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Casimiro Miguel  Foto: Stephen Nadler/ISI Photos via Getty Images

Como as transmissões esportivas digitais ganharam o público e passaram a rivalizar com a TV aberta

Do pioneirismo do Terra ao impacto da Cazé TV, transmissão de esportes entra em um modelo mais democrático, criativo e digital

Imagem: Stephen Nadler/ISI Photos via Getty Images
  • Guilherme Assumpção
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25 dez 2025 - 04h59

Há pouco tempo, assistir a um jogo significava sentar diante da televisão, acompanhar a narração de vozes consagradas e aceitar o formato tradicional imposto pelas emissoras. O público ouvia, reagia e, na maioria das vezes, se limitava a torcer em silêncio. Hoje, a experiência é outra. As transmissões esportivas entraram em uma nova era: interativas, espontâneas e moldadas pelo comportamento digital de uma geração que não apenas consome, mas participa.

Essa transformação não aconteceu de forma súbita. Ela foi construída no ritmo da internet, das redes sociais e da popularização das plataformas de vídeo ao vivo. Um dos primeiros sinais dessa mudança surgiu ainda em 2012, quando o Terra transmitiu, pela primeira vez na história, os Jogos Olímpicos de Londres totalmente no digital. À época, a iniciativa parecia experimental, mas plantou a semente de uma revolução que ganharia corpo uma década depois.

  • *Esta reportagem faz parte da revista comemorativa de 25 anos do Terra. A publicação traz reflexões sobre o tempo, a mídia e as novas gerações, e pautas conectadas a momentos marcantes, pioneiros e inovadores da plataforma.

A explosão: a Copa de 2022 e o novo modelo da Cazé TV

Entre os marcos dessa virada, a ascensão da Cazé TV talvez seja o exemplo mais emblemático. O canal, que nasceu das lives de Casimiro Miguel na Twitch, rapidamente se tornou um fenômeno cultural e também empresarial ao traduzir a paixão pelo esporte para uma linguagem acessível, divertida e genuína.

Quando adquiriu os direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2022, a Cazé TV não apenas conquistou uma audiência histórica, mas mexeu com toda a estrutura do mercado de mídia esportiva. Pela primeira vez em décadas, um grande evento global foi transmitido fora do domínio da TV aberta, abrindo espaço para um modelo pulverizado, multiplataforma e mais democrático.

A Cazé TV, ao provar que o digital podia entregar alcance, engajamento e retorno comercial, derrubou o monopólio simbólico que a Globo e a TV aberta mantinham sobre os grandes torneios. A partir dali, o setor inteiro se reorganizou. Plataformas de streaming como Disney+ e Amazon Prime Video passaram a investir em competições nacionais e internacionais, apostando em transmissões com linguagem própria e narrativas direcionadas a públicos de nicho.

A própria Globo, percebendo o movimento, lançou a GeTV, seu braço digital focado em esportes, e iniciou uma reformulação de linguagem: rostos mais jovens, formatos inspirados nas redes sociais e uma aproximação maior com o público. Até o SBT, após décadas afastado dos grandes eventos internacionais, anunciou o retorno à cobertura da Copa do Mundo em 2026, sinalizando que a disputa por relevância voltou a campo.

Do estúdio à comunidade

Mais do que narrar partidas, a Cazé TV se propôs a redefinir o que é uma transmissão. O tom informal, o humor leve e a sensação de proximidade com o público criaram uma nova lógica de engajamento. Em vez de espectadores passivos, surgiram comunidades inteiras que comentam, reagem e até influenciam o conteúdo em tempo real. Essa interação constante é, talvez, a principal força da nova era das transmissões esportivas.

O contraste com o modelo tradicional é inevitável. Durante décadas, a credibilidade estava diretamente ligada à formalidade: estúdios padronizados, narrações com tom solene e pouca margem para improviso. Agora, o prestígio vem da autenticidade. O que importa não é a entonação perfeita, mas a capacidade de criar conexão, de transformar o espectador em parte da conversa.

O olhar de quem vive a mudança

Bárbara Coelho tem se destacado na Cazé TV
Bárbara Coelho tem se destacado na Cazé TV
Foto: Divulgação

Essa mudança de paradigma também tem atraído profissionais experientes vindos da televisão, como Bárbara Coelho, que trocou os estúdios da Globo pela liberdade criativa da Cazé TV.

O movimento é simbólico: representa o encontro entre duas gerações do jornalismo esportivo: uma com décadas de tradição e outra que nasceu nos bastidores da internet, mas amadureceu com a força do público.

“No digital, a sensação que a gente tem é que estamos sempre atrasados. Isso não quer dizer que esteja, tá?! Não podemos demorar para tomar decisões, nem para colocar as ideias que a gente acredita que podem dar certo em prática”, diz Bárbara.

"A internet realmente é tentativa e erro no literal. A gente prefere arriscar, errar, acertar, mas produzir e colocar a cara a tapa. É sobre buscar ser criativo, não é ser engraçado a qualquer custo, mas ser criativo nos nossos processos de construção de conteúdo." - Bárbara Coelho

Olhando para o aspecto pessoal e profissional, Bárbara acredita que o digital exige algo ainda mais profundo do que velocidade: autenticidade.

“Eu acho que a mudança não tem tanto a ver com linguagem, mas o digital tem a necessidade de formar uma comunidade. As pessoas querem se conectar com você a partir do digital, não existe personagem. A Bárbara, e na Cazé TV isso fica muito claro, é a mesma que senta num bar para tomar cerveja à tarde, que fala de futebol, que fica muito chateada quando o Fluminense perde (...). Esse senso de comunidade é o que vai garantir o futuro dentro do digital. A Cazé TV não tem padrão, é um lugar pra você ser quem você é, e é isso que eles buscam nas pessoas”.

O futuro com a chegada de novas tecnologias

Conectada com o mercado, a nova era das transmissões também redesenha a forma de pensar negócios. O conteúdo gratuito e multiplataforma se mostra viável quando há identidade, audiência fiel e um ecossistema que entende o valor da proximidade. A publicidade nativa, os patrocínios dinâmicos e o alcance orgânico tornam-se peças-chave de um modelo sustentável e, mais importante, democrático.

A revolução, no entanto, ainda está em curso. O futuro promete transmissões cada vez mais integradas à tecnologia: realidade aumentada, interatividade por voz e inteligência artificial devem ampliar o protagonismo do público.

“Estamos atentos e em constante experimentação. Já usamos IA para legendas em tempo real, testes de tradução simultânea, automação de cortes e outras ferramentas que ampliam a acessibilidade e a distribuição do conteúdo. A tecnologia é uma aliada para melhorar a experiência do público e ampliar o impacto do que fazemos”, afirma Felipe Tebet, Head de Conteúdo da Cazé TV.

No centro de tudo, permanece a essência que move o esporte: a emoção compartilhada. Para Bárbara Coelho, essa nova fase é também um convite à liberdade criativa e à construção de um futuro em que o digital abre espaço para novas vozes, ideias e formatos.

“Tenho liberdade para criar, e isso me faz muito bem. Estamos prestes a viver a maior Copa do Mundo da história e, pela primeira vez em 40 anos, todos os jogos estarão no digital. A gente entende o tamanho da nossa responsabilidade, mas não é um peso. Pelo contrário: isso nos empodera”.

Se a televisão moldou gerações de torcedores, as plataformas digitais agora moldam comunidades. E, no meio desse campo em constante transformação, o Brasil desponta como um dos grandes protagonistas dessa nova era das transmissões esportivas. Uma era que não apenas rompeu monopólios, mas inaugurou um novo jogo, em que assistir é participar.

Fonte: Terra
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