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Turquia compra 1.357% mais da Venezuela e importa mais de US$ 800 mi em ouro

Em seis meses, importação de produtos venezuelanos pela Turquia disparou 1.357%; Erdogan e Maduro trocam afagos na imprensa e em redes sociais

16 ago 2018 - 04h10
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As diferenças cada vez maiores entre Ancara e o Ocidente têm levado a Turquia a buscar novos parceiros comerciais e um dos países que mais ganhou espaço foi a não menos controversa Venezuela. Dados do Instituto de Estatísticas da Turquia mostram que a importação de produtos venezuelanos disparou 1.357% nos seis primeiros meses de 2018. Em seis meses, turcos compraram US$ 879,6 milhões dos sul-americanos e 93% desse valor foi apenas com importação de ouro.

O regime de Nicolás Maduro parece ter encontrado em Recep Erdogan uma nova fonte de financiamento. Diante das sanções impostas a Caracas nos últimos anos por vários países e com a deterioração da capacidade de produção de petróleo da estatal PDVSA, o governo sul-americano acelerou a venda de ouro para a Turquia, o que garantiu US$ 817,9 milhões no primeiro semestre de 2018. Os dados do Instituto de Estatísticas da Turquia mostram que esse único item representa 93% de todas as importações de mercadorias venezuelanas feitas pelos turcos.

"Cada vez mais isolada do sistema financeiro internacional, a Venezuela tem procurado financiamentos alternativos e esses números mostram que, claramente, estão usando a Turquia", avalia o sócio da consultoria Ecoanalítica em Caracas, Alejandro Grisanti. "O governo turco parece se alinhar ao grupo de apoiadores incondicionais a Maduro que é liderado pelos russos", diz.

Antes dessa parceria entre Ancara e Caracas, o país sul-americano sempre manteve uma posição modesta na lista dos maiores parceiros comerciais dos turcos. Em 2016, venezuelanos ocuparam a 100ª posição na lista das economias que mais vendiam aos turcos. No ano seguinte, estiveram em 90º lugar. Nos últimos meses, porém, os embarques dispararam, a Venezuela deu um salto e já ocupa a 34ª posição. Com isso, os sul-americanos já são mais importantes no comércio turco que o Iraque, Austrália ou Irlanda.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula que Caracas perdeu quase 25 toneladas de ouro das reservas internacionais no último ano. Dados relativos a abril de 2018 indicavam que o Banco Central da Venezuela mantinha 164,2 toneladas de ouro nas reservas internacionais. Um ano antes, eram 188 toneladas.

Alejandro Grisanti nota que, além da possível venda das reservas, a Venezuela também exporta ouro diretamente através das grandes mineradoras que foram nacionalizadas em 2011 ainda no governo Hugo Chávez. "O problema é que, nas mãos do governo, o setor está totalmente envolvido em corrupção e avaliamos que apenas um terço da produção é declarada oficialmente", diz o economista.

A consultoria Ecoanalítica estima que o ouro já deve representar cerca de 10% do total das exportações da Venezuela. "O petróleo já respondeu por 95% das nossas exportações mas, com as sanções e a situação da PDVSA, acreditamos que hoje esteja por volta de 80%", diz o economista.

Cada vez mais isolados, Erdogan e Maduro trocam afagos na imprensa e em redes sociais

Dez mil quilômetros separam as capitais da Turquia e Venezuela. Apesar da distância, os presidentes Recep Tayyip Erdogan e Nicolás Maduro nunca estiveram tão próximos. Enquanto países do Ocidente impõem sanções crescentes a Ancara e Caracas, elogios mútuos entre os líderes são cada vez mais frequentes.

O grande ponto de aproximação entre Erdogan e Maduro ocorreu em outubro do ano passado, quando o venezuelano foi à Turquia em visita oficial com uma grande comitiva. Nos encontros, os governos assinaram uma série de acordos na área econômica, comercial, segurança, transporte aéreo, agricultura e turismo.

A intenção dos países era acelerar o comércio bilateral para US$ 2 bilhões por ano em 2018. Nos seis primeiros meses do ano, a corrente de comércio já somou US$ 944 milhões. Mantido o ritmo, portanto, a meta poderá ser alcançada.

Desde então, os afagos entre os dois presidentes são cada vez mais frequentes na imprensa oficial e redes sociais. No último dia 15 de julho, por exemplo, Maduro interrompeu a agenda para comemorar o "dia da democracia e da unidade nacional da Turquia". "Neste dia significativo, o povo bolivariano rememora o espírito democrático do glorioso e heroico povo turco que frustrou o violento atentado contra o estado de Direito na noite de 15 de julho de 2016", disse.

Naquela noite de 2016, um grupo de militares tentou derrubar o presidente turco que está no poder desde 2002. A tentativa de golpe foi frustrada pelas forças oficiais em um episódio que acabou endurecendo ainda mais o governo Erdogan. Apoiado por forças conservadoras e boa parte dos muçulmanos, o presidente é acusado de perseguir opositores e cristãos.

No início de agosto, foi a vez do governo turco. Na ação classificada por Caracas como ataque terrorista contra Maduro, o Ministério de Relações Exteriores de Erdogan emitiu uma nota para declarar "irmandade e amizade com o povo da Venezuela e o presidente Maduro". Na ocasião, Ibrahim Kalin, porta-voz de Erdogan, pediu que "mi amigo" permanecesse forte.

Em meio a afagos desse tipo, o ministro da Cultura da Venezuela, Ernesto Villegas, se reuniu com o embaixador turco no fim de julho e reconheceu que a aproximação dos países é uma reação ao cerco liderado pelos Estados Unidos. "Nós queremos tirar proveito das campanhas contra a Turquia e a Venezuela. Já que nos atacam tanto, vamos converter isso em um elemento atrativo para fazer frente à demonização e satanização".

Estadão
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