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Trump volta a criticar alta de juros e diz que Fed 'enlouqueceu'

Comentário do presidente dos Estados Unidos sobre o BC americano vem após forte queda nos mercados acionários em Nova York; índice Nasdaq recuou mais de 4%, maior queda desde junho de 2016

10 out 2018 - 20h23
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a fazer críticas à política de elevação das taxas de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e afirmou que a autoridade monetária do país "enlouqueceu" com as medidas de aperto. "Eu acho que o Fed está cometendo um erro. O Fed está muito apertado. Acho que o Fed enlouqueceu", disse Trump antes de um comício a ser feito em Erie, na Pensilvânia.

Os comentários do líder republicano vêm após uma forte onda de vendas que afetou os mercados acionários em Nova York, fazendo com que o índice Dow Jones enfrentasse o pior desempenho diário desde fevereiro e o Nasdaq recuasse mais de 4%, no pior dia desde junho de 2016. Sobre esse fato, um assessor da Casa Branca disse à rede de TV americana CNBC que a baixa expressiva nos mercados americanos "é provavelmente algo saudável. A economia americana permanece forte."

Trump comentou, ainda, que o movimento dos mercados é "uma correção, algo que estávamos esperando há algum tempo, mas eu realmente discordo do que o Fed está fazendo". O banco central americano elevou os juros três vezes este ano e sinalizou que pretende aumentar as taxas mais uma vez até o fim deste ano. Além disso, o Fed indicou, no mês passado, que pretende aumentar mais três vezes os juros em 2019 e mais uma vez em 2020. Na terça-feira, Trump já havia dito que o banco central americano estava elevado os juros muito rapidamente.

Dow Jones e Nasdaq despencam

As bolsas em Nova York fecharam em forte queda nesta quarta-feira. A possibilidade de um aperto mais rigoroso por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) se aliou às maiores tensões entre Estados Unidos e China e às perspectivas de expansão econômica global mais amena e desencadeou um movimento de liquidação entre os índices nova-iorquinos.

O índice Dow Jones fechou em queda de 3,15%, para 25.598,74 pontos, enquanto o S&P 500 caiu 3,29%, para 2.785,68 pontos, ambos com as baixas mais intensas desde fevereiro. Já o Nasdaq encerrou em baixa de 4,08%, para 7.422,05 pontos, maior recuo desde 24 de junho de 2016. Já o índice de volatilidade VIX, considerado o "medidor de medo" de Wall Street, fechou no maior valor desde abril - com salto de 43,95%, aos 22,96 pontos.

A onda de vendas que atingiu as bolsas de Nova York se deu, quem diria, em meio ao otimismo com o desempenho da economia americana à medida que bancos como UBS e Goldman Sachs elevaram a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país no terceiro trimestre, gerando a expectativa de que o Fed possa elevar juros ainda mais aceleradamente do que se previa. Todo o pânico com as ações americanas gerou procura por ativos considerados mais seguros, como o iene, o ouro e os títulos de curto prazo do governo, enquanto o dólar apresentou ganho generalizado em relação a moedas de mercados emergentes.

Nem os pedidos do presidente dos EUA, Donald Trump, para que o Fed seja mais lento ao normalizar o custo do dinheiro, adiantaram. "A questão levantada pelo presidente é justa, mas estou confortável com a trajetória de aperto prevista porque a economia dos EUA está indo muito bem", afirmou Charles Evans, que comanda a distrital de Chicago do banco central americano. Em painel realizado durante a tarde, o dirigente disse que a taxa de desemprego pode chegar a 3,5% e que os juros precisam continuar subindo no país.

Ainda há a perspectiva de aceleração do índice de preços ao consumidor (CPI) dos EUA na passagem de agosto para setembro, que deve subir 0,2% ante 0,1% no mês anterior, como visto em pesquisa Broadcast feita com 32 estimativas de instituições financeiras. O material pode ser visto na íntegra em nota publicada às 15h39.

Ao mesmo tempo, continua no radar a tensão nas relações entre os EUA e a China. A secretária de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Kirstjen Nielsen, afirmou nesta quarta-feira, 10, que a China é uma das ameaças às eleições legislativas americanas de novembro monitoradas nacionalmente pelo seu departamento. "A China está, absolutamente, exercendo um esforço sem precedentes para influenciar a opinião americana", disse. Ações do setor industrial, especialmente sensíveis à temática, foram penalizadas, com a Boeing em queda de 4,66%, Caterpillar em baixa de 3,84% e 3M com recuo de 3,93%.

O otimismo com a economia americana, no entanto, contrasta com o desempenho global. O Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou a projeção de crescimento do PIB global de 3,9% para 3,7%, enquanto o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, advertiu que um cenário de guerra comercial total resultaria em uma redução de 1,9 ponto porcentual na expansão econômica mundial.

"A corrida de quase uma década no mercado de ações global está alimentando a ansiedade sobre sua capacidade de continuar. Uma preocupação é o possível estado frágil das bolsas, por um pequeno grupo de ações estar contribuindo para a maior parte dos retornos dos mercados este ano", afirmou o estrategista-chefe global de investimentos da BlackRock, Richard Turnill. Não por acaso, as techs, que lideram os movimentos de alta em 2018, foram as mais penalizadas: a Apple cedeu 4,63%, a Netflix despencou 8,38% e a Microsoft baixou 5,43%.

Estadão
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