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BBB e sua carreira: como o Big Brother pode te ajudar no mercado de trabalho

Estrategistas comentam comportamentos refletidos do 'Big Brother Brasil' para o mercado de trabalho e mostram como minimizar problemas e potencializar a inteligência emocional

5 mar 2021 - 18h20
(atualizado em 17/3/2021 às 12h08)
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O Big Brother Brasil 21, reality show exibido pela TV Globo desde 25 de janeiro, ultrapassou a barreira do entretenimento e se transformou em tema de diferentes reflexões sobre o comportamento humano nos mais diversos ambientes sociais. Sobrou até para o mercado de trabalho. Uma busca rápida no LinkedIn pelos termos "Projota" e "Karol Conká", rappers que deixaram o BBB com alto nível de rejeição - 91,89% e 99,17%, respectivamente -, traz centenas de resultados que vão além de notícias relacionadas aos artistas.

"O comportamento tóxico no ambiente de trabalho", "Quem nunca teve um chefe como a Karol Conká?", "Aprendendo sobre imagem pessoal com o BBB 21", "Já parou para pensar que você pode ser um líder Karol Conká?", "A saída da Karol Conká e o desligamento de uma pessoa de uma empresa". Esses são apenas alguns dos temas de artigos e análises de profissionais de várias áreas na plataforma.

Mas é realmente possível relacionar o comportamento dos participantes do BBB com o mercado de trabalho? "Transpor de maneira fidedigna, não. O Big Brother Brasil é um programa em que os participantes estão sob pressão contínua - o que não acontece no mundo corporativo. E é preciso ter senso crítico para diferenciar entretenimento de vida real. Apartando esses dois elementos, pessoas são pessoas tanto na TV como fora dela: podem ser tóxicas, amáveis, acolhedoras, competitivas e gentis", acredita o estrategista de comunicação - e consumidor voraz de reality shows - Marc Tawil.

Para a coach e especialista em comunicação Milena Serro, por mais que seja um reality show, dá para tirar reflexões e aprendizados para o mundo do trabalho. "Há coisas que dá para perceber também no mundo corporativo, ainda que muita gente diga que é diferente porque lá dentro são personagens. É muito difícil bancar um personagem por três meses e mesmo dentro das organizações as pessoas acabam vestindo máscaras. Então, dá para tirar insights sobre conflitos, pressão e relações humanas e aplicar na carreira."

Confira a seguir os pontos de atrito comportamentais e o que deve ser evitado no trabalho, segundo especialistas:

Comportamento de manada

No BBB, um posicionamento - ou a ausência dele - pode levar ao paredão e à eliminação. Esse, talvez, seja um dos pontos mais fáceis de transpor para o mundo real. "É o posicionamento da Pocah (a cantora Viviane Pereira, conhecida como Pocah, que dorme bastante e não se envolve muito com a casa). Nas organizações, tem gente que estrategicamente, de forma consciente, prefere não opinar sobre nada. E tem gente que tem dificuldade de se posicionar com firmeza", destaca Milena.

O Big Brother Brasil ultrapassou a barreira do entretenimento e se transformou em tema de reflexões sobre o comportamento humano nos mais diversos ambientes sociais.
O Big Brother Brasil ultrapassou a barreira do entretenimento e se transformou em tema de reflexões sobre o comportamento humano nos mais diversos ambientes sociais.
Foto: 'BBB 21' / TV Gobo / Reprodução / Estadão

"Pode até ser uma estratégia boa, pois garante a sua estabilidade, mas você perde a oportunidade de ser visto pelas pessoas. Às vezes, é preciso se arriscar, se posicionar, ficar conhecido."

O problema de não se posicionar pode ir além de passar despercebido e acabar provocando a impressão de ser alguém que corrobora com atitudes negativas. No BBB, a participação da cantora Karol Conká ficou marcada por episódios de ataques e perseguições a outros participantes, com falas xenofóbicas.

As atitudes levaram a cantora à maior eliminação do programa, mas também fizeram com que o público questionasse o comportamento passivo dos outros participantes que presenciaram as atitudes de Karol, no famoso efeito manada (quando indivíduos repetem as ações de uma pessoa, ainda mais se ela tiver algum poder).

"Pessoas tóxicas assim existem aos montes no mundo do trabalho e elas crescem e se estabelecem porque lhes dão espaço e liberdade. Tristemente, são igualmente usadas como cães de guarda por gestores que se isentam de suas responsabilidades", diz Marc.

"O efeito manada no mercado de trabalho é compreensível. Primeiro, pelo medo de perder o emprego. Depois, pelo alívio psicológico de não serem elas as maltratadas. Acontece que, quando o outro é maltratado, sermos os próximos é questão de tempo", completa.

Influenciável X Influenciador

Outro ponto do programa que pode ser relacionado com o mundo real é a dinâmica de ser influenciador ou influenciável. Em um dos jogos promovidos pela produção, os participantes precisam escolher quem, entre eles, influencia e quem é influenciado.

Na TV, o resultado é quase sempre negativo. Ser colocado como influenciável ou influenciador, geralmente, é atribuído e recebido como uma ofensa. Mas na vida real a dinâmica é um pouco menos maniqueísta e, em alguma medida, todo mundo tem um pouco dos dois lados.

"Em termos de mercado, o que precisamos é desenvolver consciência crítica e pensar em como você quer fazer isso com as pessoas e a serviço do que você está usando o seu poder de influência ou se permitindo ser influenciável. Precisamos de pessoas questionadoras dentro das organizações, que usem as ferramentas de influência com consciência. Se for para mudar a perspectiva e a opinião, está tudo bem, mas vai ocorrer porque ouvi outras fontes, tive outras vivências e isso me levou a um novo posicionamento", destaca Milena.

A arte de reerguer a carreira

O grande ponto desta edição do BBB é a reconstrução das carreiras daqueles participantes que acabaram sujando a imagem aqui fora - principalmente os que já tinham carreiras artísticas consolidadas. É claro que com as pessoas públicas as diretrizes são diferentes, mas do lado de cá também há carreiras que são marcadas por grandes erros, demissões conturbadas e reputações estremecidas. O que fazer nesses casos?

"O principal é o caminho do reconhecimento. Reconhecer o erro e se desculpar são importantes, mas não basta. É preciso mostrar atitudes diferentes, mostrar que está se desenvolvendo. As reputações são construídas ao longo dos anos e, às vezes, a gente as destrói em pouco tempo", explica Milena.

A boa notícia é que, apesar de não ser uma mudança pontual, que acontece do dia para a noite, há solução. O caminho, acreditam os especialistas, passa pelo autoconhecimento e pela inteligência emocional.

Identifique e entenda suas emoções

Inteligência emocional é a capacidade de reconhecer suas emoções e as do outro para que, perante um contexto de interação social - seja na vida pessoal ou no trabalho - você possa equilibrar esse relacionamento da melhor forma possível. Não saber lidar com as próprias emoções e, com isso, não construir relações saudáveis e produtivas foi, talvez, o principal fator que prejudicou a permanência de alguns participantes no BBB.

Quando buscado no LinkedIn, o termo “Karol Conká” aparece em artigos e análises de profissionais de várias áreas.
Quando buscado no LinkedIn, o termo “Karol Conká” aparece em artigos e análises de profissionais de várias áreas.
Foto: Reprodução/Rede Globo / Estadão

É preciso levar em consideração o contexto atípico do ambiente proposto pelo programa, mas a inteligência emocional é fundamental para sobreviver ao mercado de trabalho 4.0, altamente competitivo, segundo Ana Paula Arbache, pós-doutora em educação e docente dos cursos de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

"Quando você não tem esse autoconhecimento das suas emoções, é muito fácil você cair na cilada que o ambiente te apresenta. Nesse ambiente de trabalho em que estamos vivendo de muita incerteza e alto risco, a maioria das pessoas está muito desequilibrada", diz Ana Paula. A especialista ainda afirma que para as pessoas que ocupam cargos de liderança, a inteligência emocional é fundamental para um bom relacionamento com a equipe.

Segundo o relatório Futuro do Emprego, realizado pelo Fórum Econômico Mundial e divulgado em outubro de 2020, 85 milhões de empregos podem ser substituídos por uma mudança na divisão de trabalho entre humanos e máquinas, enquanto 97 milhões de novos papéis podem surgir e serem adaptados à nova divisão do trabalho entre humanos, máquinas e algoritmos. Tudo isso até 2025.

Ana Paula destaca essa projeção para ressaltar como grande parte dos executivos não estão preparados para esse ambiente do trabalho desafiador e competitivo. "O que eu vejo é que executivos não estão preparados com esse arcabouço emocional. Tudo aconteceu muito rápido no início do século 21 com as transformações digitais e exigiu-se pouca competência deles em termos de inteligência emocional", acredita a especialista.

"A inteligência emocional traz a capacidade de encarar o mundo como ele é. Se a gente se fragiliza ou entra em uma narrativa frágil, a gente só vai aumentar o fosso entre a nossa capacidade produtiva e o que a empresa precisa." E parte do processo de autoconhecimento, completa ela, é praticar a autocrítica. "A inteligência emocional ajuda na autocrítica, porque ela faz o indivíduo refletir se ele consegue lidar bem com aquelas emoções ou não. Ou se ele precisa melhorar sua capacidade de entender o outro."

Como trabalhar a inteligência emocional?

"A inteligência emocional só vai evoluir a partir do momento em que você cai, levanta, conversa com pessoas diferentes, testa coisas novas, faz um movimento diferenciado e se coloca à disposição do outro para escutar o que ele tem a falar sobre você", explica Ana Paula.

"É assim que você vai criando um arcabouço produtivo de pensar nas suas emoções. Mas você tem que estar disposto a isso. E quando você não consegue dar conta disso sozinho, existem terapias especializadas e ferramentas de autoconhecimento", completa.

Para a professora da FGV, as pessoas que ocupam cargos de liderança e precisam trabalhar a inteligência emocional para construir relações saudáveis com a equipe precisam ter o apoio do departamento de RH ou mesmo de uma área especializada em assistência social dentro da empresa.

"Um funcionário que não trabalha a inteligência emocional pode se tornar ansioso, ir para um estágio de burnout ou outros efeitos colaterais", diz.

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Estadão
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