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Tom 'hawkish' de presidente do Fed limita alta do Ibovespa a 0,98%

26 jan 2022 - 18h57
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O desfecho sem surpresas da aguardada primeira reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em ano do qual se espera elevação de juros e retirada de estímulos foi recebido a princípio com alívio pelos investidores globais, trazendo um pouco mais de lenha para a recuperação do Ibovespa, que já vinha ocorrendo em janeiro mesmo nos dias mais negativos em Nova York.

À tarde, a referência da B3 tocou o cume do dia aos 112.694,60 pontos (+2,26%) minutos após o comunicado do Fed, mas depois perdeu força, ainda antes do início da entrevista coletiva do presidente do BC americano, Jerome Powell - que acabou por colocar os índices de NY no negativo no fechamento, à exceção do Nasdaq (+0,02%), com perdas entre 0,15% (S&P 500) e 0,38% (Dow Jones).

O cenário "altamente incerto", que exige adaptação e respostas em conformidade, mencionado por Powell na parte final da entrevista, tirou Wall Street de bons ganhos na sessão para perdas que chegaram à casa de 1% no pior momento. "Há risco de que a inflação possa ser mais persistente do que esperado", reconheceu o presidente do Fed, em parte da entrevista lida pelo mercado como bem mais "hawkish" do que o preâmbulo, aparando também a retomada do Ibovespa.

Na máxima intradia desta quarta-feira, o índice da B3 foi ao maior nível desde 19 de outubro passado, quando havia saído de abertura aos 114,4 mil pontos. Ao fim, mostrava alta de 0,98%, a 111.289,18 pontos, agora no melhor nível de encerramento desde 18 de outubro (114.428,18 pontos), saindo nesta quarta de abertura aos 110.206,50, quase equivalente à mínima do dia, de 110.204,45 pontos. Na semana, os ganhos estão agora em 2,15%, enquanto os do mês vão a 6,17%. Reforçado, o giro foi a R$ 40,2 bilhões na sessão.

O comitê de política monetária do Fed indicou nesta quarta que pretende começar a reduzir o balanço de ativos após o início do ciclo de alta do juro básico. Em comunicado, informou que a redução ocorrerá ao longo do tempo, "de forma previsível", principalmente ajustando os valores reinvestidos de pagamentos recebidos de ativos mantidos na Conta de Mercado Aberto do Sistema (Soma, na sigla em inglês).

"O comunicado divulgado após a reunião reforçou a visão de que a primeira elevação dos juros deve ocorrer na próxima reunião (de março), em provável alta de 0,25pp, além do fim do programa de compra de ativos no início de março", diz Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos.

"Veio tudo dentro do previsto, com elevação de juros a partir do mês de março, conforme o mercado já vinha precificando. No entanto, o comunicado não traz pistas de como será esse processo de elevação da taxa de juros, se serão três aumentos em 2022 ou além disso", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, chamando atenção também para a condução do processo de redução do balanço da instituição, sobre a forma como virá a ser feita.

Na entrevista coletiva após a decisão desta quarta-feira, a princípio Powell apontou não ser possível destacar agora o ritmo de alta dos juros, observando que o Fed, mais uma vez, será guiado pelos dados. "Estaremos prontos para ajustar o balanço de acordo com as circunstâncias", disse também o presidente do Fed, de forma um tanto evasiva.

Por outro lado, ele reiterou o compromisso do BC americano de não permitir que a inflação se enraíze. "No tempo apropriado, vamos dar mais informações sobre a redução do balanço", acrescentou Powell, observando também que o "juro será ajustado com comunicação adequada" e que "vamos ter ao menos mais duas reuniões para discutir redução de balanço", em tom "dovish" de agrado do mercado.

Contudo, a falta de uma diretriz muito clara contribuiu para que os três índices de ações em Nova York murchassem ao longo da entrevista do presidente do Fed, o que levou o Ibovespa a chegar a devolver mais da metade do entusiasmo visto logo após o comunicado desta quarta-feira. A parte final da entrevista de Powell foi lida pelo mercado em tonalidade bem 'hawkish', especialmente no momento em que se referiu à forte inflação nos Estados Unidos e a incertezas pendentes no cenário, que exigem adaptabilidade do Federal Reserve.

Em si, "a decisão do Fed veio em linha com a expectativa do mercado. Optou pela manutenção dos juros e reiterou sinal de que o ciclo de elevação de juros começa em março, com o compromisso de que atuará de forma apropriada e previsível, o que se refletiu em pouco efeito sobre o câmbio durante a sessão regular", diz Cristiane Quartarolli, economista do Banco Ourinvest. Nesta quarta, o dólar à vista fechou em leve alta de 0,11%, a R$ 5,4411.

Depois, "as declarações do presidente do Fed foram mais duras e o mercado virou", observa a economista, destacando a referência feita por Powell no sentido de que "a pressão nos preços poderá ser mais persistente". "Com isso, o mercado entende que a alta dos juros por lá poderá ser mais intensa. Por isso, a virada no comportamento do dólar agora", acrescenta Quartarolli.

No Brasil, o mercado segue atento também ao comportamento da inflação, especialmente pela ponderação entre renda fixa e variável suscitada pelo processo, ainda em curso, de elevação da Selic - nesta quarta foi a vez de conhecer, pela manhã, o IPCA-15 referente a janeiro, a 0,58%, ante 0,78% em dezembro.

"O IPCA-15 é uma ótima aproximação para o fechamento do mês. Em janeiro, teve desaceleração, mas veio acima do que o mercado esperava. 'Temos uma inflação ainda crescente, mas a taxas mais baixas, mês a mês. Podemos esperar novas quedas à frente, caso a política 'hawkish' do BC faça efeito aqui, como se espera que fará nos próximos meses", diz Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos.

Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, destaque para Grupo Soma (+9,76%), Petz (+7,33%) e Méliuz (+6,91%). No lado oposto, Braskem (-4,17%), Americanas ON (-3,51%) e JBS (-3,13%). Entre as blue chips, com o Brent negociado nesta quarta na casa de US$ 90 por barril, Petrobras ON e PN subiram respectivamente 2,93% e 2,67%, com Vale ON em alta de 0,29% no fechamento. Os bancos responderam bem à perspectiva de juros maiores e retirada de estímulos nos Estados Unidos, alinhando-se na maioria em alta após o Fed, à exceção de BB ON (-0,96%) entre os grandes bancos.

Estadão
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