Solidão é um desafio a ser superado
A prática de muitos anos atendendo pessoas mostrou-me que a condição humana é bastante marcada, mais do que qualquer um de nós gostaria, pelo sofrimento. Estamos nele como os peixes nadam na água. A tristeza, o padecimento, a aflição brota para nós de diferentes fontes: problemas amorosos, sentimentais, afetivos, familiares; falta saúde, dinheiro, emoções, expectativas construtivas. A lista é longa e transborda de mágoas. O que vem chamando minha atenção nos últimos meses, porém, é o aumento de uma queixa ligada à solidão. Excessiva, ela parece se adensar a cada dia de forma exorbitante, arrastando consigo homens e mulheres, gentes jovens, adultos, pessoas mais variadas, indistintamente. Luxo atualmente é ter uma amizade. Simples assim! O teste maior do sucesso ou do fracasso de uma sociedade deveria ser medido pelo patamar do crescimento de vida solidária, em relação ao volume de troca humana legítima, socialmente útil e compensatória que ela promove. Uma sociedade justifica-se quando orientada para a lealdade, a confiança, o sentimento de segurança. Pensemos por um minuto. É isso que temos? Nossa vida comum cura ou dispersa o medo? Aumenta ou derrota a incerteza? Como resolver essa perplexidade? Não hesitar em alcançar um estado de conhecimento e clareza acerca da dor e da nossa própria finitude que possa, funcionando como conscientização da nossa precariedade, indicar que o desenvolvimento material que dispomos não representa nada se nos diluímos enquanto pessoa e deixamos os valores cardeais da condição humana escorrer das nossas mãos. Compreender a singularidade do outro é indispensável para construir uma relação e permitir assim que se desdobre uma amizade verdadeira. Olhar o outro sem preconceito e de forma tolerante, nega o egoísmo e a superficialidade corriqueira dos relacionamentos humanos atuais. Precisamos deixar de querer ver estampado no rosto alheio um pouco daquilo que nós mesmos somos. É um erro do acomodamento humano preferir modificar o outro, em vez de modificar a si mesmo. Devemos desprezar e reprovar menos. Escapar da lógica que exclui, para ampliar a diversidade das perspectivas humanas. Esse treino para a alteridade é o exercício que pode conduzir para fora dos nossos bloqueios defensivos, abrir o horizonte de uma vida menos solitária, mais plena e repleta de significado e experiências interessantes.
Marina Gold/Especial para o Terra
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