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Teles cobram transparência do governo na definição de tecnologia do 5G

As empresas não citam a Huawei, mas mencionam preocupações com preço, escala e inovação, que são características atribuídas à companhia chinesa, líder mundial no 5G

27 nov 2020 - 12h07
(atualizado às 19h03)
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BRASÍLIA - Após semanas de sinalizações de alinhamento com os Estados Unidos por parte do governo Jair Bolsonaro na política de banir a chinesa Huawei do 5G, as principais teles que atuam no País decidiram cobrar transparência nas decisões a respeito da tecnologia. Preocupadas com as "incertezas" no processo, o Conexis Brasil Digital divulgou nota oficial em que pede para que as operadoras participem das discussões e pregou que elas sejam feitas de forma ampla e a partir de critérios técnicos.

"Diante do nosso papel fundamental na implementação da tecnologia no País, e preocupadas com as incertezas geradas por essas discussões, ressaltamos a necessidade de transparência de todo o processo, prezando assim pelo princípio fundamental da livre iniciativa presente em nossa Constituição Federal", diz a nota do Conexis Brasil Digital.

A tecnologia 5G é a quinta geração das redes de comunicação móveis. Ela promete velocidades até 20 vezes superiores ao 4G. Em ambiente controlado, as redes 5G podem ter velocidades de até 1 gigabit por segundo (Gbps). Assim, permite um consumo maior de vídeos, jogos e ambientes em realidade virtual. Além disso, promete reduzir para menos da metade a latência, tempo entre dar um comando em um site ou app e a sua execução - dos atuais 10 milissegundos para 4 ms. Em algumas situações, a latência poderá ser de 1 ms, importante, por exemplo, para o desenvolvimento de carros autônomos.

"Esse ambiente de incertezas pode impactar o desempenho do setor, pois eventuais restrições implicarão potenciais desequilíbrios de custos e atrasos ao processo, afetando diretamente a população", diz a nota.

As empresas não citam a empresa chinesa, mas mencionam preocupações com preço, escala e inovação, que são características atribuídas à Huawei, líder mundial no 5G. "Questões como preço, escala mundial e inovações tecnológicas dos fornecedores hoje presentes no País são determinantes para que as melhores soluções e custos competitivos do serviço possam ser oferecidos pelas operadoras aos cidadãos", diz a nota.

Também sem fazer referência direta à Huawei, as operadoras destacam que "todos os fornecedores globais já atuam no País nas tecnologias 4G, 3G e 2G". A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estima que a empresa chinesa esteja em algo entre 35% e 40% das redes brasileiras atualmente em operação. As operadoras, no entanto, afirmam que essa fatia é ainda maior, de 45% a 65% entre as maiores, e de até 100% dependendo da região.

No Reino Unido, o banimento da Huawei custará 250 milhões de libras, cerca de R$ 1,8 bilhão, para substituir os equipamentos da companhia pelos de outros fornecedores. No Brasil, os gastos associados a uma decisão como essa ainda não foram levantados, mas a decisão pode atrasar o 5G e comprometer os serviços já prestados, dizem as teles.

"Uma eventual restrição a fornecedores do 5G pode atingir também a integração com a infraestrutura já em operação, com consequências diretas nos serviços oferecidos e custos associados, mais uma vez prejudicando os cidadãos brasileiros usuários dessa infraestrutura", diz a nota. "É necessário ainda ressaltar que as operadoras, em sua grande maioria, são empresas de capital aberto e a transparência das discussões é fundamental para gerar segurança aos investidores e seguir atraindo novos investimentos para o País."

As teles afirmam ainda que podem contribuir com sua expertise técnica nos debates sobre a nova tecnologia e sobre a política pública para o 5G. Até agora, as discussões no governo acontecem a portas fechadas, sem a participação das empresas.

"As principais operadoras do País possuem ampla expertise técnica e grande experiência nos mais elevados e críticos quesitos de privacidade e segurança de rede, e podem contribuir com soluções técnicas eficazes nas discussões que envolvem toda nossa cadeia de produtos e serviços, preservando a segurança do País", diz a nota.

"Por fim, cumpre-nos destacar que representamos cerca de 4% do PIB e já investimos no País mais de R$ 1 trilhão de reais desde a privatização, o que nos permitiu dar uma resposta robusta à atual crise. Somos um setor que emprega quase dois milhões de profissionais, diretos e indiretos, e um dos que mais contribuem com pagamentos de tributos ao erário público."

Prestadoras de serviços às teles também se manifestam contra banimento da chinesa

A presidente da Federação Nacional de Infraestrutura de Redes e Telecomunicações (Feninfra), Vivien Suruagy, se manifestou contra o banimento de qualquer companhia na tecnologia 5G. A entidade, que reúne 137 mil empresas prestadoras de serviços para operadoras e bancos e empregam 2,2 milhões de trabalhadores, é mais uma que se movimenta a favor da Huawei, principal alvo da pressão dos Estados Unidos contra a China.

"Não podemos ter mais nenhum tipo de interrupção. Já basta a pandemia", afirmou. Para ela, a prioridade do setor é atingir os rincões, aumentar a velocidade de conexão, ampliar a conectividade e instalar mais antenas.

"É totalmente incongruente e sem sentido limitarmos qualquer tipo de tecnologia. Não tem fundamento excluir qualquer país do fornecimento de equipamentos, ainda mais sabendo que quase metade dos equipamentos das redes brasileiras no 4G são chineses."

Suruagy estima que banir a Huawei do Brasil demandaria investimentos de no mínimo R$ 8 bilhões apenas para substituir a rede atualmente em operação. "Isso representa perda de competitividade, aumento de custo para os consumidores e atraso na implantação da tecnologia 5G no País. Não podemos estar na contramão do desenvolvimento tecnológico", disse.

A presidente da Feninfra avalia que o País tem condições de adotar mecanismos para assegurar a proteção dos dados. "Se temos tudo funcionando de forma adequada no 4G, não será diferente no 5G. Temos todas as ferramentas para nos proteger e garantir nossa soberania, como sempre foi feito", afirmou.

Estadão
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