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Na Garagem: Senna bate em Prost em dia de vingança e bicampeonato da F1

Ayrton Senna se vinga de Alain Prost e garante o bi da F1. Este momento tão marcante da história da categoria aconteceu exatos 30 anos atrás

21 out 2020 - 06h02
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Alain Prost e Ayrton Senna protagonizam cena icônica
Alain Prost e Ayrton Senna protagonizam cena icônica
Foto: Reprodução/TV / Grande Prêmio

21 de outubro de 1990 pode, sem qualquer exagero, ser considerado o dia de maior sucesso do Brasil no esporte a motor. Foi num dia como hoje, mas exatos 30 anos atrás, que o país viu tudo dar certo: Ayrton Senna deu o troco em Alain Prost no GP do Japão com um acidente proposital para consolidar o bicampeonato mundial, um ano após se sentir prejudicado por uma atitude antidesportiva do francês.

Além do bicampeonato de Senna, o GP do Japão de 1990 também teve a mais recente dobradinha brasileira, com Nelson Piquet e Roberto Moreno em primeiro e segundo.

Na briga pelo título, só Senna e Prost ainda tinham chances. O brasileiro tinha 9 pontos de vantagem e o primeiro 'match-point' em Suzuka. A situação ficou ainda melhor com a pole-position, apesar de ver o francês largando em segundo e pronto para dar o bote.

Carros de Ayrton Senna e Alain Prost se chocaram na largada (Foto: LAT/Forix)

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Só que a pole era justamente a primeira controvérsia do fim de semana. Senna largaria do lado sujo da pista, enquanto Prost ficaria do lado limpo. O brasileiro se sentiu injustiçado e cobrou uma inversão, mas a FISA, atual FIA, vetou. Isso colocou Ayrton em posição delicada nos primeiros metros da prova.

A largada trouxe cenas marcantes. Prost de fato largou melhor e virou líder, mas viu Senna ignorar a zona de freada e forçar um acidente. Era uma inversão de papéis após os acontecimentos de 1989, quando Alain foi acusado de forçar batida com Ayrton para garantir o título.

Os dois estavam fora da prova e, com os dois carros distantes do traçado, a direção de prova não julgou necessário o uso de bandeira vermelha. 9s após a largada, Senna era campeão.

Só que ainda havia uma corrida pela frente. Berger liderava, mas aprontando uma das suas na primeira oportunidade: o austríaco foi surpreendido pela sujeira na primeira curva e, na segunda volta, rodou e atolou na brita também. A prova se acalmava com a seguinte ordem: Mansell, Piquet, Moreno, Boutsen, Patrese e Suzuki.

Mansell tentou disparar na liderança e apostar em corrida de uma parada, enquanto Piquet e Moreno cuidavam dos pneus para nem passar pelos boxes. Até poderia dar certo, mas o britânico teve problema mecânico imediatamente após o pit e abandonou. A dobradinha brasileira estava formada e, com as duplas de McLaren e Ferrari fora de combate, a Benetton tinha tudo sob controle.

Ayrton Senna e Alain Prost tiveram de voltar aos boxes juntos após o acidente (Foto: Reprodução)

Piquet e Moreno seguiram relativamente próximos um dos outros, indicando que ninguém estava forçando o ritmo. A Williams dificilmente ameaçaria, até porque já estava atrás e ainda faria um pit-stop. Boutsen e Patrese fizeram suas paradas, permitindo a ida de Suzuki ao terceiro lugar.

A corrida seguiu morna nas voltas finais, o que não impedia o público brasileiro de se animar com o resultado vindouro. A festa também era feita nas arquibancadas, que via Suzuki encaminhando o pódio através da corrida sem paradas.

53 voltas se completaram e Piquet levou a vitória, com Moreno em segundo. Suzuki completou um pódio dos mais inusitados e até hoje histórico: foi a última vez em que nenhum europeu figurou no top-3.

O título de Senna e a dobradinha Piquet-Moreno mereceram ampla cobertura na imprensa brasileira. A Folha de S. Paulo reservou nada menos do que 13 páginas para falar sobre esporte a motor, algo impensável na atualidade. Em primeiro plano: Senna, tanto pelo título quanto pelo sabor de vingança um ano após a controversa decisão de 1989.

Em uma época em que o acidente proposital era apenas uma suspeita, a cobertura da imprensa focou na postura de Senna. O novo campeão nunca confirmou publicamente, mas não escondeu também que o título era uma resposta ao que considerava uma injustiça um ano antes: "Este título eu dedico a todos aqueles que lutaram contra mim no ano passado e me machucaram muito. Este ano, está aí a demonstração para eles de quem é o campeão", disse, entrevistado pela Folha de S. Paulo.

A temporada 1990 foi uma doce vingança após as controvérsias de 1989 (Foto: Reprodução)

Senna disse após a prova que "nunca considera a possibilidade de um acidente", uma forma de se afastar dos rumores de acidente proposital. Isso, entretanto, não colou com Prost. O francês estava convicto de que o brasileiro poderia evitar o impacto, mas não quis.

"Ele me fez perder a corrida na largada porque se eu ficasse à frente ele não me alcançaria mais", reagiu Prost após a corrida. "Não existem duas versões sobre o acidente, existe apenas uma realidade. Eu tive uma boa largada, tinha um carro de vantagem. Eu nunca esperei que ele tivesse uma atitude tão antidesportiva", afirmou.

Senna reagiu aos comentários de Prost ainda de forma ácida: "É muito normal que ele diga isso. É muito normal, vindo de uma pessoa com o caráter que ele tem. Ele, em ocasiões diversas no passado, agiu de forma tal que não mereceu uma vitória. E nada aconteceu e nada se disse. Hoje, ele perdeu e quando ele perde é sempre assim. Ele sempre reclama e diz que está errado, que foi prejudicado e assim por diante. Esse é o caráter do Prost, não existe nenhuma surpresa com isso".

Mesmo que a suspeita de um acidente proposital existisse, não havia nada que Prost, Ferrari e FISA pudessem fazer contra Senna. O brasileiro abandonou e uma desclassificação aos moldes da vista em 1989 não teria qualquer efeito prático. Ficava a polêmica, mas nada que tirasse o sabor da conquista de Ayrton e McLaren.

O GP do Japão de 1990 encerrava um capítulo na rivalidade entre Senna e Prost. O francês não seria capaz de lutar por título em 1991, tendo depois ano sabático em 1992 e voltando para ser campeão com sobras em 1993 pela Williams.

Mesmo com tantas desavenças, os dois começaram a se reaproximar com o passar dos anos. Conversas entre os dois se tornaram frequentes no começo de 1994, quando Senna afirmou até mesmo ter saudade de Prost nas pistas. A tentativa de aproximação, entretanto, foi interrompida pelo acidente fatal do brasileiro no GP de San Marino.

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