Corinthians sofre para manter esportes amadores, mas não cogita separar clube do futebol
O Corinthians apresentou superávit no primeiro trimestre de 2021. Os resultados financeiros no departamento de futebol têm melhorado a cada balancete. Em compensação, o clube social e os esportes amadores seguem sendo deficitários.
O balanço de março, por exemplo, o último a ser exposto pela diretoria alvinegra, fechou com R$ 3.535 milhões no azul.
O caixa do futebol obteve um resultado de R$ 24.547 milhões. Mas, a soma do clube social com os esportes amadores culminaram em R$ 21.012 milhões negativos.
O peso dos esportes amadores
A maior dificuldade do Corinthians para administrar as contas está relacionada às equipes amadoras, como futebol feminino, futebol base, esportes terrestres e aquáticos.
Novamente usando o resultado segmentado do balanço financeiro de março como parâmetro, a Gazeta Esportiva apurou que as modalidades, somadas, representaram cerca de 30% - aproximadamente R$ 8 milhões - da despesa.
O clube social foi responsável por outros 7% da despesa, equivalente a um montante que girou em torno de R$ 2 milhões.
A receita que entrou com clube social e esportes amadores, em março, foi de apenas R$ 5.969 milhões, ou seja, inferior ao que o clube tem de compromisso direcionado exclusivamente aos esportes amadores.
Dilema interno
Os números causam reflexões internas. Deixar de ter equipes de competição na elite de ligas e federações de esportes amadores é uma alternativa discutida no Corinthians, já que reduziria consideravelmente o passivo.
No entanto, ainda não há consenso sobre esse tema. Há quem defenda a importância do clube ter representatividade nesses meios.
Por ora, os times em questão seguem fazendo parte dos planos.
Busca por soluções
Para amenizar a crise, a diretoria comandada por Duilio Monteiro Alves entende que as modalidades amadoras precisam ter um trabalho de marketing focado por categoria, e devem conseguir seus patrocínios próprios.
Cada setor também teve de cortar cerca de 20% de sua despesa individual.
Outro objetivo é sanar a dívida com impostos atrasados. O intuito do clube é obter a Certidão Negativa de Débito junto ao Governo, o que pode proporcionar o recolhimento de restituição no Imposto de Renda e oportunidade de buscar incentivos fiscais.
Também são discutidas possibilidades de negociações com concessionários e venda de espaços para publicidade.
Não há crença de que o número de associados subirá muito nos próximos anos. A cultura e a mudança de hábito das pessoas, principalmente entre os mais jovens, remete a essa avaliação. E também resulta na opção por não subir o valor das mensalidades.
Grande e para poucos
O Corinthians conta com cerca de 15 mil sócios. Mas, aproximadamente 2.500 são mensalistas. Sócios remidos, vitalícios e dependentes de familiares são isentos de qualquer taxa.
O título familiar custa, por mês, R$ 200,00, enquanto o título individual sai por R$ 180,00.
Esse público tem à disposição um clube com uma área de 158 mil m². O espaço já serviu à 110 mil sócios no passado, e hoje a conclusão é que ele ficou grande e caro, devido à manutenção necessária e a redução brusca de usuários.
Agravante
A pandemia do coronavírus agravou o problema com tudo que envolve a rotina do Parque São Jorge. O número de inadimplentes aumentou, muitos sócios deixaram de frequentar o local por receio da covid-19 e, consequentemente, o consumo de produtos e serviços despencou.
Não vai separar
Os dirigentes corintianos estão convencidos de que a chance do clube social e os esportes amadores deixarem de ser deficitários a curto e médio prazos é praticamente nula. Mesmo assim, não há qualquer interesse da diretoria atual em desvincular o futebol do Parque São Jorge.
A decisão é baseada na tese de que ficaria ainda mais difícil manter a manutenção do espaço e mudar esse cenário. A 'bola de neve' levaria pouco tempo para se tornar insolucionável.
O contexto histórico e afetivo também não é deixado de lado. O clube social já bancou o futebol em outras épocas, e a ligação com a história corintiana é umbilical. Esses argumentos sempre são colocados à mesa para excluir qualquer ideia de separação.