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'São Paulo deverá ter vários carros voadores operando em 2030', diz diretor de startup da área

Segundo o diretor estratégico da alemã Lilium, Alexander Assely, antes mesmo do fim desta década, deverá ser possível ver eVTOLs voando no céu da cidade, mas em escala menor

28 jul 2021 - 03h06
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Alemã, a startup Lilium é tida como uma das desenvolvedoras mais promissoras do futuro "carro voador". E seu diretor estratégico, Alexander Asseily, considera o Brasil um dos países que mais prometem para o setor. "O mercado de helicópteros brasileiro é um dos maiores do mundo, mas, de muitos modos, é limitado pelo preço, pelo barulho e pela segurança dessas aeronaves. O que os eVTOLs (sigla em inglês para veículos elétricos de pouso e decolagem vertical, como são chamados oficialmente os "carros voadores") e a Lilium podem fazer é tornar esse tipo de transporte disponível não só para quem usa helicópteros, mas também para um grupo muito maior de pessoas."

Asseily afirma ainda que, em cidades como São Paulo, deverá ser possível voar em uma aeronave dessas com facilidade em 2030. Antes disso, elas já deverão operar, mas ainda não serão muito frequentes. Confira, a seguir, trechos da entrevista feita por videoconferência.

Qual o potencial do mercado brasileiro para eVTOLs?

Estamos olhando o Brasil todo de perto. É um dos mercados mais interessantes para nós e o levamos muito a sério. O mercado de helicópteros brasileiro é um dos maiores do mundo, mas, de muitos modos, é limitado pelo preço, pelo barulho e pela segurança dos helicópteros. O que os eVTOLs e a Lilium podem fazer é tornar esse tipo de transporte disponível não só para quem usa helicópteros, mas também para um grupo muito maior de pessoas.

Hoje vocês preveem que o eVTOL da Lilium seja pilotado. Ele poderá ser autônomo no futuro?

Claro. Conforme a regulação permita, seremos capazes de remover o piloto.

Isso tornará o eVTOL mais acessível?

Sim. Na verdade, a aeronave que estamos construindo terá os sensores para permitir um voo autônomo. A razão principal para voarmos com piloto por alguns anos antes de voarmos autonomamente é que temos de esperar a regulação avançar. Achamos que isso pode acontecer em 2027.

E quando veremos vários eVTOLs operando nos céus?

Depende de onde você mora. Se você mora em São Paulo, que será um mercado muito empolgante, acho que em 2030 já terá. Antes disso, já teremos alguns, mas vai virar algo que as pessoas vão usar com mais frequência em 2030.

Há várias empresas na corrida pelo "carro voador". O que é preciso para ser uma vencedora no segmento?

Temos muito respeito por quem está fazendo isso. Não é algo fácil, e tem muita gente talentosa nas outras empresas. Mas eu diria que é preciso ter um time e um processo que respeita os últimos 50 anos da indústria aeroespacial e do desenvolvimento da aviação. Você não está construindo um brinquedo. Está construindo uma aeronave. Tem uma razão porque há apenas três empresas principais no mundo construindo aeronaves - Embraer, Airbus e Boeing - e apenas duas fabricando aviões de fuselagem larga - Airbus e Boeing. E não é porque os chineses e os russos não tentaram. Eles tentaram. Mas quando você decide colocar seis pessoas ou 300 pessoas numa aeronave, você tem uma responsabilidade tão grande, que tem de ter certeza que fez tudo corretamente. Você quer que as pessoas se sintam seguras. É por isso que você precisa de um time e de um processo que siga essa abordagem. Se você não faz isso, você pode ter financiamento e um protótipo, mas não conseguirá ganhar dinheiro com isso.

Qual o maior desafio no desenvolvimento do "carro voador"?

As tecnologias que são necessárias para essa aeronave foram testadas nos últimos quatro ou cinco anos. Agora, o que estamos fazendo é indo para a validação de um programa de uma aeronave comercial. Isso significa que estamos desenvolvendo essa aeronave para serviço comercial como se fossemos a Embraer, a Airbus ou a Boeing desenvolvendo um grande avião. Isso é importante porque você não conseguirá permissão das autoridades a não ser que siga esse processo bastante rigoroso de certificação. Não é suficiente apenas construir e testar. É preciso começar esse processo com os reguladores no início do seu programa. A gente acabou de receber o que chamamos de base de certificado. Somos uma das únicas duas companhias a receber isso. Somos a única na Europa. Nos EUA, a Joby recebeu um certificado semelhante. Então construíremos um programa padrão, detalhando a engenharia. Requisitos do regulador foram publicados no fim do ano passado especificamente para a nossa aeronave. Isso é algo importante pois significa que nos levam a sério. Uma aeronave é feita com muitos componentes diferentes, e muitos desses componentes não precisamos reinventar. Algumas coisas nós inventamos, como a arquitetura e o modo como o sistema de controle funciona, mas não precisamos reinventar o sistema que avisa a aeronave onde ela está e a comunica com o solo. Estamos trabalhando, por exemplo, com a Honeywell, que será uma fornecedora. Isso é importante porque todo componente da aeronave também precisa ser certificado pelos reguladores. Se você decide criar tudo sozinho, leva muito tempo.

O projeto de eVTOL da Lilium é diferente dos demais, com espaço para mais passageiros e alcance maior. Por que esse projeto seria melhor que os demais?

O objetivo dos eVTOLs é economizar tempo. Eles poderão fazer algumas rotas curtas, como do aeroporto de Guarulhos para o centro de São Paulo. Normalmente há tanto trânsito nesse trecho que pegar um eVTOL fará você economizar muito tempo. Mas, na maioria das vezes que se quer economizar tempo, as pessoas precisam viajar distâncias maiores. Então, é interessante ter um alcance maior. A filosofia é economizar tempo, e economizar tempo do modo mais acessível financeiramente possível. Queremos construir um sistema que possa transportar muita gente. Porque, se isso for para um grupo muito pequeno de pessoas, não vai ter impacto. Queremos ter o maior impacto para o maior número de pessoas. Essa é uma das razões porque construímos uma aeronave com seis assentos. Sendo capazes de transportar mais gente, poderemos diluir o custo da rota entre mais assentos, o que significa que o custo cai.

Há outros processos de fusões entre Spacs (companhias que primeiro abrem capital na Bolsa para, depois, buscar um projeto para investir) e startups de eVTOLs. Em geral, o preço das ações das Spacs estão em queda. Por que isso seria diferente com empresas de "carros voadores"?

Eu posso falar apenas sobre nós. Acho que há boas razões para as pessoas se preocuparem com o mercado de Spac. Mas é por isso que os reguladores estão prestando atenção ao segmento. No caso da Lilium, temos tido uma abordagem muito séria. Nossa oportunidade com Spac vem ao lado de muitas outras oportunidades de financiamento. Quando decidimos assinar o acordo de fusão com a Quell, declinamos, no mesmo dia, duas outras oportunidades bastante significativas de financiamento. Optamos pela Spac porque a pessoa que comanda a Quell foi presidente da GM (na América do Norte) e achamos que ele pode nos ajudar. Também acreditamos que nossa história é séria o suficiente para conseguirmos investidores de longo prazo, temos um negócio sustentável, de impacto social e com uma tecnologia empolgante.

Estadão
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