O argentino mostrou descontentamento com a falta de sequência e reconheceu que o sistema do Corinthians não beneficia o centroavante. O Timão é a terceira equipe que menos finaliza no Campeonato Brasileiro.

"Tem que perguntar ao treinador. Eu vejo, como atacante, que nas outras equipes os atacantes têm três quatro situações de gol por partida, enquanto temos de otimizar (as chances) que temos, porque aqui não tenho essa quantidade de situações", disse o Boselli.

Contradições

Se sobravam elogios à montagem do plantel durante o primeiro semestre, Carille começou a externar um novo discurso depois do jogo contra o Athletico-PR, na última quinta-feira, quando o Corinthians penou mais uma vez dentro de casa para arrancar um empate. Dessa vez o técnico não só fez críticas ao elenco como também lamentou o fato da diretoria não ter conseguido contratar outros jogadores na primeira janela de transferências.

"O clube tentou, o Andrés já falou, da possibilidade que teve com Gabigol, Rodriguinho e Roger Guedes (na janela de transferências do início do ano). A característica do nosso time, o Corinthians não conseguiu trazer esse jogador que jogue perto do 9. E é isso que falta pra gente hoje, jogador com mais ambição, que pisa mais na área"

A reflexão sobre o elenco prosseguiu após a derrota no clássico contra o São Paulo, no último domingo. Partida em que o Corinthians foi amplamente dominado e pouco conseguiu agredir o goleiro rival.

"Dificuldade não está na função dos jogadores, está no entender do jogo. A gente está com uma ideia que não é a do Corinthians, isso de muitos anos. Passa pelas características de jogadores que vêm de trás, como foi Rodriguinho, a gente sente muita falta desse jogador que flutue perto do nove. Entendimento está difícil"

Até o equilíbrio da equipe, tão elogiado no começo do ano pelo treinador, não recebeu a mesma avaliação nesse estágio da temporada.

Tem outras equipes que têm mais equilíbrio no elenco que a nossa. Pra gente falta profundidade, aqueles jogadores que se posicionam na frente. Tem equipes de menos expressão, mas que são mais equilibradas no elenco

Respostas da diretoria

Sempre que abordado sobre a situação de Carille, o presidente Andrés Sanchez, de maneira curta e grossa, nunca deixou de bancar o técnico. Mas também não poupou críticas ao futebol do Corinthians. As mais veementes após a classificação à final do Campeonato Paulista, depois de um sofrido jogo contra o Santos, e principalmente depois da derrota para o Independiente Del Valle, em Itaquera.

Duílio Monteiro Alves, diretor de futebol, sempre mais ponderado, não deixou lembrou na última quinta que toda a montagem do elenco teve o próprio Carille como mentor principal.

"Temos jogadores de qualidade, chegaram muitos nesse ano e todos que o treinador pediu".

Apesar de sempre sereno, Duílio subiu o tom na zona mista do Morumbi, no último domingo, ao saber que Carille havia voltado a bater na tecla de jogadores que a diretoria não conseguiu contratar no momento de justificar uma nova apresentação aquém da expectativa.

"A gente entende que o grupo é muito bom e teria que estar fazendo melhores jogos, tem que render mais", afirmou o cartola. "Não quero criar uma polêmica aqui, falar sobre isso. O que a gente tem que ter claro é quem está aqui, e a gente confia em quem está aqui. Reforçamos bastante o elenco, tem jogadores que ainda não se adaptaram. Quem não está aqui, não está aqui. Tem que pensar em fazer um bom futebol com quem está aqui, e tem condição disso"

Fábio Carille alcançou um patamar de insatisfação inédito desde que se tornou treinador de futebol há pouco mais de dois anos e meio. No Corinthians, onde sempre teve respaldo, o técnico vive uma semana decisiva. O Timão  enfrenta o Goiás na quarta-feira, no Serra Dourada, e volta a Itaquera para encarar o Cruzeiro no fim de semana.

Mais até do que a ausência de um bom desempenho em campo, as declarações do treinador não passaram despercebidas por jogadores e diretoria. A insatisfação interna é real e a irritação externa gera pressão. Problemas que Carille terá de resolver e contornar para que o Corinthians consiga o objetivo de alcançar a vaga na próxima Libertadores da América, e também pela própria sobrevivência no planejamento do clube para 2020.

Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
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