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Yduqs compra grupo de educação dono do Ibmec por R$ 2 bilhões

Negócio vai dar origem a uma companhia educacional com 680 mil alunos; objetivo da compradora é preservar marcas das instituições

21 out 2019 - 12h23
(atualizado às 22h56)
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A Yduqs, ex-Estácio Participações, está chegando perto da líder. Com a compra a americana Adtalem nesta segunda-feira, por R$ 2,2 bilhões, a empresa passará a ter faturamento anual na casa de R$ 4,5 bilhões. A maior do mercado, a Cogna, ex-Kroton, faturou R$ 5,5 bilhões no ano passado.

Foi um negócio disputado. Dona de marcas como a escola de negócios Ibmec e da rede especializada no setor jurídico Damásio Educacional, a Adtalem chegou a ser procurada pela Ser Educacional, Anima Educação e Chaim Zaher, ex-sócio da Estácio, apurou o Broadcast. A aquisição ocorre dois anos depois do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ter frustrado os planos de venda da Yduqs para a Kroton.

Na maior aquisição já feita pela Yduqs, a Adtalem colocará à sua base 102 mil alunos, com valor médio de mensalidade maior do que o cobrado pela Estácio. Os alunos da Adtalem estão hoje divididos em quatro unidades da Damásio, cinco campi do Ibmec e outros 11 da Wyden, além de mais de 180 polos de ensino a distância (EAD). Com isso, a Yduqs terá, ao final do processo, 678 mil alunos.

Uma das maiores vantagens do negócio, segundo a empresa, é o potencial de crescimento por meio das marcas adquiridas. O presidente da empresa, Eduardo Parente, afirma que as mais de 15 marcas da Adtalem serão mantidas e serão fundamentais na expansão regional, em especial na hora de ofertar o ensino a distância (EAD), ou ensino digital, como prefere chamar. Apesar da bandeira Ibmec ser a mais conhecida na região Sudeste, Parente diz que há marcas muito fortes no Nordeste, que ajudarão com a credibilidade de cada marca a alcançar os potenciais alunos.

Segundo Parente, sem esta aquisição, a Yducs poderia levar até 5 anos para atingir esse crescimento. "O ensino digital é importante e é uma tendência futura" disse ao Broadcast. "Se não tem escala, o custo é do curso à distância, mas com receita do digital. Ou seja: quem tiver escala vai sair vencedor."

Para ele, o objetivo é mudar um retrato ainda presente no Brasil, de que o ensino superior é algo destinado apenas a uma parte da população. "Antes, a maioria da população que trabalhava e tinha menos recursos, por exemplo, ficava de fora desse universo e com o surgimento de instituições como a Estácio, isso foi quebrado. Agora estamos tendo uma nova evolução do ensino digital", afirmou.

Para as marcas premium, incluindo a Ibmec e os cursos de medicina da Estácio, o comando será de Thiago Sayão, hoje presidente da Ibmec. Com isso, a ideia é valorizar as marcas e preservar seu posicionamento de mercado. Exatamente por isso o Ibmec não oferecerá o ensino digital. A pós-graduação, que hoje já fornece essa possibilidade, deverá ampliar essa oferta, de acordo com Sayão.

Desembolso

O pagamento de R$ 1,9 bilhão será feito à vista, com caixa e financiamento, que deverá ser próximo de R$ 1 bilhão. O caixa da Adtalem, em 30 de junho, no valor de R$ 305 milhões, também comporá o total a ser pago. O valor da transação também inclui o caixa que será gerado na companhia entre o dia 30 de junho até a data de fechamento da operação, informou a Yduqs.

Com uma dívida líquida próxima de zero, a alavancagem da Yduqs, medida pela divisão da dívida líquida por Ebitda, deverá ir para 1,5 vez, considerando a aquisição da Adtalem, calculou o Citi, em relatório enviado ao mercado.

A instituição financeira acredita que as condições da aquisição parecem positivas. A percepção é de que a operação deve ajudar na melhora da estrutura de capital da Yduqs e que as sinergias entre os negócios serão um diferencial. Além disso, o Citi apontou que a aquisição ajudará a Yduqs em sua expansão regional, sendo que a Adtalem possui maior exposição nas regiões Norte e Nordeste do País.

Outros analistas foram na mesma linha. "Consideramos a aquisição anunciada hoje uma das melhores transações dos últimos anos no setor do ensino superior e, com isso, a Yduqs muda sua história", afirmou a Eleven Financial, em relatório. A casa de análise reconhece que as marcas da Adtalem são fortes, reconhecidas, agregam valor e trazem potencial de crescimento;

De saída

A Adtalem decidiu vender sua operação há aproximadamente quatro meses, depois de sofrer pressão por conta do pagamento de uma multa de US$ 100 milhões nos Estados Unidos. Para a venda, o banco contratado foi o Morgan Stanley. O processo formal, contudo, nem chegou a ser iniciado, conforme fontes. Isso porque a Yducs apresentou seu projeto e ganhou a exclusividade no negócio. Do lado da Yduqs, o assessor financeiro foi o Itaú BBA, apurou o Broadcast.

No mercado, a percepção é de que outros movimentos de consolidação devem ocorrer e que há, especialmente, fora do eixo Rio São Paulo uma gama de companhias que podem virar alvo de aquisições. Depois do Cade barrar a compra da Estácio pela Kroton, as empresas não se intimidaram. A Kroton fez uma aquisição de R$ 4,6 bilhões, trazendo a Somos para seu guarda-chuva. Já a Yduqs adquiriu recentemente a Unitoledo, por um pouco mais de R$ 100 milhões. Agora, trouxe uma aquisição mais robusta com a Adtalem.

A compra da Unitoledo, a primeira feita desde que a Estácio mudou de nome em julho, marcou a nova estratégia da companhia, na qual foi mantida, de forma inédita, a marca da empresa adquirida. A mudança de nome para Yducs foi pensada exatamente para ser um chapéu para as diversas marcas abaixo, não perdendo, assim, a força da marca comprada, permitindo que a empresa atue com novos públicos e diferentes faixas de renda.

A estratégia de manter a marca pode ajudar, ainda, novas aquisições. "Depois da conclusão dessa operação podemos atrair muita gente boa e negócio bom. Ajuda a atrair boas oportunidades", disse Sayão. Parente afirmou que muitas empresas do setor de educação o Brasil são familiares e que garantir a perenidade da marca é um valor na hora de negociar com essas companhias. "Somos grande geradores de caixa e temos fôlego, confiança e capacidade para levar os negócios adiante", afirmou.

No momento, contudo, a empresa está focada em trabalhar nessa integração. A expectativa é de a aprovação do Cade leve ao menos seis meses. "Trouxemos para dentro um peixão, uma sereia. Há muito crescimento vindo do que já temos", afirmou. Para ele, do atual tamanho dessa aquisição, essa pode ser a última. Para novas compras, o olhar está nas regiões em que a companhia ainda está mal representada, como o Centro-Oeste.

O maior acionista da Yducs é o fundo de private equity Advent, que comprou ações da companhia logo após o Cade ter reprovada sua venda para a Kroton. Hoje sua fatia é de 10,78%.

Estadão
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