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Petrobras adota hedge para gasolina; busca conter volatilidade sem perdas

6 set 2018 - 11h46
(atualizado às 16h37)
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A Petrobras anunciou nesta quinta-feira que terá a opção de adotar um mecanismo hedge para os preços da gasolina, podendo mantê-los congelados nas suas refinarias por até 15 dias sem incorrer eventualmente em perdas, uma vez que utilizará contratos futuros do combustível nos EUA como proteção das cotações.

Trabalhar troca preço de combustível em posto da Petrobras 15/06/04. REUTERS/Rickey Rogers
Trabalhar troca preço de combustível em posto da Petrobras 15/06/04. REUTERS/Rickey Rogers
Foto: Reuters

O mecanismo, que foi recebido com ressalvas por analistas de mercado, que temem retrocessos sobre a política de preços, ocorre em meio a valores recordes da gasolina nas refinarias da Petrobras, que refletem a disparada do dólar e uma alta nos preços do petróleo no exterior.

A opção do uso do hedge foi aprovada pela diretoria da petroleira na quarta-feira e já está válida.

O anúncio, ressaltaram executivos da Petrobras, não implica em qualquer mudança na política de preços da empresa, pouco mais de um ano depois de a companhia adotar uma sistemática de reajustes quase diários, em linha com o mercado internacional e o câmbio.

Desde o início dos reajustes quase diários, o preço médio da gasolina nas refinarias da Petrobras acumulou uma alta de 59,5 por cento. Atualmente, o valor médio está em 2,2069 reais por litro, valor que será mantido na sexta-feira pelo terceiro dia seguido.

"A política de preços da Petrobras não mudou, a gente está mantendo a paridade de importação, temos a opção de seguir (o reajuste) diário, desde que isso não se traduza em uma volatilidade excessiva", disse a jornalistas o diretor-executivo da Área Financeira e de Relacionamento com Investidores, Rafael Grisolia, em uma coletiva de imprensa sobre o tema no Rio de Janeiro.

"Quando a volatilidade do mercado estiver muito excessiva, a gente poderá utilizar essas opções."

Os princípios de preço de paridade internacional (PPI), margens para remuneração dos riscos inerentes à operação e nível de participação no mercado continuam em vigor, assim como a correlação com as variações do preço da gasolina no mercado internacional e a taxa de câmbio, explicou Grisolia.

O diretor-executivo de Refino e Gás Natural da Petrobras, Jorge Celestino, disse que a compra dos derivativos de gasolina no mercado futuro norte-americano será realizada assim que for visualizada uma volatilidade importante no mercado.

O executivo citou como um exemplo de fenômeno que gerou volatilidade a tempestade tropical Gordon, que impactou recentemente as referências internacionais do petróleo.

"O que essa ferramenta está tirando é a volatilidade. Se existe uma tendência de aumento, ela tira essa variação, mas o delta no final dos períodos se mantém", disse Celestino.

As ações preferenciais da Petrobras subiam 0,3 por cento na bolsa paulista B3 por volta das 16:30, enquanto o índice de referência da Bovespa subia 1,2 por cento.

PRESSÃO?

A medida ocorre depois que uma greve histórica de caminhoneiros em maio contra os altos preços do diesel causou sérios danos à economia brasileira e forçou o presidente Michel Temer a cortar os preços do combustível por meio de um programa de subsídios.

Questionados sobre o momento escolhido para adotar a medida com a gasolina, se ela estaria relacionada a pressões sociais, vindas do cenário de eleições e após as manifestações de caminhoneiros, o diretor de refino não respondeu diretamente e defendeu que a decisão faz parte de uma evolução da política de preços.

"Obviamente aprendemos com sinais que outros agentes têm encaminhado para a Petrobras... Na verdade, isso é uma trajetória de sofisticação da política de preços da Petrobras, que permanece mantida."

Anteriormente, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) chegou a fazer uma consulta pública sobre a possibilidade de estabelecer por meio de resolução um período mínimo para o repasse ao consumidor dos reajustes dos preços dos combustíveis, o que foi descartado posteriormente.

Para o analista Gabriel Fonseca Francisco, da XP Investimentos, entretanto, "a notícia deve ser lida como negativa, pois pode ser interpretada como um retrocesso na política de preços, dado que a empresa ficaria mais exposta a potenciais perdas em momentos de volatilidade de petróleo e principalmente do câmbio", segundo nota distribuída a clientes.

O Itaú BBA, por sua vez, considerou a notícia neutra, citando que a estratégia, se efetivamente empregada, reduziria a volatilidade dos preços da gasolina para o consumidor final. O analista André S. Hachem ponderou em nota a clientes que a sua principal incerteza será em relação a como essa estratégia será empregada, "já que provavelmente não sabemos a estrutura das posições de hedge enquanto os preços estão congelados".

O professor e pesquisador do Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da UFRJ, Edmar de Almeida, acredita que a medida ajuda a melhorar a qualidade do mercado de gasolina no Brasil.

"Eu acho positivo, porque é uma política que a própria Petrobras está propondo por meio de inovações financeiras... Volatilidade nunca é bom para qualquer mercado, não só porque afeta os consumidores, mas também porque diminui a transparência com relação a preços na cadeia de valor", afirmou.

O Goldman Sachs afirmou em relatório a clientes que "será fundamental monitorar a implementação do mecanismo de hedge... a fim de avaliar se os preços domésticos refletirão as referências internacionais à luz da maior volatilidade nos preços internacionais e nos níveis de câmbio".

Segundo a Petrobras o preço das refinarias representa cerca de um terço do valor do combustível vendido nos postos ao consumidor final. Entram na composição de preços ao consumidor, ainda, o custo do etanol, os tributos e as margens de distribuidoras e revendedores.

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