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Na garagem: Maldonado pega carona em temporada insana e vence na Espanha

Pastor Maldonado fez pole e venceu o GP da Espanha que entrou para a história como uma das corridas mais inexplicáveis de todos os tempos. Em 2012, na temporada do surrealismo, o venezuelano teve seu grande momento de glória na Fórmula 1 e na carreira

13 mai 2022 - 04h17
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Pastor Maldonado fez história na Catalunha
Pastor Maldonado fez história na Catalunha
Foto: Reprodução / Grande Prêmio

Pastor Maldonado virou um personagem folclórico na Fórmula 1 e é, constantemente, lembrado como alguém que se envolveu em alguns dos acidentes mais bizarros dos últimos tempos na categoria. Só que, ao mesmo tempo, Pastor também é o protagonista de um dos maiores contos de fadas do esporte a motor no século 21: o GP da Espanha de 2012.

Exatos dez anos atrás, Maldonado entrava para a história da Fórmula 1 de forma gloriosa, para não dizer heroica. Na temporada que se mostraria a mais imprevisível da era moderna da categoria, acontecia de tudo um pouco: tinha vitória da nova Mercedes, da Lotus preta, Sauber frequentando pódio, equipes nanicas e, claro, não podia faltar um triunfo da Williams, por pior que fosse a fase do time de Grove.

Vindo de um 2011 tenebroso empurrada pelos motores Cosworth, a Williams tentava basicamente sobreviver em 2012. A retomada da parceria com a Renault vinha acompanhada de uma formação de dupla que tinha dois pilotos que ajudavam - e muito - o time a fechar as contas: Maldonado, com todo suporte do governo venezuelano, e Bruno Senna, que levou patrocinadores brasileiros e acabou com a vaga que, no ano anterior, era de Rubens Barrichello.

A Williams de 2012 era bem melhor que a de 2011 (Foto: Reprodução)

O novo regulamento aproximou ao extremo o grid e o campeonato, de forma concreta, só foi ser decidido na perna asiática. Foi lá que, do nada, a Red Bull e Sebastian Vettel engrenaram, venceram Singapura, Japão e as tenebrosas etapas de Coreia do Sul e Índia. Foi ali que o tri de Seb foi garantido. Mas, fora essas quatro provas seguidas, o campeonato foi de caos absoluto.

E o começo teve mais imprevisibilidade ainda. Jenson Button abriu o ano vencendo com a McLaren na Austrália. Aí veio o triunfo de Fernando Alonso, com a Ferrari, em uma Malásia que viu atuação de gala de Sergio Pérez, que botou a Sauber em segundo. Na China, a Mercedes levava com Nico Rosberg, enquanto que Sebastian Vettel ganhou a prova no Bahrein de Red Bull. Sim, quatro equipes diferentes vencendo em quatro etapas. E cabia mais.

A Williams abria o campeonato de forma discreta no geral, mas muito melhor que em 2011, quando marcou, no ano inteiro, apenas 5 pontinhos, sendo 4 de Barrichello e 1 de Maldonado. Em 2012, Pastor já tinha um oitavo lugar na China e Senna vinha de sexto na Malásia e sétimo em Xangai. Resultados decentes, mas que jamais poderiam prever o que foi visto no circuito da Catalunha.

Pastor Maldonado: um herói improvável (Foto: Reprodução)

A sexta-feira de treinos livres indicava uma briga interessante envolvendo McLaren, Ferrari e Red Bull, mas o TL3, na manhã de sábado, colocava novos elementos na parada: Maldonado, com a Williams, andava em segundo, enquanto Kamui Kobayashi enfiava a Sauber no top-3. Podia ser mais uma corrida de diversas equipes no bolo.

Mas não foi. Quer dizer, teve surpresa para valer, só que não um pelotão cheio de carros diferentes, uma disputa insana, nada disso. Foi uma zebraça, mas uma zebraça dominante: Maldonado levou a Williams para a pole e para uma vitória incontestável.

Na classificação, após liderar o Q2, Pastor fechou na segunda colocação a sessão de definição da pole. Mas tudo estava conspirando a seu favor. Assim que encerrou a volta rápida, Hamilton, que tinha cravado uma volta absurda e ficado em primeiro, sofreu uma pane seca. O regulamento era claro: os carros precisariam ter amostras de combustível para testagem pós-sessões. Lewis não teve, foi desclassificado. E lá ficaria Maldonado com sua primeira - e única - pole da vida na F1.

Pastor Maldonado venceu na Espanha (Foto: Reprodução)

Veio a corrida e, cercado por nomes como Alonso, Kimi Räikkönen, Nico Rosberg, Vettel e até outros com carros velozes como Romain Grosjean e Pérez, parecia certo dizer que Maldonado seria atropelado na largada. É fato que Alonso passou o venezuelano de cara, mas foi só. Pastor ficou em segundo e não foi para baixo disso.

Pelo contrário, Pastor só sairia de lá de volta para a ponta, quando a Ferrari e o espanhol se complicaram. Na janela do segundo pit-stop, Alonso ficou preso atrás de retardatários, era a chave para a Williams dar o bote. O bicampeão do mundo voltou atrás de Maldonado e aí virou jogo de gato e rato.

Pressionado por Alonso e, mais para frente, também por Räikkönen, Maldonado parecia um veterano naquela posição. Era como se a vida toda tivesse liderado, vencido corridas. Uma naturalidade que assustou. Está mentindo quem diz que, durante aquelas 66 voltas, não ficou só esperando o momento de Pastor 'maldonadar', bater, errar, rodar. Não rolou.

O histórico de acidentes ficava para trás, o homem, então, se tornava um vencedor de corrida na F1. Foi quase que um ato único de glória na vida de Pastor na categoria, mas valeu por todo resto, foi praticamente a história inteira da Venezuela na F1 em menos de 2 horas ali.

O homem nos ombros de campeões mundiais (Foto: Reprodução)

O dia mágico da Williams quase acabou em tragédia. Poucos minutos após o fim da prova, quando a equipe se reunia do lado de fora dos boxes para a foto comemorativa e o discurso de Frank Williams, um tanque de combustível explodia dentro da garagem, deixando um mecânico coberto por queimaduras. Um incêndio grande começou e só foi controlado com a união de forças dos membros do time, da Caterham e da Force India, que foram correndo ajudar. Maldonado apareceu de novo, salvando o sobrinho Manuel, que estava com a perna imobilizada por uma lesão.

Depois daquele ano, foram mais três temporadas de Maldonado no grid, sendo duas delas na Lotus. Muitos acidentes, poucos pontos e uma falência da petrolífera PDVSA depois, o fim da linha chegava para o herói daquele 13 de maio de 2012. Mas a missão estava cumprida: a Williams voltava a vencer após longos 8 anos - e já se vê em um jejum de outros 10 desde então.

"É um sentimento inacreditável vencer minha primeira corrida. O carro esteve muito consistente, fantástico de guiar e nosso ritmo foi muito forte o tempo todo. Alonso me pressionou duro, mas cuidei dos meus pneus e segurei a distância até o fim. A equipe trabalhou muito duro o ano todo até aqui, esta vitória é para eles. Ser o primeiro venezuelano a vencer na F1 é uma honra enorme e eu espero vencer mais corridas no futuro", disse Pastor após a prova.

Não venceu mais, é verdade. Na realidade, não chegou a passar nem perto disso, nunca mais foi nem ao pódio. Mas não tem problema. Tendo pontuado em apenas 14 etapas em toda a carreira na F1, Maldonado não precisou de mais nada. Fez história, chocou o mundo. Pastor, para sempre, será um vencedor de corrida na maior das categorias do esporte a motor.

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