Vendas do comércio varejista sobem 0,2% em agosto, após quatro meses de taxas negativas
Indicador acumula crescimento de 1,6% no ano; no acumulado em 12 meses, houve alta de 2,2%, ante avanço de 2,5% até julho
RIO - O comércio varejista interrompeu em agosto o viés negativo de meses anteriores. As vendas cresceram 0,2% em relação a julho, após quatro meses consecutivos de retração, segundo os dados da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgada nesta quarta-feira, 15, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"A leitura restrita, embora tenha vindo em linha com as expectativas, revela certa resiliência do varejo, com destaque para a retomada de crescimento de categorias como hiper e supermercados, que voltaram a registrar alta na margem (agosto ante julho)", observou o economista Gustavo Rostelato, da Armor Capital.
A despeito da melhora, o desempenho varejista ainda apoia o cenário de desaceleração da demanda doméstica no segundo semestre de 2025, avaliou a XP Investimentos.
"Atividades mais dependentes de condições de crédito têm recuado em meio ao cenário de altas taxas de juros e aumento do endividamento das famílias. Enquanto isso, atividades altamente ligadas ao crescimento da renda têm apresentado melhor desempenho (embora abaixo do observado nos últimos anos) graças ao mercado de trabalho ainda robusto e transferências fiscais elevadas", afirmou a XP, em relatório.
Após alcançar em março deste ano o patamar recorde de vendas da série histórica, o varejo engatou retrações em abril (-0,3%), maio (-0,4%), junho (-0,1%) e julho (-0,2%), voltando ao positivo em agosto (0,2%).
"A novidade é que parou de cair", disse Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE. "O varejo tinha uma base de comparação alta. O início do ano foi mais forte."
Segundo Santos, apesar da política monetária contracionista, o crédito permanece oscilando. Em agosto, disse ele, houve aumento nas concessões de crédito para pessoas físicas e para aquisição de automóveis, a despeito do juro alto.
"Os juros têm efeito no crédito, e o crédito vai ter efeito no consumo. Nesse mês, por exemplo, o crédito cresceu, tanto o crédito para pessoa física quanto o crédito para aquisição de veículos. E o crédito a pessoas físicas cresceu mais", notou o pesquisador do IBGE.
Para Santos, o que tem limitado um crescimento mais substancial no varejo é a base de comparação já elevada, uma vez que as vendas alcançaram um pico histórico em março de 2025, registrando oscilações próximas à estabilidade nos meses seguintes.
"Então é um cenário em que a base alta dificulta o crescimento", afirmou ele. "É difícil manter a expansão quando as vendas já estão em patamar muito alto."
As vendas no varejo ainda são sustentadas pelo bom desempenho do mercado de trabalho, com avanço no número de ocupados, alta na renda real e expansão da massa de salários. Além disso, a inflação deu trégua nos últimos meses, frisou Santos.
"São vetores que podem ser levados em consideração para entender essa estabilidade (das vendas) na alta", pontuou.
Na passagem de julho para agosto, houve taxas positivas em cinco dos oito setores varejistas pesquisados: equipamentos de informática e comunicação (4,9%), vestuário e calçados (1,0%), artigos farmacêuticos e de perfumaria (0,7%), móveis e eletrodomésticos (0,4%) e supermercados (0,4%).
"O Dia dos Pais ajudou vestuário e calçados", disse Santos. "Mas o Dia dos Pais não é tão forte (para o varejo) como o Dia das Mães e outras efemérides."
Houve reduções no volume vendido por livros e papelaria (-2,1%), combustíveis (-0,6%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui as lojas de departamento (-0,5%).
No comércio varejista ampliado - que inclui as atividades de veículos, material de construção e atacado alimentício-, as vendas cresceram 0,9% em agosto ante julho. O volume vendido por veículos teve alta de 2,3%, enquanto material de construção subiu 0,1%. O segmento de atacado alimentício não possui divulgação nessa comparação por não acumular número suficiente de meses para submissão à modelagem de ajuste sazonal.
Em agosto, as vendas no varejo operavam em patamar 0,7% abaixo do nível recorde visto em março de 2025. O varejo ampliado funcionava 2,8% aquém do pico histórico também alcançado em março.
Na comparação com agosto de 2024, sem ajuste sazonal, as vendas do varejo tiveram alta de 0,4% em agosto de 2025. No varejo ampliado, o volume vendido recuou 2,1%.
Nos próximos meses, o varejo tende a manter um crescimento em ritmo modesto, previu a consultoria Tendências.
"Dentre os aspectos favoráveis, o mercado de trabalho, com taxas de desocupação em níveis historicamente reduzidos, ainda contribui para a expansão do consumo, embora esse efeito deva diminuir à medida que os sinais de desaceleração se intensifiquem. Além disso, as recentes medidas de estímulo à demanda e a redução da inflação e do câmbio com efeitos nos preços dos bens ajudam a preservar o poder de compra das famílias. Por outro lado, o agravamento das condições financeiras, refletido tanto nas altas taxas de juros bancários quanto no aumento da inadimplência, continua como o maior obstáculo ao consumo das famílias. Esse cenário resulta em uma evolução mais tímida das concessões de crédito, o que acaba por restringir o impulso das compras", justificaram os analistas Isabela Tavares e Diogo Oliveira, em relatório da Tendências./Colaboraram Caroline Aragaki e Francisco Carlos de Assis