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Trump adota retórica dura sobre comércio com a China na ONU, diz que não aceita "acordo ruim"

24 set 2019 - 12h10
(atualizado às 16h28)
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou duramente as práticas comerciais da China nesta terça-feira em um discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), dizendo que não aceitará um "acordo ruim" nas negociações comerciais entre EUA e China.

Trump fala na ONU 24/9/2019 REUTERS/Brendan Mcdermid
Trump fala na ONU 24/9/2019 REUTERS/Brendan Mcdermid
Foto: Reuters

Quatro dias após conversas inconclusas de negociadores norte-americanos e chineses em Washington, os comentários de Trump foram tudo menos conciliadores e enfatizaram a necessidade de corrigir abusos econômicos estruturais no centro da guerra comercial entre os dois países que já dura quase 15 meses.

Ele disse que Pequim não cumpriu as promessas que fez quando a China ingressou na Organização Mundial do Comércio em 2001 e que o país asiático estava realizando práticas predatórias que custaram milhões de empregos nos EUA e em outros países.

"A China não apenas se recusou a adotar as reformas prometidas, como abraçou um modelo econômico dependente de enormes barreiras de mercado, pesados subsídios estatais, manipulação cambial, dumping, transferências forçadas de tecnologia e roubo de propriedade intelectual e também de segredos comerciais em grande escala", afirmou Trump.

"No que diz respeito à América (EUA), esses dias acabaram."

Embora Trump tenha demonstrado esperança de que os EUA e a China ainda possam chegar a um acordo comercia, ele deixou claro que queria um acordo que reequilibrasse o relacionamento entre as duas superpotências econômicas.

"O povo norte-americano está absolutamente comprometido em restaurar o equilíbrio em nosso relacionamento com a China. Espero que possamos chegar a um acordo que seja benéfico para os dois países", disse Trump. "Como deixei bem claro, não aceitarei um acordo ruim."

Trump também disse recentemente que não estava interessado em um "acordo parcial" para aliviar as tensões com a China, dizendo que ele iria se apegar a um "acordo completo."

RETÓRICA DURA, AÇÕES CAEM

Os índices acionários dos Estados Unidos devolveram seus ganhos e passaram a operar em território negativo após o discurso de Trump na ONU, que alguns investidores disseram ter marcado uma reversão do tom mais construtivo em torno das negociações comerciais na semana passada.

"Os comentários de Trump na ONU foram muito antagônicos em relação à China. Nas últimas duas semanas, houve otimismo com a possibilidade de as trocas comerciais tomarem direção positiva", disse Chris Zaccarelli, diretor de investimentos da Independent Advisor Alliance.

"Foi o tom e o fato de ele listar detalhadamente todas as queixas que os EUA têm da China", disse Zaccarelli. "Todo esse otimismo comercial que vem sendo construído foi sugado e substituído pelo pessimismo."

O discurso de Trump destacou a situação da fabricante de chips de memória norte-americana Micron Technology, que se tornou um símbolo das afirmações norte-americanas de que a China falha em proteger a propriedade intelectual dos EUA e a rouba ou força a transferência. Há dois anos, a Micron acusou uma empresa estatal chinesa de roubar seus designs de chips.

"Logo, a empresa chinesa obtém patentes para um produto quase idêntico e a Micron foi proibida de vender seus próprios produtos na China", disse Trump, "Mas estamos buscando justiça."

Ele acrescentou que os Estados Unidos perderam 60 mil fábricas e 4,2 milhões de empregos na indústria desde que a China ingressou na Organização Mundial do Comércio.

"A retórica sobre a China e o discurso do presidente Trump foram os mais duros que já ouvimos", disse Art Hogan, estrategista-chefe de mercado da corretora National Securities Corp.

A principal autoridade da China na Assembleia Geral da ONU, o ministro das Relações Exteriores Wang Yi ficou em silêncio durante as declarações de Trump, não mostrando nenhuma reação diante das câmeras.

Wang deve falar sobre as relações EUA-China ainda nesta terça-feira em um evento de negócios em Nova York.

COMPRA DE SOJA PELA CHINA

O tom do discurso de Trump também estava em desacordo com algumas medidas recentes da China para atender ao seu pedido de compra de mais produtos agrícolas norte-americanos. Na segunda-feira, os importadores chineses compraram cerca de 10 carregamentos de soja dos EUA --cerca de 600 mil toneladas.

A comissão aduaneira da China excluirá certas quantidades de soja, carne de porco e outros produtos dos EUA de suas tarifas retaliatórias, informou a agência de notícias oficial Xinhua nesta terça-feira.

As compras foram feitas após as negociações comerciais da semana passada, que os lados dos EUA e da China caracterizaram como "produtivas". Pessoas familiarizadas com as negociações disseram que não foram apresentadas novas propostas chinesas e que os países concordaram em continuar as negociações em nível ministerial no início de outubro.

Em seu discurso na ONU, Trump também estabeleceu um vínculo entre a solução da disputa comercial entre EUA e China e o tratamento de Pequim a Hong Kong. Washington está "monitorando cuidadosamente a situação em Hong Kong", disse ele.

"O mundo espera plenamente que o governo chinês honre seu tratado vinculativo feito com os britânicos e registrado nas Nações Unidas, no qual a China se compromete a proteger a liberdade, o sistema jurídico e os modos de vida democráticos de Hong Kong", disse Trump. Hong Kong era uma colônia britânica até 1997.

"Como a China escolhe lidar com a situação dirá muito sobre seu papel no mundo no futuro. Todos estamos contando com o presidente Xi como um grande líder", acrescentou Trump.

Trump também abordou o comércio com o Japão em seu discurso, dizendo que ele e o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, na quarta-feira continuarão "nosso progresso na finalização de um novo e fantástico acordo comercial".

Ainda não está claro se os dois países assinarão o acordo em sua reunião bilateral ou se os pedidos japoneses por garantias de que Trump não imporá tarifas sobre os automóveis atrasarão o acordo final.

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