Temer diz que não há risco de crise cambial no país nem volta de tabelamento de preços
Em dia de forte turbulência nos mercados financeiros no país, com disparada do dólar e forte queda do Ibovespa, o presidente Michel Temer disse que não há risco de crise cambial no país, atribuiu o dia complicado no mercado financeiro a fatores externos, embora tenha reconhecido também a instabilidade decorrente do quadro eleitoral, e rechaçou a volta do tabelamento de preços.
"Estamos muito comprometidos com o ajuste fiscal, a questão fiscal está inteiramente sob controle, tanto que os investimentos continuam ocorrendo. É claro que essa greve de caminhoneiros criou um problema, não podemos ignorar esse fato, mas criou um problema logo superado. Poderia ser muito mais grave", disse Temer em entrevista à emissora pública TV Brasil. "Não há risco (de crise cambial). É natural, o dólar varia muito."
O presidente justificou a alta do dólar no Brasil pela elevação dos juros nos Estados Unidos, lembrando que isso teve reflexo nas moedas de muitos países.
Temer garantiu que a questão fiscal está sob controle no Brasil e as reservas internacionais do país são muito significativas.
Ele reconheceu que o quadro eleitoral afeta diretamente a economia e as pessoas ficam "instáveis" com os resultados que as pesquisas apontam até agora, mas não há riscos para economia.
"Creio que os candidatos tomarão essa cautela de saber que o Brasil mudou muitíssimo, e que o eleitor vai querer são projetos", disse.
"Falas muitas vezes até exageradas, que não tem amparo na realidade... por exemplo, tem muito candidato que vem aí e diz que vai eliminar todas as reformas feitas. Isso desestabiliza o mercado", disse, numa possível referência ao pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, que já disse que revogará a reforma trabalhista se for eleito.
"Acho que pouco a pouco, quando chegar a campanha, os candidatos verificarão que o Brasil tem que ter uma continuidade naquele processo que se iniciou, com um ajuste fiscal rigorosíssimo."
Sobre a interpretação de que a determinação do governo de que o preço do diesel nos postos respeito o acordo acertado com os caminhoneiros represente uma volta ao tabelamento dos preços, o presidente rechaçou a possibilidade.
O dólar fechou em alta de 2,28 por cento, a 3,9258 reais na venda, maior patamar desde 1º de março de 2016. Na máxima do dia, a moeda norte-americana foi a 3,9684 reais.
Ao mesmo tempo, o Ibovespa, principal índice de ações da B3, caiu 2,98 por cento, a 73.851 pontos, menor patamar de fechamento desde 20 de dezembro do ano passado. No pior momento, o índice chegou a despencar 6,5 por cento.
Questionado sobre o porquê da população não relacionar avanços na economia com seu governo, Temer mostrou certa irritação. Disse que a equipe econômica não "caiu do céu".
"Claro que o nome era sempre indicado por mim, portanto a área econômica produziu muito adequadamente não porque as coisas caíram do céu, mas porque havia um presidente preocupado com a recuperação econômica do Brasil", afirmou.
INQUÉRITOS
Outro momento em que Temer se mostrou irritado foi quando questionado sobre as acusações de corrupção e os pedidos de quebra de sigilo bancário e, agora, telefônico. Chamou de "esquartejamento político e moral" as investigações que o envolvem e disse ainda que não há um movimento investigativo mas um movimento político contra ele.
"O tratamento que me dão é indigno, mas devo dizer isso porque estou sendo tão vilipendiado", afirmou.
"Eu não me incomodo com quebra de sigilo. Foi tão indevida... e mais uma vez tem o aspecto político. Porque não é quebra de sigilo do Michel Temer, é quebra de sigilo do presidente da República", disse.
"E agora chegam ao desplante de pedir a quebra de sigilo telefônico. Se quebrar fique à vontade, peguem todos os meus telefonemas, verifiquem com quem eu falei. Porque eles vão quebrar a cara."
O presidente teve o pedido de sigilo bancário autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso no inquérito em que é investigado por supostamente beneficiar com um decreto a empresa Rodrimar em concessões no porto de Santos.
Já o sigilo telefônico foi pedido pela Polícia Federal no inquérito em que é investigado em um esquema de pagamento de propinas ao MDB pela empreiteira Odebrecht. O pedido foi negado pelo relator no STF, ministro Edson Fachin, mas a entrevista para a TV Brasil foi gravada antes da decisão.