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Fim anunciado do emprego, como caso da Avianca, exige etiqueta e planejamento

29 abr 2019 - 13h56
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Descobrir que a empresa na qual se trabalha vai encerrar as atividades pode fazer com que qualquer funcionário fique sem saber como dar continuidade à carreira. Nos últimos meses, casos como o fechamento da fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo, e a recuperação judicial da Avianca deixaram milhares de profissionais sem perspectivas.

A montadora comunicou em fevereiro aos cerca de 3 mil funcionários que irá encerrar a unidade que produz caminhões e automóveis do modelo Fiesta, sob a alegação de que precisa retomar a lucratividade de suas operações na América do Sul. Procurada pela reportagem, a empresa não quis se manifestar, mas, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, estão sendo realizadas reuniões entre a representação sindical e a empresa para garantir os direitos dos funcionários e os postos de trabalho.

Já a Avianca anunciou em dezembro do ano passado que entraria em recuperação judicial devido a uma grave crise financeira. Mais de mil voos foram cancelados e a companhia teve de devolver 18 das 25 aeronaves que utiliza. Procurada, a companhia não quis se manifestar sobre o número de funcionários que ainda estão na empresa.

Apesar da instabilidade que situações como essas provocam, especialistas afirmam que há formas de empresas e funcionários amenizarem as angústias de quem se dedicou por anos a um trabalho.

Uma funcionária da Avianca e que prefere não se identificar conta que o maior motivo de aflição desde que ficou sabendo das dificuldades da companhia aérea é a falta de clareza nas informações. "Nós fomos pegos de surpresa, ninguém sabia de nada. Vimos primeiro nos veículos de comunicação e, só depois, tivemos uma reunião com a chefia", conta.

A transparência entre empresa e funcionários é crucial para que todos passem pela crise com menos abalo possível, diz a psicóloga e conselheira do Conselho Federal de Psicologia Elizabeth de Lacerda. "A empresa precisa lidar com essa tensão, que é natural. Não é nada agradável você saber que vai ser demitido, que não tem retorno. Isso gera angústia, raiva, insatisfação e até o desejo de retaliação."

Para ela, o empregador precisa encontrar estratégias para tratar a situação, e o diálogo é uma opção. "As corporações cortam a comunicação, mas o espaço de fala pode ser uma válvula de escape. Ao ver que existem outras pessoas na mesma condição, ideias para sair dela, com o menor prejuízo possível, podem surgir."

Segundo a funcionária, com a recuperação judicial, a Avianca passou a oferecer auxílio psicológico para os funcionários. A empresa não confirmou a informação.

Em casos em que os funcionários precisam continuar trabalhando até o encerramento oficial, a falta de motivação pode ser um empecilho para manter o bom desempenho. Desde o anúncio de recuperação judicial da Avianca, a funcionária começou a perceber a desmotivação da equipe. "Muitas pessoas ficaram com medo e pediram para serem demitidas, outras começaram a faltar constantemente e tem quem vá trabalhar visivelmente deprimido e com sinais de estafa."

Ainda que o cenário pareça desmotivador, a professora de gestão e competitividade em RH da Fundação Getúlio Vargas Vanessa Cepellos recomenda que os funcionários continuem dando o melhor de si. "Pessoas podem recomendar o seu trabalho. É importante um chefe ressaltar que o colaborador continuou se esforçando mesmo sabendo que ia sair. Não se deve queimar o filme, contatos podem ser úteis para novas oportunidades de emprego."

Novo emprego

Antes de buscar uma nova posição no mercado, é preciso se planejar financeiramente. "Não dá para saber quando vai conseguir uma recolocação no mercado, então tem que entender por quanto tempo dá para sobreviver com os recursos que tem", aponta Vanessa.

Com o planejamento financeiro concluído, é hora de acionar a rede de contatos. "Entenda quais são os pontos fortes e fracos e o que aprendeu na empresa ao longo dos anos. Com essas questões claras, atualize o currículo", diz a professora.

Outro ponto importante é a etiqueta social durante entrevistas. "Não fale mal de ninguém. Empregadores olham com bons olhos quem demonstra gratidão às empresas por onde passou", aconselha a consultora de recursos humanos Renata Aranega.

Para ela, é preciso manter as emoções sob controle e concentrar o foco no que é possível fazer. "Acumulamos experiências valiosas ao longo da carreira. Encarar esse momento como oportunidade para se abrir a novas possibilidades pode ser um caminho", diz.

Aproveitar o fim da empresa em que trabalhava para criar um negócio foi a solução encontrada pela ex-diretora editorial da Cosac Naify Florencia Ferrari. A editora referência em livros de arte encerrou suas atividades em 2015, após quase 20 anos de funcionamento, e deixou cerca de 70 funcionários desempregados.

Depois de 13 anos na empresa, e após o susto do encerramento, Florencia se juntou à ex-editora de arte da Cosac Elaine Ramos e à administradora de empresas Gisela Gasparian para fundar a Ubu Editora, com investimentos próprios e familiares.

"Eu não teria saído da Cosac e aberto uma editora. Mas, a partir do momento em que o projeto que eu estava desenvolvendo, que tinha um público e um êxito cultural e comercial, deixava de existir, ficou claro que a gente tinha uma oportunidade", conta. "Ficar desempregado é angustiante. Não dá para dizer 'fica calmo e abra o seu negócio', mas, para mim, com a rescisão, foi uma oportunidade de fazer um projeto pessoal. Nem sempre todo mundo pode, mas tem esse lado positivo de renovação."

Estadão
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