'Desinformação não é apenas um ruído; é uma ameaça global', diz editor-chefe do Projeto Comprova
Para Sérgio Lüdtke, o jornalismo deve ir além da reatividade, com intervenções preventivas e uso da IA para combater falsidades
O jornalismo enfrenta uma crise existencial. O meio digital, fragmentado e profundamente deteriorado pelo aumento exponencial da desinformação, do extremismo e dos discursos de ódio, testa a relevância e a resiliência da imprensa.
- *Este artigo faz parte da revista comemorativa de 25 anos do Terra. A publicação traz reflexões sobre o tempo, a mídia e as novas gerações, e pautas conectadas a momentos marcantes, pioneiros e inovadores da plataforma.
Nesse cenário, potencializado pela recente ascensão da Inteligência Artificial generativa, o jornalismo precisa ampliar seus limites para além da mera reportagem de fatos. É impositivo ao jornalismo atuar ativamente como guardião da integridade do ambiente digital. E, se possível, transformar essa crise em uma oportunidade para reconstruir os laços de confiança com os cidadãos.
"A desinformação não é apenas um ruído de fundo; é uma ameaça global que manipula a opinião pública e corrói a democracia. "
O fact-checking tradicional elevou os padrões de transparência e demonstrou a importância da metodologia na produção do conteúdo jornalístico. Mas, embora essencial para desmascarar falsidades, é uma intervenção apenas reativa. A inovação essencial do combate à desinformação está na prevenção, ou seja, em intervenções proativas que funcionem como vacinas para impedir a propagação de informações falsas.
Zelar pela integridade digital não é apenas reduzir os níveis de desinformação, mas também construir um ambiente informativo mais saudável. A mesma IA que potencializa a desinformação pode ser uma ferramenta para a solução.
Os novos hábitos adquiridos com o uso das IAs também influenciarão nossa relação com as notícias, transformando o ato de se informar em uma experiência conversacional e interativa, adaptada aos contextos de cada leitor.
Um ambiente íntegro é, também, um ambiente acessível. A IA será usada para facilitar o acesso à informação para pessoas com deficiência.
O papel do jornalismo na integridade do ambiente digital é o de um verificador rigoroso, capaz de construir comunidades, que usa a transparência e a conexão local para criar e manter elos de confiança com seus públicos.
"O jornalismo precisa ser visto como um serviço essencial, compreensível e acessível, cujo valor seja reconhecido em um mundo que desesperadamente precisa distinguir entre verdades e mentiras."
*Sérgio Lüdtke é editor-chefe do Projeto Comprova, presidente do Projor e coordenador do Atlas da Notícia.