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Rio e São Paulo abrem guerra para receber o GP do Brasil de Fórmula 1

Prefeitos e governadores exaltam projetos e criticam concorrentes no objetivo de atrair a categoria

11 mai 2019 - 04h40
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A disputa para ser sede do GP do Brasil de Fórmula 1 a partir de 2021 virou uma concorrência direta entre os governos e as prefeituras das duas maiores cidades do País, Rio de Janeiro e São Paulo. Os dois lados garantem ter as melhores condições para receber a prova, assim como não se esquivam de criticar possíveis defeitos dos concorrentes, como a falta de estrutura ou a existência de dívidas e pendências com a categoria.

Depois de na quarta-feira o Rio ter celebrado a assinatura de um termo de compromisso para construir um novo autódromo, no bairro de Deodoro, São Paulo também se mobilizou. O governador João Doria e o prefeito Bruno Covas se reuniram na manhã de sexta-feira no Palácio dos Bandeirantes para conversar sobre a continuidade de Interlagos no calendário.

Ao contrário do que disse na quarta-feira o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, Doria e Covas garantem que não há qualquer possibilidade de a corrida do ano que vem ocorrer no futuro autódromo carioca. Os paulistas se respaldam no contrato em vigor que garante a realização da prova na cidade pelo menos até a temporada 2020. "Temos contrato assinado com os promotores da Fórmula 1, com cláusulas rigorosas e multas pesadas, mas valores confidenciais", comentou Doria.

O governador afirmou que São Paulo continua como favorita no páreo pelas condições de estrutura de Interlagos e pela situação do projeto do novo autódromo carioca. O terreno do possível circuito, segundo Doria, está longe de ter condições para virar uma pista. "Eu já sobrevoei o campo de Deodoro. Não tem nada, rigorosamente nada lá. Como imaginar que um investimento que não existe, que não está traçado, pode virar um autódromo para a Fórmula 1?", questionou o governador.

O Rio quer construir um autódromo de R$ 700 milhões, com capacidade para 130 mil pessoas. O montante viria de recursos privados, com a concessão da área por 30 anos. O projeto da nova pista foi elaborado pelo consórcio Rio Motorsports. A licitação para a obra ainda não foi lançada e depende da liberação da Câmara Municipal.

Bolsonaro disse na quarta-feira que, se não fosse o projeto carioca, o Brasil estaria fora do calendário da Fórmula 1, pois indicou existir uma dívida da organização do GP em Interlagos com o comando da categoria. "Como havia participação pública e uma dívida enorme, tornou-se inviável a permanência da Fórmula 1 lá (em São Paulo). Então, vieram para o Rio de Janeiro", disse o presidente.

Os organizadores da prova no Rio afirmam que São Paulo não paga à Fórmula 1 desde 2017 a taxa de promoção, cobrada anualmente pela categoria de cada uma das empresas promotoras das etapas e não do poder público. O valor é variável para cada país-sede e, no caso do Brasil, está avaliado em cerca de R$ 120 milhões.

Segundo relatório do Fórmula Money, grupo de pesquisa especializado em finanças e contratos da categoria, no último ano somente duas provas do calendário não pagaram a taxa de promoção. Uma delas é Mônaco, dispensada do pagamento pela relevância histórica, e a outra é o Brasil, que teve a cobrança cancelada porque não tinha recursos financeiros.

Procurada pelo Estado, a empresa promotora do GP, a Interpub, negou ter dívidas e garantiu que paga todos os anos a taxa. Além disso, afirma que, por São Paulo ser a atual sede da corrida, teria a preferência na renovação do contrato.

NEGOCIAÇÃO

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, disse ontem que a informação passada por Bolsonaro sobre corrida no Rio de Janeiro em 2020 está equivocada e garantiu que já negocia renovação do contrato para Interlagos. "Desde o fim do último GP, iniciamos as tratativas para renovar contrato a partir de 2021. Durante esse período todo, não tivemos resistência alguma", contou.

Covas aguarda a vinda do chefe da Fórmula 1, Chase Carey, para São Paulo no próximo mês para continuar com as negociações. Ao mesmo tempo, o Rio de Janeiro espera na semana que vem uma reunião com a diretora global da categoria para promoção e negócios, Chloe Targett-Adams.

QUATRO PERGUNTAS PARA...

J.R. Pereira, diretor do Rio Motorsports

O projeto carioca requer um alto investimento privado. Como vocês teriam retorno do valor aplicado?

Vejo muita gente comentando o projeto e questionando sua viabilidade e capacidade de retorno. É normal não se enxergar isso com facilidade. Mas a premissa básica que se precisa compreender é que esse empreendimento não está limitado a uma praça de automobilismo. Se fosse só isso, de fato, não haveria o retorno necessário. Nosso plano prevê uma diversidade bastante ampla de ações, que vai desde espaços para outros esportes, eventos de outras áreas, ativações variadas e, até, espaço para desenvolvimento da indústria automobilística, como montadoras e fornecedores de combustível.

As autoridades paulistas avisaram nesta sexta-feira que em junho terão uma reunião para negociar com a F-1. Como vocês analisam essa informação?

Não tenho autoridade para comentar as reuniões anunciadas pelo governo paulista, mas posso garantir que eles vão perder tempo e gastar o dinheiro do povo de São Paulo à toa. Isso se essa reunião acontecer.

A Fórmula 1 tem negociado ao mesmo tempo com as duas cidades?

O termo negociação pode ser entendido de muitas formas. São Paulo procurar a F-1 querendo renovar não significa necessariamente que isso é uma negociação. Eu, particularmente, entendo que esse termo só se aplica quando as duas partes se movimentam no sentido de um acordo. Não é isso que está acontecendo.

Quanto tempo o autódromo do Rio levaria para ficar pronto se levado em consideração os cenários mais positivos?

A questão é que o trabalho não terá início, necessariamente, a partir do momento da definição do vencedor da concorrência. Se formos os contemplados, e não houver nenhum fator externo posterior, em 14 meses o autódromo estará pronto. Nossos estudo tiveram início há mais de dois anos. O Hermann Tilke (arquiteto alemão) segue desenvolvendo o projeto em seu escritório enquanto não se define a concorrência.

Estadão
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