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Política dos EUA faz preço do petróleo oscilar

Entrada em vigor das sanções ao Irã e as medidas comerciais de Trump estão por trás da volatilidade

18 nov 2018 - 07h19
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O preço do petróleo deveria estar subindo agora. Com as sanções americanas contra o Irã que vão entrar em vigor no início deste mês, as exportações daquele país, o quarto maior produtor mundial de petróleo bruto no ano passado, devem encolher para perto de zero.

Antecipando a tendência, o preço do Brent, referência internacional, subiu acima de US$ 86 no início de outubro, maior alta em quatro anos, e alguns alertaram para a possibilidade de preços acima de US$ 100 o barril.

Mas, em vez de continuar em alta, desde o dia 8 de novembro a cotação do óleo entrou em ritmo de baixa. O preço do Brent fechou a US$ 66,53 no dia 14 de novembro. O West Texas Intermediate (WTI), referência de preço do petróleo americano, caiu por 12 sessões consecutivas até o dia 14 de novembro. Esse foi o mais prolongado declínio ininterrupto em mais de três décadas. Os preços futuros do petróleo americano caíram 20% em relação ao seu pico recente.

Algumas das razões para a queda são por conta de fundamentos do mercado. Em outubro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) rebaixou sua previsão de crescimento econômico global. Problemas nos mercados emergentes têm um efeito desproporcional sobre a demanda por petróleo denominado em dólar, à medida que este se torna mais caro ao debilitar as moedas locais. Mas a recente volatilidade do mercado de petróleo também reflete novas forças, incluindo os limites dos produtores convencionais e o impacto peculiar do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), liderada pela Arábia Saudita, aspira manter uma confortável estabilidade. Os preços devem ser altos o suficiente para sustentar os orçamentos de seus membros e razoavelmente baixos para sustentar a demanda global. Mas seu controle declinou. Existem atualmente três produtores dominantes de petróleo: Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia, dos quais apenas um é membro.

À medida que a indústria de xisto da América explodiu, a Arábia Saudita se voltou para a Rússia para ajudar a coordenar a produção. Seus interesses não estão perfeitamente alinhados. O ministro do petróleo saudita, Khalid al-Falih, disse na semana passada que o reino reduziria a produção em 500 mil barris por dia em dezembro; o ministro do petróleo da Rússia duvidou que houvesse excesso de oferta.

Mas foram os Estados Unidos que exerceram o maior efeito desestabilizador. Este ano, o país tornou-se o maior produtor mundial de petróleo bruto. Suas empresas de xisto estão bombeando óleo a uma taxa fenomenal. A produção em agosto foi 23% acima do nível de 12 meses antes. Mas a indústria do xisto está vinculada a investidores, não a um ministro do petróleo, e a produção pode cair se os preços do petróleo continuarem recuando e os investidores exigirem retornos mais altos. Além de tudo isso, vêm as políticas de Trump, que estão ajudando a empurrar os mercados de petróleo para cá e para lá.

Depois que ele anunciou sanções ao Irã em maio, a Opep e seus aliados concordaram em aumentar a produção. A produção da Arábia Saudita e da Rússia subiu para níveis recordes. Então, em 5 de novembro, os Estados Unidos anunciaram que concederiam isenção de 180 dias à China, Índia e seis outros países para que continuassem a importar do Irã - países que juntos respondem por mais de 75% das exportações iranianas, segundo Sanford C. Bernstein, uma empresa de pesquisa.

As políticas comerciais de Trump também estão deprimindo a demanda por petróleo. A menor previsão de crescimento do FMI deve-se, em parte, a uma desaceleração nos mercados emergentes, mas também ao aumento das tensões entre os EUA e seus parceiros comerciais, uma tendência que enfraquece ainda mais as economias emergentes. O crescimento do transporte aéreo e marítimo caiu cerca de metade no ano passado, diz Edward Morse, do Citigroup, reduzindo a demanda por diesel. A guerra comercial de Trump com a China é particularmente importante para os mercados de petróleo, já que a China respondeu por cerca de 40% do crescimento da demanda por petróleo no ano passado. Em 13 de novembro, a Opep baixou sua previsão para a demanda global por petróleo no ano que vem.

Mas, mesmo que os preços do petróleo caiam, há motivos para pensar que eles poderiam voltar a subir de novo em breve. Mais cortes de produção podem ocorrer no próximo mês, depois que a Opep e seus parceiros se reunirem em Viena. Além da incerteza no Irã, a perturbação na Venezuela, na Líbia, na Nigéria ou no Iraque podem comprimir a oferta global. Esses "cinco frágeis", como alguns investidores os chamam, responderam por 12% da produção mundial de petróleo de julho a setembro, mais do que a Arábia Saudita.

Então, existe sempre a possibilidade de que Trump possa reverter o rumo - fechando um acordo comercial com a China, por exemplo, ou aumentando as restrições ao Irã mais uma vez. Ou ele pode simplesmente escrever um tuíte. Em 12 de novembro, ele foi ao Twitter para pedir à Opep que não cortasse a produção. O preço do petróleo caiu. / TRADUÇÃO CLAUDIA BOZZO

© 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

Estadão
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