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Votação que liberou reajuste a servidor deixou deputados no 'corner' eleitoral

Deputados até tentaram proteger o voto da exposição pública, mas não conseguiram

12 jul 2018 - 09h23
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BRASÍLIA - Um tumulto no centro do plenário do Congresso Nacional, por volta das 23h desta quarta-feira, 11, e a dúvida sobre o resultado de uma votação simbólica sobre o ponto mais polêmico da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2019 acabaram expondo os deputados ao crivo de poderosas entidades e colocando-os no "corner" a menos de três meses das eleições.

Após um dia de intensa pressão de servidores para derrubar o dispositivo que proibia a aprovação de reajustes para as categorias em 2019, os deputados foram obrigados a assumir uma lado na disputa e carimbar seus nomes com o voto proferido - posição pela qual serão cobrados nas urnas, já avisavam os servidores na comissão de Orçamento mais cedo.

Ao perceberem armadilha, os parlamentares até tentaram voltar atrás no pedido de votação nominal do destaque que acabava com a proibição aos reajustes, demonizada pelos funcionários públicos que fizeram corpo a corpo dentro e fora da Câmara. Mas o presidente do Congresso, senador Eunício Oliveira (MDB-CE), rejeitou a possibilidade e disse que era preciso "seguir o regimento".

A votação terminou com 209 votos pela derrubada do congelamento de salários, mas 45 deputados defenderam a manutenção da proibição. São 45 parlamentares que serão cobrados nas urnas pelo voto que deram já no último minuto da sessão.

Os deputados até tentaram proteger o voto da exposição pública, mas não conseguiram. Veio uma espécie de "justificativa" do líder do PP na Câmara, Arthur Lira (PP), para quem eventualmente tivesse confrontado o funcionalismo ao apertar o botão.

"Muitos partidos mudaram a orientação após a saída dos deputados, (que) votaram e saíram. Antes de abrir o painel, queria fazer um alerta. Pelo painel, o resultado é lógico. Pelo que aconteceu no plenário, de alguns deputados poderem ter votado e saído, o resultado pode ser diferente", avisou Lira.

A situação revelou não só a força de persuasão das entidades que representam os servidores, mas também a preocupação eleitoral dos parlamentares, que não queriam se indispor com as poderosas categorias às vésperas da campanha. O anonimato da votação simbólica foi perdido com a solicitação de verificação nominal, um tiro que saiu pela culatra do Parlamento. Só quem escapou da exposição foram os senadores.

Sem que os deputados conseguissem reverter a saia justa, o que se viu foram idas e vindas nas posições dos partidos e apelos dos parlamentares para que suas bancadas não dessem orientação contrária aos servidores, ou seja, a favor da proibição dos reajustes. Uma situação inusitada se formou: mesmo com plenário ainda cheio, havia dificuldade para se chegar aos 257 votos necessários na Câmara dos Deputados para pôr fim à questão. Ninguém queria confessar o voto.

"Convoco deputados e deputadas a virem votar. Podem votar contra, podem votar a favor, podem se abster. Votem sim ou votem não, mas votem para encerrarmos", apelava Eunício ao microfone.

Alguns partidos da base aliada do governo chegaram a orientar inicialmente o voto a favor da proibição dos reajustes, como o MDB, o PP e o PRB. Mas aos poucos essa convicção pró ajuste fiscal se dissolveu.

"Eleição à vista", resumiu o relator da LDO de 2019, senador Dalírio Beber (PSDB-SC), em tom resignado. Nem mesmo a adesão de governistas à pressão dos servidores surpreendeu. "Governo também se reelege", afirmou.

As legendas passaram a liberar a bancada para votar como desejasse, como já haviam feito PSDB (partido do relator da LDO e autor da ideia de congelar os salários do funcionalismo), PR e PSD. Outros ainda determinaram voto pela liberação dos reajustes, como o DEM do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Tudo para conseguir encerrar a votação da LDO, requisito para que os parlamentares possam entrar em recesso - período que será dedicado justamente à campanha.

Relator da reforma trabalhista, o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) também mostrou entender o que estava em jogo. "Essa é a hora em que população brasileira verifica quem, na época em que nós vamos ser testados em um debate eleitoral - e todos nós somos candidatos -, é populista, quem está preocupado com a circunstância, com a conveniência, ou quem tem coragem, realmente, de ter espírito público", disse.

Em meio à confusão, houve partido que transitou pelas três posições: passou da trincheira do ajuste fiscal para a liberação da bancada e, depois, pendeu para o lado dos servidores. "Os deputados estão pedindo, então eu mudo a orientação para não (à proibição dos reajustes)", disse o líder do PP na Câmara.

Conforme as legendas mudavam de lado, o número de votantes ia aumentado, encorajados pelo aval de seus partidos a uma posição mais palatável aos potenciais eleitores. A votação foi encerrada quando, depois de todo o esforço, pingou o 257º voto - o último que restava para se obter o mínimo necessário para um resultado válido.

No plenário, ouviram-se os gritos dos deputados que derrubaram o impedimento aos reajustes. No painel, restou a orientação do governo solitária pelo ajuste fiscal.

Estadão
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