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Soja: guerra comercial EUA/China continuará direcionando mercado

25 jan 2019 - 14h46
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São Paulo, 25 - A guerra comercial entre Estados Unidos e China deve continuar influenciando o comércio internacional da soja neste início de ano, observou a consultoria INTL FCStone no relatório "Perspectivas para Commodities" referente ao primeiro trimestre de 2019. Segundo a consultoria, enquanto nada de concreto entre os dois países for decidido e enquanto a tarifa de 25% aplicada pela China sobre a soja norte-americana estiver em vigor, o mercado da oleaginosa continua preso no impasse. "Com isso, as cotações da soja encontram suporte nessa possibilidade de acordo, enquanto os fundamentos indicam estoques norte-americanos recordes, em 26 milhões de toneladas", disse a consultoria.

Do lado dos fatores altistas para as cotações da oleaginosa, a consultoria aponta a possível solução para a guerra comercial, as perdas de safra na América do Sul e a queda de área na safra 2019/20 dos EUA. Pelo lado dos fatores baixistas, a FCStone cita a queda das importações chinesas, a gripe suína africana afetando rebanhos chineses e a estimativa de estoques recordes dos EUA e no mundo.

Diante do protagonismo da disputa comercial no direcionamento do mercado internacional de soja, a FCStone centrou os cenários de perspectiva da oleaginosa em torno dos possíveis resultados do conflito. "No caso em que a taxa de 25% sobre a soja norte-americana continue em vigor, mas se mantenha também a constante possibilidade de que algum acordo seja alcançado, a exemplo do que se observa atualmente, os preços da soja tendem a não recuar tanto", afirmou a analista de mercado de soja, Ana Luiza Lodi. "Por outro lado, uma manutenção da tarifa chinesa sobre a soja e um encerramento das negociações, não havendo, assim, perspectiva de que a taxação seja suspensa, tenderia a abrir espaço para uma queda mais importante dos preços, reagindo ao excesso de oferta", ponderou a analista da FCStone.

Na percepção de Ana Luiza, caso China e EUA entrem em acordo, a tarifa de 25% sobre as importações de soja seja retirada e o país asiático volte a demandar volumes elevados de oleaginosa norte-americana, haverá uma nova mudança nos fluxos do cereal. "Brasil e EUA, que são os maiores exportadores, voltariam a competir por preços em igualdade de condições e os compradores escolheriam a origem mais vantajosa", acrescentou Ana Luiza. O aumento da demanda por soja dos EUA é outro fator de suporte para os preços internacionais, de acordo com as obervações da FCStone. Embora a consultoria pondere que os estoques norte-americanos devem continuar elevados, em razão do fechamento da janela usual de exportações do país.

Ainda na análise da consultoria, a disputa comercial entre as duas potências e, consequentemente, sua influência nos preços da oleaginosa serão determinantes para o tamanho de área destinado ao cereal na safra 2019/20 nos EUA. No país, a temporada começa a ser semeada no final de abril. Contudo, a FCStone estima que, de qualquer modo, com ou sem acordo EUA/China, o país asiático tende a diminuir a demanda pela oleaginosa, em virtude dos esforços governamentais para diminuir o consumo do grão e derivados e do avanço da peste suína africana (ASF, na sigla em inglês) no país, que reduz a demanda por ração animal à base de derivados de soja. Segundo a FCStone, o governo chinês prevê que as importações na safra 2018/19 fiquem ao redor de 85 milhões de toneladas, abaixo da estimativa inicial do USDA de 100 milhões de toneladas.

Sobre a produção na América do Sul, a consultoria destacou que as preocupações estão centradas nas condições climáticas, que devem afetar os rendimentos esperados para produção argentina e brasileira. Na Argentina, a perspectiva de possíveis perdas na safra e piora da qualidade do cereal deve-se ao excesso de chuvas. "Entretanto, por enquanto, essa queda de produção acaba sendo compensada pelo excesso de oferta nos EUA e a queda do consumo chinês", ponderou Ana Luiza.

Quanto ao Brasil, a expectativa de quebra de safra é puxada pela longa estiagem que atinge as principais regiões produtoras. A última estimativa da INTL FCStone para a colheita brasileira está em 116,3 milhões de toneladas. A consultoria considera que o nível das exportações de soja também está dependente do andamento das questões comerciais entre EUA e China. "Com uma manutenção das tarifas, a procura pela soja brasileira tenderia a ser, mais uma vez, muito aquecida, com fortalecimento dos prêmios, mas os volumes acabariam limitados pela menor disponibilidade tanto de estoques quanto de produção", ressaltou Ana Luiza. Atualmente, a consultoria projeta que o país exporte 72 milhões de toneladas. Entretanto, a FCStone pondera que a resolução do impasse em um balanço de oferta e demanda menos restrito no Brasil, "dependendo do nível de produção, já que as exportações devem voltar às características pré-guerra".

Estadão
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