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Chama se apagou, mas seu brilho foi forte durante os Jogos

1 mar 2010 - 22h43
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Juliet Macur
Do The New York Times, em Vancouver

A Olimpíada de Inverno, que começou em clima negativo com a morte de um dos atletas, foi encerrada no domingo em tom muito mais alegre.

Uma vitória da equipe masculina de hóquei do Canadá sobre os Estados Unidos, na última das disputas dos jogos, levou multidões de torcedores às ruas, onde eles comemoraram a medalha de ouro ¿ e os Jogos bem sucedidos, que uniram o país. Grupos de torcedores vestidos com o uniforme vermelho e branco do hóquei vencedor gritavam "Go Canada!" para celebrar a 14ª das medalhas de ouro, um recorde, que seu país conquistou em Vancouver.

Não muito tempo depois, no BC Place, mais uma celebração começava. Os cantores canadenses Alanis Morrissette, Avril Lavigne e Michael Bublé fizeram os 60 mil espectadores dançar. Os atores canadenses Michael J. Fox e Catherine O'Hara causaram risos.

Todos os detalhes ¿ até os espectadores equipados com chifres de alce feitos de espuma e os cantores de apoio em uniformes da polícia montada - serviam como lembrete de quem havia organizado os Jogos.

Assim, a despeito do início choroso da Olimpíada, 16 dias atrás, os Jogos terminaram em tom positivo, exatamente como esperava o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge.

"Sabia que os jogos seriam um sucesso, ainda que no começo parecessem um tanto sombrios, com problemas reais e os entraves costumeiros", ele disse no sábado, em referência a um início complicado, marcado por diversos problemas, entre os quais o clima quente demais para a temporada.

Na noite da cerimônia de abertura, as bandeiras ficaram a meio mastro para honrar Nodar Kumaritashvili, atleta georgiano do luge morto em uma sessão de treinamento naquela tarde. Descendo a pista a 145 km/h, ele perdeu o controle em um circuito criticado por sua velocidade excessiva, e bateu contra uma viga. A morte dele levou os organizadores a modificar a posição de largada e o contorno do circuito.

Rogge e John Furlong, o presidente do Comitê Organizador dos Jogos, mencionaram Kumaritashvili em seus discursos de encerramento.

"Lamentamos muito a sua perda", disse Furlong, falando à Geórgia. "Que o legado desse filho querido jamais seja esquecido e sirva para inspirar sua juventude a vencer no campeonato da vida."

Rogge declarou no sábado que a morte havia sido difícil de aceitar, para ele, alegando que sentia pesar e dor pelo acontecido, e que havia passado noites em claro se preocupando com o incidente.

Rogge comparou a morte de Kumaritashvili aos atentados nos Jogos de Atlanta, em 1996, e nos Jogos de Munique, em 1972, este último resultando no assassinato de 11 atletas e técnicos israelenses. Rogge era atleta da delegação belga em 1972, no iatismo, e considerou abandonar os jogos devido ao que definiu como "horror e pesar". Mas optou por permanecer, em respeito às pessoas que haviam ajudado em seu treinamento.

Ele afirmou que a experiência ensinou que os jogos perdurarão, não importa que tragédias ou revezes enfrentem. Por isso, quando Kumaritashvili morreu, ele prometeu seguir adiante. Um comitê conduzirá um inquérito sobre o acidente.

"É nossa responsabilidade moral evitar que coisas como essa se repitam no futuro", disse.

Ele afirmou que o COI já havia contatado os organizadores dos Jogos de Inverno de 2014, em Sochi, Rússia, para informá-los de que a pista dos esportes de trenó precisa ser segura. E disse estar confiante em que os russos estivessem preparados para os Jogos, e para promover o sucesso de seus atletas.

Em Vancouver, os russos saíram decepcionados, conquistando apenas três medalhas de ouro, e um total de 15. Pela primeira vez em 50 anos, eles não levaram ouro na patinação artística.

Mas o Canadá, competindo pela primeira vez em casa, não enfrentou decepção semelhante. A glória das medalhas de ouro coube repetidamente aos anfitriões, com Alexandre Bilodeau liderando o quadro. Ele venceu aprova de moguls no esqui masculino, e se tornou o primeiro canadense a obter o ouro em casa. Na semana que passou, os canadenses se saíram muito bem, e terminaram conquistando o maior número de medalhas de ouro dos jogos.

"Alexandre, aquele seu primeiro ouro deu a todos nós a permissão de nos sentirmos e comportarmos como campeões. E a nossa última será recordada por gerações", disse Furlong, em referência ao ouro do time canadense de hóquei masculino, conquistado com vitória sobre os Estados Unidos.

A despeito da derrota final, o desempenho da equipe olímpica americana também foi histórico, com um total de 37 medalhas, o maior já obtido em uma Olimpíada de Inverno pelo país.

Apolo Ohno, um patinador de velocidade, venceu três medalhas e se tornou o mais premiado americano na história dos Jogos de Inverno, com um total geral de oito medalhas. Bill Demong, atleta do combinado nórdico, levou o primeiro ouro americano naquela modalidade. Bode Miller ficou com o ouro do supercombinado, o que representa o melhor desempenho olímpico do esqui alpino masculino desde 1984.

"Não importa quais fossem as nossas projeções, seria difícil negar que as superamos", disse Scott Blackmun, presidente do Comitê Olímpico dos Estados Unidos. "A equipe se saiu muito bem, mas isso era o que esperávamos deles. E no entanto se saíram ainda melhor do que nossas expectativas."

Alguns atletas americanos, entre os quais a esquiadora alpina Lindsey Vonn, não conseguiram realizar as fortes expectativas que existiam quanto a eles. Vonn chegou aos Jogos com o objetivo de levar cinco medalhas, mas saiu com um ouro, no esqui downhill, e um bronze. Ainda assim, definiu a Olimpíada como a melhor de que já participou, dado o clima acolhedor.

"No final, saio feliz dos jogos porque fiz o melhor que pude", ela declarou.

Vonn teve mais alguns dias para repousar o tornozelo lesionado, devido aos atrasos causados pelo mau tempo nas montanhas. Já o local das provas de snowboard e esqui estilo livre, Cypress Mountain, enfrentou problema pior: a falta de neve.

Com a aproximação dos Jogos, o clima quente levou os organizadores a correr para providenciar o inverno que os jogos requerem. Toneladas de neve foram transportadas ao local, de helicóptero e caminhão. Mas 28 mil ingressos tiveram de ser restituídos porque as condições do solo seriam perigosas demais para a presença de espectadores.

Mas a competição prosseguiu, com vitórias como a do americano Shaun White, vencedor de uma nova medalha de ouro no halfpipe.

E a despeito dos problemas na pista de trenó, com muitas capotagens de trenós, a equipe quádrupla de bobsled dos Estados Unidos venceu sua primeira medalha olímpica em 62 anos.

No final, o Canadá conseguiu encerrar a Olimpíada de forma ordenada, o que incluiu corrigir a falha da noite de abertura, na qual a patinadora canadense Catriona LeMay Doan ficou com a tocha olímpica nas mãos mas sem pira para acender, porque a pira olímpica não havia subido como devia. No final, tudo funcionou como previsto, para aplauso dos presentes. A patinadora enfim acendeu a pira, indicando que os Jogos haviam sido realizados com sucesso.

A marca dominante dos Jogos, porém, foi o desempenho do Canadá, disse Rogge. Nada torna uma Olimpíada melhor que o sucesso do país anfitrião. Foi por isso que a vitória de Bilodeau foi tão importante.

"O Canadá despertou, e os Jogos e o resto mundo também", disse Rogge.

Tradução de: Paulo Migliacci

Canadá superou a falha na abertura da Olimpíada, mas se redimiu com a consagração no final
Canadá superou a falha na abertura da Olimpíada, mas se redimiu com a consagração no final
Foto: AP
The New York Times
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