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Com greve dos caminhoneiros, vendas do varejo recuam 0,6% em maio ante abril

Trata-se da primeira queda do indicador no ano; na comparação com o mesmo período de 2017, houve alta de 2,7%

12 jul 2018 - 09h50
(atualizado às 22h53)
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RIO - A paralisação dos caminhoneiros durante 11 dias no fim de maio fez todas as atividades do varejo ampliado (varejo e mais as atividades de veículos, motos, partes e peças e de Material de construção) mostrarem perda de ritmo em relação a abril, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Comércio divulgados quinta-feira, 12, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As vendas do comércio varejista caíram 0,6% em maio ante abril, na série com ajuste sazonal.

O resultado é a primeira queda do indicador em 2018 e veio dentro do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam desde uma queda de 3,90% a ligeiro avanço de 0,10%, com mediana negativa de 0,70%.

Na comparação com maio de 2017, sem ajuste sazonal, as vendas do varejo tiveram alta de 2,7% em maio de 2018. Nesse confronto, as projeções iam de uma queda de 4,90% a alta de 4,60%, com mediana positiva de 2,80%. As vendas do varejo restrito acumularam crescimento de 3,2% no ano. No acumulado em 12 meses, houve avanço de 3,7%.

O único segmento a registrar expansão nas vendas foi o de supermercados, com avanço de 0,6%, menor do que o de 1,0% apurado em abril, impedindo uma perda ainda maior no varejo no período, observou Isabella Nunes, gerente na Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE. Embora o setor tenha sentido o desabastecimento de alimentos in natura, os estoques de não perecíveis permaneceram preservados.

"Supermercados são itens de primeira necessidade. É claro que o choque de oferta que aconteceu tem impacto nos preços. E o próprio período da greve, longa, de negociação difícil, causou alguma apreensão na população. Muitas pessoas foram ao supermercado para abastecer (estocar alimentos). Os produtos não perecíveis têm estoque renovado de 15 em 15 dias. Então não teve impacto no mês de maio", justificou Isabella.

No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, a perda foi de 4,9%, o pior desempenho desde setembro de 2012 (-9,6%) e a queda mais intensa para meses de maio de toda a série histórica, iniciada em 2004.

As quedas nas vendas de combustíveis (-6,1%) e de móveis e eletrodomésticos (-2,7%) puxaram a perda no varejo em maio ante abril. As demais reduções ocorreram em livros, jornais e revistas (-6,7%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-4,2%), artigos farmacêuticos e perfumaria (-2,4%) e tecidos, vestuário e calçados (-3,2%). O segmento de outros artigos de uso pessoal e doméstico ficou estável (0,0%) no mês.

No varejo ampliado, o volume vendido por material de construção caiu 4,3%, enquanto veículos e motos, partes e peças despencaram 14,6%, a mais intensa queda desde abril de 2010 (-16,2%).

"O resultado em relação a abril mostra disseminação de quedas", disse Isabella. "A perda generalizada corrobora a ideia de que foi um evento que impactou toda a atividade, trouxe menor ritmo para todas as atividades", completou.

Revisão. O IBGE revisou o resultado das vendas no varejo em abril ante março, de uma alta de 1,0% para uma elevação de 0,7%. A taxa de março ante fevereiro também foi revista, de 1,1% para 1,0%.

O resultado do varejo ampliado também sofreu revisão. A taxa de abril ante março passou de 1,3% para 1,5%. O resultado de março ante fevereiro saiu de 1,1% para 1,8%, enquanto o desempenho de fevereiro ante janeiro foi revisado de 0,8% para 0,0%.

'Surpreende'. O resultado de alta divulgado pelo IBGE surpreendeu positivamente a Federação de Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP). Segundo a entidade, era de esperar que o indicador viesse em retração, acompanhando do desempenho da indústria.

"A indústria retraiu 6,6% em maio e, com todas as categorias no negativo, se esperava que o varejo pudesse acompanhar esse desempenho, não necessariamente na mesma magnitude, mas na tendência", disse a entidade, em nota.

"O comércio teve a vantagem de o mês de maio ser tradicionalmente importante nas vendas por conta do Dia das Mães, o que ajudou a minimizar os impactos negativos da greve", explica o documento, citando também um efeito de antecipação de compras nos supermercados.

A Fecomercio-SP avaliou que os reflexos da paralisação se estenderam para o início de junho e podem prejudicar o resultado do mês, já que houve antecipação e estocagem de alimentos pelas famílias.

De qualquer modo, a reação da economia tem ocorrido de forma mais lenta do que o esperado pela entidade, diz a nota. "Os índices de confiança da Fecomercio, de consumidores e empresários, reverteram a curva e agora apresentam quedas seguidas. O alto nível do desemprego ainda assusta e a população não sentiu a inflação mais baixa. Com isso há um movimento de mais cautela no consumo e na contração de crédito", explica.

Estadão
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