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Trump deve estar sendo pressionado pela indústria local, diz ex-secretário de Comércio Exterior

Para Welber Barral, não faz sentido acusação do presidente americano de que Brasil e Argentina desvalorizam suas moedas

2 dez 2019 - 11h29
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Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da MJ Consultores, afirma não fazer sentido a acusação feita pelo presidente americano, Donald Trump, de que Brasil e Argentina desvalorizaram suas moedas, argumento usado como justificativa para a volta das tarifas sobre importação de aço e alumínio dos dois países. "É uma ameaça em cima de um fator que não é culpa nem do Brasil nem da Argentina, que é a desvalorização cambial."

Para Barral, a medida protecionista anunciada pelo presidente americano deve ser fruto da pressão da indústria local. A seguir, os principais trechos da entrevista:

O que significa esse anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de voltar a taxar as importações de aço e alumínio do Brasil e da Argentina, argumentando que os dois países promoveram uma desvalorização de suas moedas?

A exportação brasileira para os Estados Unidos é basicamente de aço. Há um ano e pouco, Trump colocou tarifa sobre o aço produzido por vários países. Na época, foram impostas cotas sobre as importações do Brasil e da Argentina, que continuaram exportando sem pagar tarifas. Agora, os EUA estão ameaçando colocar a mesma tarifa que cobram da China e de outros países sobre o aço brasileiro.

Faz sentido essa afirmação do Trump de que Brasil e Argentina desvalorizaram suas moedas?

Não, porque na realidade Brasil e Argentina não controlam o câmbio. Não existe controle estatal nem no Brasil nem na Argentina. A moeda desvalorizou-se por conta de outros fatores macroeconômicos.

Qual o impacto de uma decisão como essa no aço brasileiro?

Os Estados Unidos são um grande importador de aço brasileiro. A exportação no ano passado já tinha caído por causa das cotas. O Brasil exporta principalmente um tipo de aço que não é produzido lá. Esse foi um argumento no passado recente para os EUA não colocarem tarifas sobre o produto brasileiro.

Como avaliar então essa decisão do presidente americano?

É protecionismo. Provavelmente deve estar havendo alguma pressão de produtores locais e ele está usando esse argumento da desvalorização cambial para ameaçar colocar tarifas sobre os produtos do Brasil e da Argentina. Por enquanto é uma ameaça em cima de um fator que não é culpa nem do Brasil nem da Argentina. Precisa ver se essa ameaça vai se concretizar.

Estadão
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