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Brasileiro projeta futuro com carros elétricos e prova sem piloto no automobilismo

Aos 33 anos, Lucas di Grassi, ex-Fórmula 1, enxerga o esporte muito diferente do que vemos hoje

22 jul 2018 - 06h12
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Preocupado com o futuro do automobilismo, Lucas di Grassi quer fazer uma revolução dentro das pistas. O piloto brasileiro, mais conhecido por breve passagem pela Fórmula 1, acredita que os campeonatos com carros movidos à combustão ficarão para trás na disputa pela atenção do público. E aposta nos veículos elétricos, como o que ele mesmo pilota na Fórmula E, e até nos carros autônomos. Sim, o futuro do automobilismo pode estar numa corrida de carros robôs, mas com boa ajuda dos humanos do lado de fora.

Paulistano de 33 anos, Di Grassi teve passagem discreta pela F-1 em 2010, por uma pequena equipe, a Virgin, hoje fora do campeonato. Sem sucesso, embarcou em sua primeira aposta fora das pistas dois anos depois. Ajudou a criar a F-E e se tornou piloto de sucesso da categoria. "Fui a terceira pessoa contratada da F-E, para ajudar a desenvolver o conceito da categoria", conta o piloto, que venceu o torneio de 2017, já sem vínculos com a empresa responsável pela categoria. No domingo passado, terminou a temporada na segunda colocação - a próxima terá a presença de Felipe Massa, outro ex-Fórmula 1.

Mas não são apenas os bons resultados na categoria que fazem Di Grassi pensar no futuro. "Hoje em dia a F-E não é mais uma aposta. Ela vale US$ 1 bilhão (R$ 3,8 bilhões), tem 11 montadoras, mais do que a soma da F-1 e da Indy, e tem grandes patrocinadores", diz. O potencial de crescimento, segundo ele, se vê pelas cidades que demonstraram interesse em sediar corridas no futuro.

Para Di Grassi, a única categoria de carros elétricos do mundo é o futuro do automobilismo mundial. "So há duas opções para o futuro: ou o automobilismo vai ser relevante para o produto comercial por causa das tecnologias que vão ser usadas nas ruas ou será somente entretenimento, como a Nascar", explica. "A questão é que tudo vai acabar se tornando elétrico. E a F-E vai servir para desenvolver a tecnologia que as pessoas comuns vão usar nas ruas. Por isso, temos tantas montadoras interessadas na competição."

O papel na criação da categoria e os bons resultados já tornam o piloto referência na área tecnológica mais 'limpa'. Ele faz palestras sobre sustentabilidade para empresários. E, em maio, teve o reconhecimento da ONU Meio Ambiente ao ser nomeado 'Defensor do Ar Limpo'. Enquanto vive o sucesso da F-E, segue olhando para frente, muito para frente. O próximo passo, na sua avaliação, são os carros autônomos, movidos a eletricidade, claro. O piloto é CEO da Roborace, empresa que pretende criar a primeira corrida de carros movidos por humanos e por Inteligência Artificial.

Como acontece com o campeonato dos carros elétricos, a Roborace quer unir diversão e tecnologia a ser desenvolvida em favor dos veículos que circularão no futuro, ainda que distante. A desconfiança, contudo, é maior do que teve a F-E: robôs vão substituir os seres humanos nos carros? Mais do que isso: um piloto quer acabar com os próprios pilotos nas pistas?

"É importante entender quais evoluções tecnológicas vão ser relevantes e como isso vai ser aplicado no meio em que estamos. Não estou fazendo uma revolução. A revolução vai acontecer, a questão é se estaremos prontos para ela", diz. "Muitos me dizem que sou piloto e quero criar uma categoria de carro sem piloto. É igual o peru fazer propaganda do Natal", ri. "Mas o que estou tentando fazer é o contrário: estou tentando achar um jeito de colocar carro autônomo relevante para o automobilismo para a gente continuar com o nosso emprego, que é correr de carro."

COMO UM AUTORAMA GIGANTE

Projeto dos mais audaciosos do automobilismo atual, a Roborace é o futuro dos campeonatos em termos de tecnologia, na visão de Lucas Di Grassi. O piloto paulistano é o CEO da empresa. Ele tem a missão de promover mudanças na competição, a ser lançada em 2019. A Roborace era uma corrida de robôs, quase como um autorama gigante, baseado em Inteligência Artificial. Os primeiros carros foram projetados pelo designer alemão Daniel Simon, famoso por seus trabalhos no cinema. São dele os traços das máquinas que aparecem nos filmes 'Tron: o Legado' e 'Oblivion'.

Di Grassi, porém, decidiu acrescentar o homem na disputa. "Vai ser um torneio no qual um humano guia o carro enquanto a máquina aprende com a sua pilotagem. No pit stop, o piloto sai e a máquina assume sozinha e acaba a corrida. Será uma combinação do humano ensinando a máquina e a máquina melhorando o humano."

Num exercício de futurologia, ele até visualiza uma inusitada parceria entre o piloto e um avatar do robô, que poderia ser um personagem famoso, como Ayrton Senna ou Lewis Hamilton. "Se o Hamilton pilotasse o carro, o sistema de Inteligência Artificial poderia aprender seu estilo, a técnica, o ponto de frenagem. No futuro, por exemplo, a McLaren poderia vender um carro com o 'Hamilton driving mode', que ensinaria o comprador a pilotar como ele."

A competição pretende se antecipar ao que as pessoas vão encontrar nas ruas, defende. A Roborace ajudaria no desenvolvimento da tecnologia dos carros autônomos que podem vir a ser comuns nas cidades. "Teremos um sistema autônomo mais confiável e carros mais seguros. Se consegue andar a 300 km/h nas pistas com precisão, o autônomo vai andar a 50 km/h com ainda mais facilidade."

Em 2019, Di Grassi projeta seis corridas, sendo que três ou quatro delas vão acompanhar as etapas da F-E. Ele deve ter "cinco ou seis times". "Isso nunca foi feito antes. Se um carro autônomo para na pista, o que fazemos? Safety car? Tem uma série de problemas que nunca foram pensados."

Estadão
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