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Fã de Nash e Kidd, Huertas vê Heat como favorito ao título da NBA

9 nov 2012 - 08h04
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Mesmo longe das quadras de basquete dos Estados Unidos, Marcelo Tieppo Huertas não deixa de ficar de olho em seus companheiros brasileiros que estão atuando na NBA. Nesta temporada, um recorde de seis representantes do país estão jogando na liga norte-americana, o que, na visão do armador da Seleção Brasileira, só contribui para o crescimento da modalidade aqui no Brasil.

Com sua carreira quase que inteira construída no basquete da Europa, Marcelinho Huertas sentiu a admiração do público norte-americano quando disputou um amistoso contra os Estados Unidos antes das Olimpíadas em Washington. Ele atraiu não só a atenção da imprensa norte-americana, como do técnico adversário, Mike Krzyzewski, que questionou por que aquele camisa 9 ainda não estava na NBA. E tudo isso só deixou o armador do Brasil ainda mais feliz, mesmo que, para ele, a realidade hoje se encontre muito longe do país onde seu grande ídolo, Michael Jordan, nasceu.

Atualmente vestindo a camisa azul-grená do Barcelona Regal, Huertas concedeu uma entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, na qual falou sobre seus conterrâneos que jogam na NBA e projetou a temporada da liga norte-americana, a admiração pelos armadores Steve Nash e Jason Kidd, basquete europeu e a experiência olímpica em Londres, algo que muitos atletas não têm o privilégio de participar.

Gazeta Esportiva.net: Como você está vendo essa massiva entrada de brasileiros na NBA, com recorde histórico na liga (seis jogadores), inclusive no multicampeão Boston Celtics, que agora tem o Leandrinho e o Fab Melo?

Marcelinho Huertas: Para o nosso basquete é importantíssimo que jogadores triunfem fora do nosso País, jogando em ligas tão importantes como a NBA. Hoje em dia, a gente tem jogadores bem estabilizados lá, como é o caso do (Tiago) Splitter, do (Anderson) Varejão, do Nenê, do próprio Leandrinho, que estão na NBA há muito tempo. Agora esses jogadores novos como o Fab Melo e o Scott Machado conquistaram esse espacinho aí e estão começando a carreira como jogadores profissionais. Isso é um privilégio e temos que tentar tomar o maior proveito disso e que sirva no nosso futuro, não só deles, nas carreiras individuais, mas também para o nosso basquete de uma maneira geral.

GE.net: Você tem amizade mais próxima com os brasileiros que atuam com você na Seleção Brasileira e estão na NBA?

Huertas: Mantenho muito contato, principalmente com o Varejão e com o Splitter. Com o Leandrinho também tenho. Enfim, os jogadores que eu acabo vendo na Seleção são aqueles com quem mantenho contato, porque temos um relacionamento muito bom.

GE.net: Você é muito amigo do espanhol Ricky Rubio, que joga no Minnesota Timberwolves atualmente. Como é a sua relação com ele? Vocês mantêm contato desde a época em que jogaram juntos na Europa?

Huertas:  A gente mantém contato. Há muito tempo a gente se conhece. Começamos no (Joventud) Badalona, onde fizemos uma amizade bem legal. É um dos jogadores com que eu tenho a felicidade de poder ter jogado com e contra ele, e realmente é um prazer ter a amizade de um grande craque como o Ricky Rubio.

GE.net: E você chegou a atuar no basquete de colegial nos Estados Unidos, mais especificamente no Texas. Destacaria alguma diferença do jogo europeu para o norte-americano?

Huertas: O basquete americano é muito mais físico, dependente do talento, da capacidade de um contra um, da sua capacidade física, explosiva. Aqui na Europa é muito mais valorizado o entendimento do jogo, os conceitos, a própria tática, a técnica individual, que são coisas muito trabalhadas e não tão voltadas ao que é o físico e o jogo individualista que a gente acaba vendo muitas vezes nos jogadores da NBA.

GE.net: Neste ano, antes das Olimpíadas, vocês tiveram um amistoso com os EUA em Washington e a imprensa americana e o público comentaram muito sobre seu estilo de jogo, por ser um armador bem técnico que poderia jogar na NBA. Como se sentiu após receber elogios por parte de um país em que o basquete é um dos esportes mais populares?

Huertas: É uma coisa que te deixa feliz. É gratificante escutar muita gente falar a respeito do seu nome, ser capaz de ser um jogador importante de uma liga como a NBA. É claro que isso aí te deixa feliz e motiva mais a seguir trabalhando e trilhando esse caminho rumo ao sucesso na minha carreira. Para mim, foi um prazer e claro que uma coisa muito, muito boa de ouvir. Agradeço as pessoas que me elogiaram e que fizeram desse amistoso uma coisa importante, não só para mim. Foi uma vitrine muito boa, principalmente pela maneira como nós jogamos.

GE.net: Você teve uma passagem curta pelo basquete italiano, pelo Bologna. Sentiu muita diferença do basquete praticado na Itália e na Espanha?

Huertas: Foi um ano muito complicado, cheio de problemas. É um basquete que tem muitos norte-americanos, o que faz com que o jogo e as organizações sejam diferentes. Então, os clubes são um pouco diferentes do que aqui na Espanha, onde tudo é levado muito mais a sério. Enfim, acho que a Espanha continua avançada em relação ao que é organização, em termos de campeonato mesmo, em relação à Itália. Foi uma opção que eu tive naquele ano de tentar jogar em outro país e conhecer outros lugares, mas, realmente, o meu lugar é na Espanha e eu pretendo ficar aqui por muito tempo ainda.

GE.net: Você acompanha bastante o basquete ao redor do mundo, dos EUA, assiste a jogos de outros países?

Huertas: Eu tento assistir, mas geralmente os que eu posso assistir mais são os jogos aqui da Europa, porque a gente tem mais acesso, tem mais facilidade. Da NBA é complicado por causa do fuso horário daqui. É realmente difícil assistir jogos que são de madrugada, por volta de duas ou três da manhã. Claro que eu acompanho os resultados, sempre estou de olho no que os meus amigos fazem na NBA. Acompanho os melhores momentos, e tudo o mais, mas ver jogo mesmo é mais complicado.

GE.net: Você se inspira atualmente em algum jogador da NBA? Qual time que você acha que tem mais chance de ganhar o título da liga nesse ano?

Huertas: Sempre gostei muito do jogo do Steve Nash e do Jason Kidd, que são jogadores que fazem o time jogar de uma maneira brilhante. Eles têm uma técnica, um talento fora do comum. Hoje em dia, claro que cada jogador tem a sua maneira de jogar e que você sempre deve aprender coisas boas de outros jogadores, mas cada um tem a sua característica e você não pode ficar tentando imitar um outro tipo de atleta, a não ser que você queira aprender coisas positivas de cada um deles. Em relação a esse ano, o Miami (Heat) continua sendo um dos grandes favoritos. Tem outros times que podem acabar pegando, como o Boston (Celtics), que é um time muito ‘chato’. O Los Angeles (Lakers) montou um time bom esse ano, apesar de que não fez uma boa pré-temporada e iniciou a liga com derrota também. O San Antonio (Spurs), o próprio Oklahoma (City Thunder), enfim, são vários times que têm chances de chegar longe, mas quem continua favorito para mim esse ano ainda é o Miami.

GE.net: Ano passado teve o caso da ameaça de locaute na NBA e os irmãos Pau e Marc Gasol foram treinar com vocês no Barcelona. Como foi a experiência, tanto por eles terem contato com o time do Barcelona, que atua em um basquete diferente, como também de vocês terem contato com eles, que estão jogando nos Estados Unidos?

Huertas: Os irmãos Gasol são jogadores que eu conheço muito bem, tenho uma amizade com eles há muito tempo e para a gente realmente é um privilégio treinar com jogadores que elevavam o nível dos treinamentos a uma dificuldade muito boa. A competitividade aumentava nos treinos e para a gente foi uma forma de treinamento muito boa, que realmente rendeu frutos para os nossos jogos aqui nos campeonatos, tanto no Espanhol, como no Europeu.

GE.net: Em 2012, a Seleção Brasileira voltou às Olimpíadas após 16 anos de jejum. Qual foi a sensação de fazer parte de grupo que conseguiu retornar à maior competição do esporte, o que não acontecia desde Atlanta-96? Como foi trabalhar com o Rubén Magnano e ter a experiência em Londres?

Huertas: A experiência em Londres foi única para todos nós, muito positiva. Mesmo sendo a primeira vez que todos nós tivemos a oportunidade de jogar as Olimpíadas, a forma como nós jogamos, a forma que a gente se apresentou para o mundo, jogando de igual para igual com todos os países, foi uma coisa muito positiva e que rendeu não só comentários bons, mas muitos frutos. Ano passado conseguimos essa vaga olímpica tão desejada e esse ano, nas Olimpíadas, voltamos a mostrar para todo mundo que a gente pode bater de igual para igual contra qualquer time. Então a experiência foi muito positiva. O Rubén tem um peso muito grande nisso, por ser o técnico que ele é, a maneira como ele sabe levar o time, pela sua experiência, enfim, pela sua vivência, a carreira que ele tem, os títulos. Então foram uma série de fatores que levaram o nosso basquete para o topo outra vez.

GE.net: Como você avalia essa chegada de técnicos estrangeiros para o basquetebol brasileiro, por exemplo com o Magnano, e no próprio NBB (Novo Basquete Brasil), com técnicos espanhóis chegando , como no Mogi das Cruzes (Francisco Paco Garcia)? Você acha que é positivo ou isso mostra que ainda precisamos formar técnicos aqui no Brasil?

Huertas: O ideal seria que a gente formasse mais técnicos de qualidade, que soubessem realmente elevar o nosso basquete. O Rubén tem feito um trabalho muito importante, não só na Seleção adulta, como também nas Seleções de base, dando também esses cursos para os técnicos novos que estão começando. A gente tem uma safra de jovens técnicos nacionais com futuro promissor, mas o mais importante é que eles se interessem em aprender e saber conceitos novos, que eles abram a cabeça para viajar, conhecer. Ele tem que ter esse interesse em realmente melhorar como técnico, e não só pensar na sua carreira em clubes. O mais importante é que a gente saiba aceitar que, hoje em dia, nós temos técnicos com potencial no Brasil, mas que fora, realmente, a gente pode aprender muito mais. Para os nossos técnicos é importante aproveitar essa presença do Rubén para tentar sacar o máximo de proveito de ter esse cara aí com a gente na Seleção, ajudando a desenvolver o nosso basquete, para que no futuro possam ser técnicos internacionais de primeiro nível.

GE.net: Desses novos nomes que você falou, gostaria de destacar algum que você conhece e que pode ter um futuro bom como técnico?

Huertas: Eu conheço um deles muito bem, que é o Gustavo De Conti, o técnico do Paulistano. É realmente um cara que jogou, foi armador, sabe o que é o basquete. Claro que é ainda muito jovem, mas, se continuar trabalhando da maneira como trabalha e se interessar por aprender, viajar e ter contato com o basquete internacional, assim como já teve uma primeira oportunidade no Campeonato Sul-americano,  quem sabe pode ser um dos nossos grandes técnicos.

Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
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