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Demetrio Teodorov, futurista e especialista em inovação  Foto: Reprodução/Linkedin @demetriot

Demetrio Teodorov defende evolução com tecnologias e IA, mas alerta para 'perda da soberania cognitiva'

Futurista destaca importância da inovação cultural e tecnológica para construir o futuro no presente, mas vê riscos com ultradependência

Imagem: Reprodução/Linkedin @demetriot
  • Lilian Coelho Maffei, Ademir Correa e ChatGPT
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26 dez 2025 - 13h15

Demetrio Teodorov é futurista e estrategista, e tem como propósito profissional e pessoal construir o futuro no presente, estudando novos comportamentos e tecnologias emergentes. Nesta entrevista, ele analisa conceitos como ultradependência e ultrapersonalização para discutir o amanhã sendo construído hoje. Para isso, ele responde a questões elaboradas pela IA (claro, sob supervisão humana)

  • *Esta entrevista faz parte da revista comemorativa de 25 anos do Terra. A publicação traz reflexões sobre o tempo, a mídia e as novas gerações, e pautas conectadas a momentos marcantes, pioneiros e inovadores da plataforma.

Como surgiu a expressão "construir o futuro no presente" na sua carreira? 

A questão do futuro no presente surgiu em 2017, quando eu estava em São Francisco e fiz um implante de um chip NFC na mão direita. Estava fazendo um trabalho disruptivo, no melhor sentido da palavra. De pegar algo muito futurístico, mas de muita dúvida quanto à inclusão no comportamento, quanto à disponibilidade de tecnologia e a inferência de mudar todo um ecossistema. Implantei um chip na mão direita para fazer pagamentos. O que é amplamente utilizado na Suécia. Então, como era trazer esse elemento do futuro e testar no presente?

Eu comecei a entender que elemento de inovação é isso: você olha lá na frente, vê uma tendência um pouco difusa, uma oportunidade, aí traz para o presente, testa pequeno. Se dá certo, entra na outra personalização, na cadeia de valor, na vida do consumidor. Se der errado, você festeja e guarda para um futuro. Então, realmente, é esse o exercício que, para mim, ficou muito claro. 

Ao longo das passagens por empresas como PwC, BRF e Ultragaz, o que mais mudou na forma de pensar inovação? 

A passagem por essas empresas me deixou uma marca muito forte do amadurecimento da compreensão do que é a inovação no dia a dia corporativo. A inovação não começa com tecnologia; ela é apenas viabilizadora. É a cultura que tem que começar antes da história. Você tem que falar sobre inovação, tecnologia, sobre comportamento. Fica muito claro quando você começa a letrar sobre essas competências de futuro e a inovação é uma delas. Assim, toda a viabilidade de tudo — de orçamento, de oportunidade, de estratégia —  vem a reboque.

"Quando a gente fala de inovação, a gente sempre pensa no aspecto tecnológico. Ou no foguete que dá ré ou na estação espacial. E, na real, não é isso. Ela vem, primeiro, de um comportamento e uma propensão, uma habilidade, uma vontade para inovar corporativa e depois você monta nas oportunidades. Às vezes, você inova sem tecnologia. Você inova mudando apenas um comportamento ali do seu consumidor ou de um produto."

Montagem com o rosto do futurista Demetrio Teodorov
Montagem com o rosto do futurista Demetrio Teodorov
Foto: Reprodução Instagram e Getty Images

Você estudou em instituições como MIT, INSEAD, Singularity e Hyper Island – qual delas mais incutiu em você a mentalidade da exponencialidade? 

A Singularity fez uma “transfusão” no meu sangue de inovador, onde eu comecei ser entrelaçado com entregas de inovação. Entendi também que uma inovação tem que ter um propósito muito claro, não tem que ser complexa e tem que atingir a maior gama de pessoas na sua simplicidade. Porque é aí que você exponencializa. Vide, por exemplo, o Spotify: uma solução única, específica, direcionada para um objetivo que mudou o nosso jeito de escutar música. Então, para mim foi esse lugar de exponencialização que eu fui levado depois que eu passei pela Singularity. 

Em seus estudos de comportamento de consumo (CX/UX), qual mudança atual o deixa mais entusiasmado? 

O que me deixa mais impressionado na evolução do CX e do UX é a utilização da ultrapersonalização. Hoje, você consegue colher dados de consumo durante o tráfego e entregar essa informação, customizada conforme a vontade do cliente. Isso foi se massificando, exponencializando, tomando corpo e robustez. E, o que mais me impressiona nisso, é que, hoje, a Inteligência Artificial consegue carregar ainda mais essa história! E essa profusão de plataformas, de redes sociais, faz com que dentro de uma jornada, não especificamente de compra, acabe surgindo uma oportunidade de adquirir um produto. Vale lembrar que o Instagram começou apenas como um álbum de fotos e, hoje, tem um potencial gigante de compra. É um shopping ali dentro do algoritmo, das suas particularidades de fotos. Tudo ali se mistura. São as oportunidades que vão surgindo dentro da jornada. Isso é muito encantador, porque, na verdade, isso é olhar o comportamento de consumo. Estes comportamentos estão mudando de maneira invisível. A gente que trabalha com inovação sente esse “cheiro” da mudança comportamental chegando antes.

Você propõe que a mobilidade, Inteligência Artificial e foodtech serão vetores de transformação.  Qual destes você acredita que chegará mais rápido ao mainstream? 

Sem dúvida, a Inteligência Artificial. No caso, ela já chegou! Isso muito em função do mobile. A partir do momento que você simplifica e coloca no mobile, tá na mão de todo mundo! A Inteligência Artificial, hoje, é usada por todas as classes sociais, por todos os recortes! Já virou realidade, virou uma ferramenta.

"A gente está vivendo o momento, de uma mudança muito interessante no comportamento de uso de um computador: nós fazíamos busca, no Google, e tal. Agora, nos relacionamos com uma inteligência em busca de informação. É um modelo mental totalmente diferente. O da busca, você garimpava, unia, puxava... Agora é uma conversa, a criação de um prompt. Você vai se aprofundando nas redes neurais relacionadas ao seu interesse de busca."

Então, para mim, o grande lance do mainstream é a Inteligência Artificial que já chegou e está embarcada em tudo desde a geladeira até o WhatsApp. 

Que microtendência ainda passa despercebida no Brasil, mas deverá explodir globalmente? 

Uma que eu acredito muito é o detox digital. Ele já virou prática consolidada na França e no Japão. Com essa profusão de quantidade de device que a gente vive durante o dia a dia, nós precisamos de uma pausa. Então, é uma premissa muito importante, que a gente vai começar a adotar mesmo em função da NR-17. Eu, particularmente, faço detox digital aos finais de semana. E, cada vez mais, teremos a prática de fazer viagens desconectados, de separar uma quantidade de horas por dia que você não acesse equipamentos, que deixe de fazer as compras de maneira digital... Então, são pequenas práticas de desmame de devices. 

Realidade aumentada, blockchain, vestíveis… qual dessas tecnologias tem mais chance de passar da fase “hype” para “normalidade”? 

Eu acredito que o blockchain vai se transformar em hype logo mais, quando a tecnologia, em um próximo espaço de tempo, ficar popularizada. Hoje, em função do tipo de utilização, ela fica nichada em grandes empresas, bancos e tudo mais. Mas pode substituir os cartórios, o nosso jeito de votar, o visto internacional, nosso passaporte. Eu acredito que agora, em 2026, 2027, a gente vai ter muito mais soluções nesse lugar. Além disso, vide as questões de vaquinhas virtuais, que podem ser feitas pelo blockchain, além de vendas coletivas... Vale lembrar que a Rihanna fez a música “Bitch Better Have My Money” e vendeu via blockchain. Então, para mim, é o blockchain a próxima bola da vez. 

Em que momento a IA deixará de depender de nós e a gente passe a depender dela mesma? 

Eu acredito que esse momento relacional entre máquina, humano e a dependência vai sempre existir. Nós estaremos sempre colocando as barreiras, as seguranças, tirando viés inconsciente... A gente vai sempre mexer na máquina. Ao mesmo tempo em que ela vai se automatizando também! E, para alguns processos, não vai mais precisar da gente. Mas eu acredito que não vai ter fim essa codependência. É uma evolução em conjunto.

"Eu posso te exemplificar mais de 50 habilidades que o computador não consegue entregar para a gente, que a gente também não consegue comprar. São desenvolvidas durante a vida. Mas, para mim, a principal é o bom senso! A máquina não tem esse filtro humano. Então, para mim, o bom senso e a gestão de conflito são insubstituíveis. Acredito que máquina nenhuma vai chegar nesse lugar. A não ser, se for algo mais voltado para o ambiente do entretenimento. "

Nos estudos que você conduz, como vê a privacidade e os dados pessoais evoluindo nas próximas décadas? 

Essa questão tem vários prismas: a nossa relação com dados já ficou frouxa. Há uns quatro anos, eu escrevia um e-mail no Google falando que ia para Salvador e eu ficava mal porque, em seguida, apareciam várias passagens, promoções, resorts e tudo mais. Hoje, eu falo que eu vou para Salvador do lado do celular e quando eu abro o meu feed do Insta, aparecem três dúzias de ações comerciais relativas à minha viagem para Salvador. E qual que é o comportamento mapeado hoje? Que tá tudo bem, que legal, ótimo, consigo acelerar. Então, a gente foi do lugar do “abuso”, do pensamento “nossa, está me espionando”, pra o lugar “que bom, está me ajudando aqui com oportunidades”. Isso, falando da primeira camada. De uma camada muito mais comercial, muito mais “mão na massa” para gente. No entanto, têm outras questões, como posts ofensivos, por exemplo. Eu acredito que vamos ficar muito mais atentos com esse tipo de assédio digital. Já saímos da preocupação do lado comercial para o lado comportamental mesmo. 

Qual é a sua maior preocupação com o futuro da sociedade se a tecnologia avançar, mas o humano não evoluir junto? 

Para mim a maior questão é a ultradependência de ferramentas, não só da IA. Tudo isso que traz essa eficiência, essa experiência de maneira brutal, clara, a um clique de distância.

"Eu fico muito preocupado com a nossa perda da soberania cognitiva, da atrofia, do enfraquecimento das nossas capacidades fundamentais. Que essa atrofia cognitiva traga uma amnésia digital e que o pensamento por prompt ocupe seu lugar."

Fonte: Terra
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