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Antes de ida para McLaren, Ricciardo faz campeonato notável e prova que merece mais

Com um carro que não lhe permite sonhar mais do que com alguns pontos, Daniel Ricciardo faz muito, tira leite de pedra e faz uma temporada pra lá de decente com uma Renault em evolução. Mais do que isso, prova que, muito além do carro da futura equipe McLaren, o sorriso mais famoso da Fórmula 1 teria capacidade de sobra para estar até na Mercedes

17 set 2020 - 04h14
(atualizado às 05h10)
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Daniel Ricciardo
Daniel Ricciardo
Foto: Renault / Grande Prêmio

As últimas voltas do GP da Toscana de domingo (13) passado deram a ligeira impressão de que o primeiro pódio de Daniel Ricciardo como piloto da Renault finalmente estava por vir. Dono de uma incrível relargada, o australiano conseguiu ultrapassar Valtteri Bottas na saída da San Donato, a curva 1 do circuito de Mugello. Mas aí a realidade se fez presente, e o dono do carro #3 não conseguiu manter o finlandês por muito mais tempo atrás. Ultrapassado, Daniel teve outra dura missão: segurar a Red Bull de Alexander Albon, outro piloto ávido por um pódio. Em resultado lógico para quem tinha melhor carro no embate, o anglo-tailandês fez a ultrapassagem, completou o top-3 toscano com Lewis Hamilton e Bottas e faturou seu primeiro troféu na Fórmula 1. Para a Renault, a seca de pódios, iniciada desde o distante GP da Malásia de 2011, continua.

Mas é possível afirmar, sim, que Ricciardo deixou Mugello como um dos grandes nomes da nona etapa da temporada 2020. Em que pese o alto número de abandonos, sobretudo de concorrentes diretos ao pódio, como Lance Stroll, e até à vitória, como Max Verstappen, o dono do sorriso mais famoso da Fórmula 1 reiterou a forma decente que tem caracterizado sua temporada. Enquanto teve às mãos um carro capaz de brigar e ser minimamente competitivo, Daniel não decepcionou.

E muito além de ter conquistado três quartos lugares (nos GPs da Inglaterra, Bélgica e Toscana) e dos 8 x 1 contra o companheiro de equipe Esteban Ocon em classificações na temporada até agora, é a atitude dentro da pista que mostra que Ricciardo, mesmo há quase dois anos sem brigar por vitórias, segue sendo um dos melhores pilotos do grid.

Daniel Ricciardo não escondeu a frustração por ver um pódio tão perto escapar por pouco (Foto: Renault)

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Levando em conta a atual ordem de forças da Fórmula 1, a Renault, mesmo que tenha melhorado de maneira considerável nesta temporada, ainda não é uma candidata real ao pódio. Com Mercedes dominante, a Red Bull como segunda força e McLaren lutando contra a Racing Point pelo posto de terceira melhor equipe, a escuderia de Enstone corre por fora e, em condições normais, compete para pontuar quando for possível. Até mesmo por isso, é importante salientar que não apenas pelos resultados em si, mas principalmente como chegou a eles, é que Ricciardo merece o destaque pela temporada que faz.

Daniel sabe que, com um grande carro às mãos, tem capacidade até para lutar por título. Quando esteve na Red Bull, provou seu talento com algumas atuações, como, por exemplo, na sua última vitória, obtida na raça no GP de Mônaco de 2018. Mas, naquela mesma temporada, Ricciardo viu que a prioridade da equipe tetracampeã do mundo já era toda voltada para Max Verstappen. Ao ver que não teria mais espaço, o australiano surpreendeu o mundo da Fórmula 1 ao anunciar sua ida para a Renault.

A decisão pode ter causado espécie porque representou um passo atrás, ao menos no que diz respeito à luta por pódios e vitórias. De uma equipe do 'trio de ferro' da Fórmula ', Ricciardo assumiu um desafio em uma escuderia do pelotão intermediário e com o futuro incerto — à época, não se sabia sequer se a Renault seguiria na Fórmula 1 depois de 2020. Mas a decisão mostrou também um Ricciardo que não se acomodou com um cockpit que lhe trazia resultados e foi atrás do novo. Depois de uma temporada e meia, ainda não dá para dizer que Daniel levou a equipe aurinegra para outro patamar, mas é possível avaliar que o piloto é pilar muito importante deste processo constante de evolução.

Ao buscar novos horizontes, Ricciardo prova que ainda tem sede de pódios e vitórias (Foto: Renault)

Em maio, quando Sebastian Vettel e a Ferrari anunciaram o divórcio para o fim da temporada, Ricciardo logo foi apontado como um dos potenciais nomes para ocupar um lugar na mais longeva e tradicional equipe da Fórmula 1. O oceânico concorreu com o espanhol Carlos Sainz, um dos pilotos que mais se destacou em 2019 a bordo da McLaren, enquanto Antonio Giovinazzi chegou a ser listado — pelo menos, foi o que disse a imprensa italiana na época.

Dias depois de anunciar a saída de Vettel, a escuderia de Maranello elegeu Sainz como substituto do tetracampeão. A opção dos italianos foi lamentada por muitos fãs de Ricciardo e da Fórmula 1 como um todo. Quase de imediato, Daniel assinou contrato com a McLaren, o que desagradou até a Renault, que via no piloto um nome não somente para o presente, mas também para construir as bases de um futuro promissor.

Por um momento, a não-ida para a Ferrari soou como injustiça para Ricciardo, dono de uma carreira como um todo muito mais sólida que a de Sainz. Só que a sequência da temporada e a perspectiva, ao menos para 2021, de outro ano difícil para a equipe italiana, faz Daniel sorrir de orelha a orelha com a chance de poder fazer mais com a McLaren, enquanto Carlos, até no discurso, já se mostra alinhado à futura equipe.

Mas antes de trocar Enstone por Woking, o sorridente piloto continua com a sua missão de entregar resultados à Renault. Ao estabelecer uma divertida aposta com Cyril Abiteboul, chefe da escuderia anglo-francesa — se conquistar um pódio, caberá ao competidor escolher o desenho de uma tatuagem a ser feita pelo patrão, que, por sua vez, vai ter a atribuição de definir o local no corpo —, Ricciardo mostra que o clima ruim que ficou com a decisão de rejeitar a oferta para seguir onde está e voar para a McLaren é parte do passado. E nada como bons resultados para que todos possam abrir o sorriso.

Futuro é bom, mas poderia ser melhor

Ao assinar por uma equipe cada vez mais estruturada, com pilares fortes representados pelo CEO, Zak Brown, Andreas Seidl, chefe de equipe, e James Key, diretor-técnico, motor Mercedes e um companheiro de equipe forte e, ao mesmo tempo, igualmente divertido, Ricciardo tem tudo para voltar ao pódio em 2021, algo que o próprio Norris e Sainz já conquistaram neste ano.

Entretanto, lutar apenas por pódios aqui e ali, mesmo que seja por uma McLaren em ascensão, parece pouco para o potencial enorme de Ricciardo. Um piloto do seu calibre e com muita lenha para queimar merecia mais. Merecia ter pelo menos uma vez um carro capaz de lutar pelo título tão sonhado. Daniel tem 31 anos, mesma idade de Valtteri Bottas, um ótimo segundo piloto para a Mercedes, mas que jamais será campeão do mundo, por mais que tenha carro para tal.

Daniel Ricciardo ficou animado com o desempenho da McLaren em Monza (Foto: Renault)

A questão é que a equipe hexacampeã do mundo, depois da traumática rivalidade travada por Lewis Hamilton e Nico Rosberg entre 2014 e 2016, jamais vai trazer um piloto forte o bastante para medir forças de igual para igual com o quase recordista de vitórias na Fórmula 1.

Para a Mercedes, faz sentido ter um segundo piloto como Bottas, que soma pontos importantes para o Mundial de Construtores, ganha as suas corridas aqui e ali e, principalmente, não causa tantos problemas. Não é à toa que o nórdico já teve seu contrato renovado até o fim do ano que vem. Ricciardo não é do tipo de piloto que causa discórdia nos bastidores, mas o australiano certamente teria uma postura bem mais agressiva na pista na comparação com o finlandês.

Ao menos nos próximos anos, Daniel não vai para a Mercedes, mas terá totais condições de seguir provando seu valor tanto neste fim de temporada, com a Renault, como na sequência da sua carreira, com a McLaren. Mesmo que siga longe das vitórias, Ricciardo vai continuar a ser um dos pilotos mais capazes da Fórmula 1 e tende a ter, por ainda muito tempo, grandes motivos para sorrir.

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