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CEOs estão atentas à questão de gênero

4 jun 2018 - 10h14
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O que as executivas Denise Santos, Erica Takeda, Fiamma Zarife e Simone Soares têm em comum? Todas exercem cargos de comando em empresas de grande porte e atuam em setores tão diversos quanto o hospitalar, químico e de alimentação. Tanto para homens quanto para mulheres, chegar ao posto mais alto de uma companhia não é tarefa fácil, mas tem se mostrado especialmente difícil para profissionais do sexo feminino - ou a Bolsa de Nova York não teria demorado 226 anos para identificar em seus quadros uma moça capaz de comandar os negócios. Stacey Cunningham começou como estagiária na Nyse em 1994 e desde o mês passado preside a maior bolsa de valores do mundo. Não deixa de ser uma boa notícia, mas as mulheres ainda estão longe do topo empresarial. Um levantamento divulgado em janeiro pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostrou que entre 5% e 10% das empresas brasileiras têm mulheres no primeiro escalão, mesmo patamar de China, Itália, México e Espanha. Na Finlândia, Reino Unido e Suécia esse índice sobe para 20%. Denise, Erica, Fiamma e Simone dizem que não há um único caminho para chegar lá, mas elas têm uma particularidade em comum: começaram na base da pirâmide corporativa, circularam por várias áreas dentro das empresas e, garantem, não se preocuparam muito com a questão de gênero - embora as executivas não neguem que ela faz diferença. "Em mais de uma ocasião tive o meu estilo de comando questionado, especialmente por homens cuja atitude é a de terra arrasada", lembra Fiamma Zarife, CEO do Twitter. No final das contas, afirma a executiva, o que importa é entregar o resultado. "E eu sempre entreguei", declara. No mundo, 30% da força de trabalho do Twitter é formada por mulheres e, segundo Fiamma, essa proporção entre os sexos é um pouco maior na unidade do Brasil. Relevância. Foi a capacidade de recuperar uma empresa em dificuldade que levou Denise Santos ao comando da centenária BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Depois de 18 anos de Siemens, a engenheira foi contratada para reestruturar a rede de hospitais São Luis. Os resultados foram tão relevantes que, depois de cumprir o acordo de não concorrência, Denise foi parar na BP para novo processo de reestruturação. "Tive mais dificuldade por começar muito jovem do que por ser mulher", conta. Denise se diz atenta às questões da diversidade e inclusão. "Acredito que quanto mais diferenças a gente tiver dentro da equipe, mais diversificadas serão as possibilidades de solução para problemas e de inovação", diz a executiva, que comanda um exército de 7,5 mil funcionários, sendo 70% do sexo feminino. "Adoraria não ter mais que tratar da questão de gênero, mas ainda estamos longe desta realidade". Compromisso. Érica Takeda, CEO da alemã Brenntag, passou 26 anos de sua trajetória na Dow Química, onde começou como estagiária. Em 2015, foi a primeira mulher a ocupar a diretoria de produtos da empresa. "Você se cobra bastante, mas a recompensa vem quando o resultado aparece." Para Érica, o mais importante para a liderança é não assumir que talvez não seja um bom momento promover alguém pelo fato de ela ter acabado de voltar da licença maternidade, por exemplo. "Não parta de pressupostos. Deixe que o funcionário ou funcionária decida o melhor momento. Em algumas ocasiões percebi que meu líder queria me proteger." A executiva diz que está atenta às questões de inclusão, lembrando que, dos cinco principais executivos de seu time, três são mulheres e uma é signatária do Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs, da sigla em inglês), iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) de promoção da igualdade entre homens e mulheres no local de trabalho e na sociedade. Cento e cinquenta companhias brasileiras assinam o compromisso. Futuro. Antes de aportar na Puratos, empresa belga que produz insumos para panificação, confeitaria e chocolates, Simone Torres Soares trilhou uma longa carreira internacional que permitiu que ela identificasse diferenças culturais entre países e entre estilos de liderança. Hoje, diz Simone, sua principal preocupação é garantir um bom ambiente de trabalho a seus funcionários. "Nunca estive em ambientes tóxicos, mas isso não quer dizer que eles não existam", afirma. CEO Por 1 Dia. Além da semelhança nas trajetórias e desafios, as executivas têm outro ponto em comum. Elas participam do CEO Por 1 Dia, programa internacional da consultoria Odgers Berndtson, realizado no Brasil em apoio do Estado, PDA International, Machado Meyer Advogados e Centro de Carreiras da FGV Eaesp. Voltado para o público universitário que esteja prestes a concluir o curso, o programa CEO Por 1 Dia vai selecionar 23 estudantes para acompanhar integralmente um dia do comandante das empresas participantes. As inscrições vão até o próximo dia 29 e podem ser realizadas pelo hotsite especialmente criado para o programa, que também traz para os interessados o regulamento sobre o processo de seleção (www.ceox1dia.com.br). Agenda. "Vamos ter uma agenda normal para que o ou a estudante tenha contato com a nossa realidade, que não é fácil, mas é prazerosa quando se faz o que gosta", afirma Simone, da Puratos. Fiamma, do Twitter, diz que, além de manter a agenda corrida do dia a dia, ela sempre busca abrir espaço para participar de eventos relacionados à pauta feminina. "Embora minha realidade seja diferente do que acontece lá fora, o mundo corporativo tende a ser inóspito e, às vezes, muito hostil. O que me anima é que a questão de gênero não está na pauta da minha filha de 13 anos. Isso é um bom sinal", completa ela. "O ideal será quando esse debate deixar de existir porque a equidade de gênero será algo natural. Mas, até lá, é preciso promover o debate", afirma Denise, da BP.

Estadão
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