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Por que Hamilton endureceu e não tirou pé em luta com Verstappen no GP da Inglaterra

Ao menos em outras três vezes nesta temporada, Max Verstappen jogou duro em disputas lado a lado com Lewis Hamilton, que evitou o confronto e tirou o pé. Mas a postura do heptacampeão no polêmico GP da Inglaterra foi diferente. Há um ponto crucial que diferencia o que aconteceu em Silverstone das ocorrências em Sakhir, Ímola e Barcelona

22 jul 2021 - 04h02
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Lewis Hamilton lado a lado com Max Verstappen na largada do GP da Inglaterra
Lewis Hamilton lado a lado com Max Verstappen na largada do GP da Inglaterra
Foto: Lars Baron/Getty Images/Red Bull Content Pool / Grande Prêmio

Passados bons dias depois do explosivo GP da Inglaterra de Fórmula 1 e da polêmica primeira volta da corrida em Silverstone, vale analisar o ocorrido sob um prisma diferente. Afinal, Lewis Hamilton e Max Verstappen abriram a temporada entregando, desde o GP do Bahrein, o prenúncio de uma grande rivalidade e travaram boas batalhas. A disputa nas voltas finais em Sakhir, onde Max fez uma ultrapassagem arriscada em cima do heptacampeão do mundo, ainda está na retina. Como também estão na memória, por exemplo, confrontos duros e leais entre os dois nos GPs da Emília-Romanha, em Ímola, e também no GP da Espanha, em Barcelona. Todos eles ficaram no limite mínimo do toque e de algo que virou realidade no último domingo (18). Em todas as batalhas mencionadas acima, Hamilton de certa forma tirou o pé e evitou o contato. Desta vez, correndo em casa, foi diferente.

O diferente aí não diz respeito ao acidente sofrido por Verstappen em uma disputa roda a roda com Hamilton. Até porque tal cenário também poderia ter acontecido em Sakhir, Ímola ou em Barcelona. Não há o que se discutir sobre as batalhas duras, porém justas, entre os dois. São dois pilotos enormes. Gigantes. Só que acidentes acontecem. 'Motorsport is Dangerous'.

O grande ponto que tornou a batalha de Silverstone bastante distinta na comparação com as demais brigas, ocorridas quando o campeonato se desenrolava ainda sem uma ordem de forças muito clara, diz respeito principalmente ao momento de cada um dos pilotos no campeonato.

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Lewis Hamilton vai vender caro título da temporada 2021 contra Max Verstappen
Lewis Hamilton vai vender caro título da temporada 2021 contra Max Verstappen
Foto: LAT Images/Mercedes / Grande Prêmio

Se levado em conta todo o cenário que estava desenhado às vésperas do início da temporada, de melhora notável da Red Bull contra uma Mercedes ainda como primeira força, mas com a dominância incerta, nas primeiras disputas era Verstappen o franco-atirador contra um Hamilton disposto a manter a hegemonia. Foi essa a postura vista no GP do Bahrein, por exemplo, onde tudo indicava que Max pudesse levar a vitória. Mas a ultrapassagem feita em cima do britânico, de forma irregular e passando além dos limites de pista, o levou a devolver a posição ao rival que, por consequência, manteve a dianteira e venceu em Sakhir.

Em Ímola, Verstappen partiu para o tudo ou nada porque sabia que precisava muito daquela vitória. O piloto do carro #33 largou em terceiro, atrás de Hamilton e de Sergio Pérez, no asfalto molhado do circuito italiano. O holandês tracionou melhor que o companheiro de Red Bull e colocou o carro lado a lado com Hamilton na entrada da chicane da Tamburello. Max ganhou o espaço em disputa onde os dois quase se tocaram e Lewis quase foi para a brita e levou a melhor. Verstappen partiu para uma vitória contundente na Emília-Romanha.

Já no GP da Espanha, Verstappen sabia que não tinha o carro mais rápido e nem o mesmo ritmo de Hamilton. Por isso, apostou tudo na largada. Colocou novamente o carro lado a lado com a Mercedes #44 de Lewis na entrada da primeira curva, novamente em batalha que por pouco não resultou em um toque, e fez a ultrapassagem. No entanto, a equipe liderada por Toto Wolff lançou mão de uma estratégia de duas paradas para troca de pneus, contra uma da Red Bull com Verstappen, e aproveitou o melhor ritmo para superar o rival nas voltas finais e levar a vitória.

Só que a corrida seguinte, o GP de Mônaco, representou uma espécie de divisor de águas na temporada. Porque foi a partir daquele momento que a Red Bull começou a dar as cartas de forma dominante na F1. Os taurinos venceram todas as corridas desde então: Mônaco, França, Estíria e Áustria, com Verstappen, e o GP do Azerbaijão, vencido por Pérez. A prova em Baku só não teve Max no topo do pódio em razão do infortúnio com o estouro do pneu traseiro esquerdo nas voltas finais, quando o dono do carro #33 rumava para a vitória e tinha uma boa vantagem na ponta.

Verstappen jogou duro contra Hamilton em Ímola, por exemplo: Lewis tirou o pé para evitar a batida
Verstappen jogou duro contra Hamilton em Ímola, por exemplo: Lewis tirou o pé para evitar a batida
Foto: Honda Racing / Grande Prêmio

Depois da derrota da Mercedes na rodada tripla formada pelos GPs da França, Estíria e Áustria, o jogo havia virado e era completamente diferente do fim de março, no Bahrein. Se naquele início de campeonato o jogo parecia parelho, com a Red Bull um pouquinho melhor que a equipe de Brackley, após nove provas os taurinos que despontavam como a força dominante contra uma Mercedes nas cordas.

Era preciso reagir de alguma forma em Silverstone ou deixar de vez a luta pelo título e focar em 2022. Era a Mercedes quem vestia a condição de franco-atiradora.

Uma das últimas cartadas da Mercedes foi o pacote de atualizações desenvolvidas para o W12. Só com um carro melhor e bastante evoluído era que Hamilton teria alguma chance de brigar contra um Verstappen cada vez mais retumbante.

Antes do GP da Inglaterra, Verstappen tinha 32 pontos de vantagem no Mundial de Construtores, enquanto a Red Bull estava 44 tentos à frente da Mercedes. Ou seja, uma nova vitória do holandês e dos taurinos teria quase o poder de xeque-mate no campeonato mesmo restando ainda 12 corridas previstas para o fim da temporada. Só uma vitória de Hamilton poderia ainda prolongar a briga por mais algum tempo.

Lewis venceu a primeira batalha do fim de semana em Silverstone na sexta-feira da sessão classificatória. Max disse que o resultado em si não importava e estava de olho mesmo em dar o troco no sábado. Na primeira corrida sprint da história, Verstappen largou bem melhor que o rival e o superou na curva 1, partindo então para uma vitória tranquila.

A largada, como ficou evidente na corrida principal da Fórmula 2 em Silverstone e também na corrida sprint da Fórmula 1, era o ponto crucial para Hamilton tentar superar Verstappen e tomar a ponta. Foi exatamente o que aconteceu. A Mercedes #44 tracionou melhor que a Red Bull #33, e os dois protagonizaram uma das primeiras voltas de um GP mais empolgantes dos últimos tempos no Mundial. Nenhum dos dois quis arredar o pé e 'pipocar' na disputa.

O incidente entre os dois na curva Copse e a consequente — e forte — batida de Verstappen na barreira de proteção poderia ter acontecido antes, mas mostrou que, diferente de Sakhir, Ímola e Barcelona, Hamilton não estava disposto a ceder. Era tudo ou nada na luta pelo campeonato. No fim das contas, um incidente típico de corrida e um acidente inesperado provocaram uma grande explosão nos bastidores da Fórmula 1.

Há dois pontos evidentes em meio a tudo isso. O primeiro é que Hamilton de forma alguma agiria de forma intencional para tirar um rival da pista. O maior vencedor da Fórmula 1 nunca foi desleal com um adversário e jamais bateu de maneira proposital. Dizer o contrário é bobagem e beira o leviano. O segundo é que Verstappen, se quiser conquistar o título para cima de alguém do tamanho de Lewis, vai ter de lutar muito e 'comer muito feijão com arroz' para chegar lá.

Mesmo com o melhor carro do momento na Fórmula 1 e desfrutando da condição de favorito, é Max quem terá de ser forte o bastante — não só na pista, mas mentalmente — para derrotar um dos maiores pilotos da história.

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