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Por que sorte é só um fator para Williams virar equipe viciada em pontuar na Fórmula 1

Pode até parecer, mas a sorte não é a única chave para a Williams sair do zero depois de dois anos sem pontuar para virar praticamente um habitué do top-10 da Fórmula 1

21 set 2021 - 04h02
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Williams faz um trabalho digno de aplausos ao sair do fundo do poço na F1
Williams faz um trabalho digno de aplausos ao sair do fundo do poço na F1
Foto: Williams / Grande Prêmio

Outrora acostumada a viver grandes glórias na Fórmula 1, a Williams, detentora de nada menos que 114 vitórias, 128 poles, 313 pódios e nove títulos do Mundial de Construtores, viveu uma inacreditável seca de dois anos sem um mísero ponto. Entre o GP da Alemanha de 2018, quando Robert Kubica foi alçado a décimo lugar depois das punições impostas a Kimi Räikkönen e Antonio Giovinazzi, até o insano GP da Hungria, a lendária equipe de Grove passou por mudanças, foi vendida, mudou de mãos e ganhou um novo CEO e chefe de equipe com a chegada do alemão Jost Capito. George Russell, na melhor fase da sua ainda curta trajetória na F1, finalmente conseguiu corresponder, e até Nicholas Latifi, contestado por ser um piloto pagante, mostrou competência e bom trabalho e garantiu seu primeiro top-10 na carreira.

Nas últimas quatro corridas, a Williams somou nada menos que 22 pontos, deixando as adversárias do fim do pelotão, Alfa Romeo e Haas, bem para trás. Neste período, Latifi chegou a andar no começo do caótico GP da Hungria em terceiro, George Russell fez uma volta fenomenal no molhado durante a classificação em Spa-Francorchamps — que lhe valeu o segundo lugar no grid e, consequentemente, seu primeiro pódio na F1 na não-corrida na Bélgica — e voltou a pontuar com o nono lugar no GP da Itália.

A soma das circunstâncias nas corridas citadas, como o múltiplo acidente na largada em Hungaroring, o caos com o temporal e a corrida que não houve em Spa e a batida entre Lewis Hamilton e Max Verstappen no GP da Itália podem até dar a impressão de que os pontos obtidos pela Williams foram fruto meramente da sorte. Claro que tal fator foi importante, sim, mas não foi só isso que tornou a gloriosa equipe, que não vence desde o GP da Espanha de 2012, com Pastor Maldonado, uma nova viciada em pontuar na F1.

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Não é só sorte: a Williams deu um passo real à frente em termos de competitividade
Não é só sorte: a Williams deu um passo real à frente em termos de competitividade
Foto: Williams / Grande Prêmio

De fato, hoje a Williams ocupa a condição que lhe é merecida na tabela do Mundial de Construtores: um grande degrau acima de Alfa Romeo e muito à frente da Haas, mas ainda atrás das demais postulantes do pelotão intermediário como Aston Martin, AlphaTauri e Alpine. É nítido que o desempenho do carro melhorou de forma consistente, e prova disso foi a luta de Russell com Fernando Alonso nas voltas finais do GP da Áustria. E isso sem grandes atualizações desenvolvidas para o FW43B, um bólido que é bom, não compromete e é empurrado pelo excelente motor Mercedes.

Mas mesmo em situações mais atípicas, como no encharcado GP da Emília-Romanha, George estava lá perto, rondando a zona de pontuação. Só faltou um pouco de calma, naquela situação, para confirmar os primeiros pontos pela Williams. Pontos que vieram a partir do GP da Hungria e, daí em diante, a equipe emendou uma sequência das mais positivas.

E de maneira que ficou mais nítida nas últimas etapas, o ritmo de corrida da Williams melhorou muito, a ponto de Russell e também Latifi conseguirem lutar com os carros da Aston Martin e até da Alpine, como aconteceu em Monza.

Os tempos de calvário ficaram para trás: hoje, a Williams é bem mais competitiva na F1
Os tempos de calvário ficaram para trás: hoje, a Williams é bem mais competitiva na F1
Foto: Williams / Grande Prêmio

"É muito bom ver isso. Jamais imaginaria isso no começo da temporada. Também acho que o progresso que fizemos de sexta a sábado para a corrida foi muito impressionante. E isso é o principal", explicou Jost Capito, que em entrevista à revista britânica Autosport reconheceu que a sorte sempre ajuda.

"Precisávamos de sorte, já que os dois caras da frente abandonaram. Sem isso, não teríamos pontos", afirmou o alemão depois do desfecho do GP da Itália. "Claro que George teve sorte com o safety-car. E Nicky [Latifi] não teve sorte. Ele fez uma ótima corrida, mas teve azar com o safety-car [com o acidente entre Hamilton e Verstappen] porque ele estava à frente do Grosjean e poderia manter aquela posição", salientou o chefe e CEO da Williams.

Também é importante salientar a notável melhora do 'herói improvável' Latifi. Mesmo notoriamente com nível técnico inferior ao do companheiro de equipe, o canadense veio no embalo e aproveitou evolução em ritmo de corrida do carro nas últimas etapas e também evoluiu de maneira sensível, sobretudo em ritmo de corrida.

A grande jornada na Hungria encheu Nicholas de confiança. O filho do empresário iraniano Michael Latifi esteve entre os dez primeiros na não-corrida em Spa e quase voltou a pontuar novamente no GP da Itália ao terminar em 11º lugar.

A Williams tem muito a comemorar desde a volta aos pontos no GP da Hungria
A Williams tem muito a comemorar desde a volta aos pontos no GP da Hungria
Foto: Williams / Grande Prêmio

"Ele é muito forte, está cada vez melhor. Acho que agora temos de trabalhar para que ele mantenha a confiança porque ele teve finais de semana muito fortes, mas teve um pouco de azar na comparação com George. Espero que algum dia ele tenha a sorte ao seu lado", afirmou Jost Capito.

Pode parecer pouco diante da história gloriosa da Williams, mas quando se trata do contexto atual, o oitavo lugar no Mundial de Construtores é uma boa notícia para uma equipe mais estável financeiramente, mas que não pode dispensar alguns milhões de euros a mais em termos de premiação. O fundo do poço está cada vez mais longe.

Ao mesmo tempo em que organiza a casa, a equipe de Grove tem como missão se ajustar para levar a vida adiante depois da saída de Russell. Claro que nenhum piloto é insubstituível, mas é inegável que o prodígio britânico trouxe grande qualidade ao time ao mesmo tempo em que amadureceu bastante nos três últimos anos antes de trilhar seu caminho rumo à Mercedes em 2022.

Até mesmo neste aspecto, a Williams acerta demais quando assina com Alex Albon, outro piloto de notável talento e que, na escuderia de Grove, vai trabalhar sem a mesma pressão dos tempos de Red Bull e terá pela frente uma estrada mais tranquila para mostrar sua capacidade.

Os ingredientes estão na mesa, e a McLaren, que viveu calvário semelhante ao da Williams há poucos anos, serve como enorme referência. Assim como a equipe de Woking se reconstruiu, renasceu e até antes do esperado voltou a vencer na Fórmula 1, nada impede que a coirmã de Grove siga caminho parecido. Difícil imaginar que aquela equipe do 'carro de outro planeta' volte a dominar o Mundial como aconteceu, por exemplo, no começo dos anos 1990. Mas não se pode nunca duvidar do poder de superação e reação de uma escuderia que leva o lendário sobrenome Williams sempre no seu DNA.

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