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Título do Tesouro Direto perde selo de bom pagador

18 fev 2016 - 08h39
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Caixa registradora: S&P avalia que capacidade do governo de servir a dívida em real diminuiu
Caixa registradora: S&P avalia que capacidade do governo de servir a dívida em real diminuiu
Foto: Pixabay / O Financista

Muito se alardeou que o Brasil perdeu o selo de bom pagador pelas agências de rating no ano passado. Mas a classificação a que o mercado se referia serve para os investidores gringos, pois avalia a dívida emitida pelo governo em outras moedas no exterior. É o tal do rating em moeda estrangeira.

Quem investe nos títulos do governo emitidos em reais, o que interessa é o rating em moeda local. É essa classificação que o cidadão que aplica no Tesouro Direto deve olhar. Até ontem à tarde o Brasil era considerado um bom pagador da dívida que imprime dentro de casa. Mas no fim do dia as coisas mudaram.

Isso porque a Standard & Poor’s (S&P) tirou esse selo da dívida em moeda local do Brasil ontem, após já ter retirado da dívida externa em setembro do ano passado. A S&P deixou claro em seu comunicado que cortou o rating em moeda local em dois degraus de uma só vez ontem devido à piora das contas do governo. E disse com todas as palavras que a capacidade do governo de servir a dívida em real diminuiu.

“Rebaixamos o rating em moeda local em dois degraus para BB refletindo a forte deterioração no desempenho fiscal do Brasil, cuja reversão, agora esperamos, levará mais tempo do que o esperado. Uma maior flexibilidade política antes suportava nossa visão de capacidade moderadamente mais alta para servir a dívida denominada em Real emitida no mercado doméstico”, disse a S&P em comunicado.

O Ministério da Fazenda soltou uma nota para comentar a decisão da S&P, em que diz que "apesar do cenário atual de retração econômica, o país mantém a capacidade plena de honrar seus compromissos e cumprir com suas obrigações contratuais".

A S&P se junta assim à Fitch, que em dezembro retirou de uma vez só o grau de investimento das duas dívidas: a interna e a externa. Pela Moody’s, ambas as classificações ainda são grau de investimentos – mas elas estão em revisão para possível rebaixamento desde dezembro. O mercado considera que um país efetivamente é grau especulativo quando duas das três grandes agências assim o classificam.

 “Isso não é um bom sinal para o investidor brasileiro, ainda mais em um país que tem histórico de confisco de aplicadores”, diz Lauro Araújo, diretor da Las Consultoria de Investimentos. Segundo ele, são dois os fatores preocupantes no médio prazo: o crescimento galopante da dívida pública e a inflação resiliente.

“Há um confisco das aplicações por meio da inflação”, avalia Araújo, ao explicar que o governo reduz a sua dívida real com a inflação alta. “O governo já usou essa fórmula no passado, mas hoje ela não funcionaria tão bem, porque agora o governo tem cerca de 30% de sua dívida indexada à inflação. Então se os preços subirem, a dívida também sobe”, afirma. Em sua avaliação, um cenário como esse aumenta o risco de o governo tomar medidas heterodoxas.

As taxas de retorno dos títulos públicos não devem esboçar grande reação ao segundo corte de rating do Brasil pela S&P em menos de seis meses, avalia Roberto Indech, analista de investimentos da corretora Rico. Segundo ele, o mercado antecipa esse tipo de decisão.

“O mercado já vinha antecipando e grande parte da volatilidade já está no preço”, afirma o analista. Para ele, os riscos políticos e das contas fiscais devem trazer mais volatilidade do que as decisões das agências.

                           Ratings do Brasil
Agência Moeda estrangeira Moeda local Perspectiva Data da alteração
S&P BB BB negativa 17/02/2016
Fitch BB+ BB+ negativa 16/12/2015
Moody's Baa3 Baa3 sob revisão 09/12/2015
Fonte: Agências
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