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Protestos elevam risco sanitário no setor de carnes

24 mai 2018 - 16h50
(atualizado às 16h55)
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Os protestos de caminhoneiros em praticamente todo o Brasil, que já duram quatro dias, passaram a representar um risco sanitário, à medida que o fornecimento de rações e o transporte de animais e cargas refrigeradas estão comprometidos pelas manifestações.

Pelos dados atualizados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), há bloqueios em 23 Estados e no Distrito Federal na tarde desta quinta-feira, um dos dias com maior adesão ao protesto que tem prejudicado fortemente o setor agropecuário.

Diante da situação que paralisa exportações dos principais produtos do Brasil e o abastecimento das cidades, além de gerar risco de mortandade das criações das indústrias de carnes, o ministro de Agricultura, Blairo Maggi, pediu que o governo use a força policial para liberar as estradas.

Em nota nesta quinta-feira, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) alertou para o "risco iminente de fome" para suínos e aves, o que poderia culminar com uma mortandade de criações.

Além disso, ao todo, 120 unidades processadoras de carnes já suspenderam as atividades em decorrência dos protestos.

"Está travada em vários pontos a circulação de caminhões de ração, que levariam alimentos para os criatórios espalhados por pequenas propriedades dos polos de produção. A situação nas granjas produtoras é gravíssima", destacou a ABPA.

Em Santa Catarina, um dos principais produtores de aves e suínos no Brasil, o risco é de "imprevisível impacto de ordem sanitária" em decorrência dos protestos, afirmaram o Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados no Estado (Sindicarne) e a Associação Catarinense de Avicultura (Acav).

"A ameaça atual e iminente é de perda massiva de ativos biológicos com início de mortandade nas principais regiões produtoras", alertaram ambas, lembrando que Santa Catarina conta com um plantel de 5 milhões de suínos e 118 milhões de aves alojadas.

A Proteção Animal Mundial, entidade que defende o bem-estar dos animais, salientou que "a interrupção repentina do abate, seja por qualquer motivo, acarreta em um acúmulo de animais" nas propriedades.

"Isso gera um sofrimento intenso, pois reduz o espaço para cada animal e aumenta os problemas relacionados ao bem-estar e saúde deles."

Integrantes do setor já falaram de risco de "canibalismo" dentro das criações, diante da falta de ração.

Rações e leite

O Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) afirmou que "os empreendedores sofrem também com a interrupção do transporte de milho, farelo de soja, aditivos e outros insumos usados na produção".

"A continuidade e recrudescimento da mobilização dos caminhoneiros pode comprometer sobremaneira a entrega das rações e sal mineral para animais de produção, além dos alimentos para cães e gatos."

Outro segmento impactado pelos protestos é o de leite, com prejuízos aos produtores.

Tanto em Santa Catarina quanto no Paraná, há relatos de descarte de leite não captado nas áreas produtoras ou de caminhões que não chegaram ao destino. Ambos os Estados são importantes produtores do alimento.

"Não tendo como estocá-lo por mais de três dias, acabam jogando fora o produto (leite), num momento em que a produção é baixa devido à entressafra, com a aproximação do inverno", afirmou a Coamo, a maior cooperativa do Brasil, com sede em Campo Mourão (PR).

Café, açúcar e combustíveis

Os protestos dos caminhoneiros também respingam no fornecimento de combustíveis e nas exportações de café e açúcar --o Brasil é o principal player global dessas commodities.

Ao menos 47 usinas de cana nos Estados de Minas Gerais, Paraná e São Paulo estão com as atividades de colheita ou de produção e vendas de açúcar e etanol prejudicadas pela onda de protestos de caminhoneiros, que reduziram a oferta de combustíveis, afirmou a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) nesta quinta-feira.

A entidade, que representa as unidades produtoras do centro-sul do Brasil, destacou que 34 usinas mineiras suspenderam as vendas de etanol, três paranaenses reduziram as operações de produção e dez paulistas estão paradas sem produzir nem vender.

A falta de combustíveis também começa a preocupar as atividades nas cidades.

No Rio de Janeiro, por exemplo, o presidente do sindicato dos postos do Estado, Ronald Barroso, disse que o combustível nos postos de venda poderia acabar na tarde desta quinta-feira.

"Já há cidades onde não há mais estoque de combustível, como em Volta Redonda", disse ele. "Os estoques são feitos para três dias, e como a greve já tem quatro dias começa a faltar", adicionou.

Em relação ao café, a Cooxupé, maior exportadora de café do Brasil, alertou os clientes estrangeiros sobre possíveis atrasos no embarque devido aos protestos dos caminhoneiros em todo o país.

Já o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) frisou que a "continuidade da greve dos caminhoneiros impacta diretamente o setor em todo o país".

"Cabe ressaltar que durante a entressafra do café neste período do ano, os embarques em maio representam cerca de 6 mil contêineres, o que equivale a uma receita de aproximadamente 350 milhões de dólares que deixa de ser gerada para o país", disse a entidade, em nota.

Governo

Apesar dos apelos do governo e de discussões no Congresso Nacional, os caminhoneiros, contrários à alta do diesel, vêm afirmando que seguirão com as manifestações até que a isenção de PIS/Cofins sobre o diesel seja publicada no Diário Oficial da União --tema, contudo, que não chegou ao Senado ainda.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, comentou pela primeira vez nesta quinta-feira sobre os protestos. Ele está em Paris e participou de assembleia da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) que concedeu ao Brasil o status de país livre de febre aftosa com vacinação.

"Recebi imagens do Brasil mostrando animais morrendo, gritando. É urgente que resolvamos esse problema agora para os produtores de aves e suínos", disse Maggi à Reuters.

"Estou discutindo com a Polícia Rodoviária Federal do Brasil para que eles possam garantir a chegada de caminhões em fazendas... Em todas as cidades, quando há caminhões bloqueados transportando alimentos como milho ou insumos, o produtor pode ir ao chefe da polícia estadual pedir que ele desbloqueie o caminhão específico e o leve para a fazenda", disse Maggi.

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