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Pesquisa liderada pelo Google atinge feito histórico na computação quâ

24 out 2019 - 07h14
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Há um novo horizonte na história da computação. Em um artigo publicado nesta quarta-feira, 23, na prestigiosa revista científica 'Nature', o Google afirmou ter atingido a supremacia quântica. Ou seja: conseguiu que um de seus computadores quânticos realizasse uma operação matemática impossível de ser feita em tempo razoável por uma máquina clássica. O feito, que deve ser debatido pela comunidade científica nos próximos meses, abre as portas para revolucionar como os computadores operam. De quebra, também amplia possibilidades na criação de novos materiais, desenvolvimento de medicamentos e expansão de inteligência artificial.

A máquina do Google foi capaz de solucionar, em 3 minutos e 20 segundos, uma operação matemática que demoraria 10 mil anos para ser solucionada em um computador tradicional, que utiliza o sistema binário.

Para realizar a tarefa, a companhia construiu um chip, batizado de Sycamore, com 53 qubits - o qubit é a menor unidade responsável pelo processamento.

Em setembro, o estudo do Google chegou a ser publicado acidentalmente no site da Nasa e removido logo em seguida, gerando expectativa na comunidade científica. "É um feito histórico. É algo que vem sendo construído nos últimos 20 anos que emprega técnicas de nanociência e nanofabricação, além de uma técnica de controle incrível", diz Ivan Oliveira, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisa Física (CBPF), órgão federal vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

A participação da Nasa no vazamento se justifica - segundo apurou o jornal O Estado de S.Paulo, em informação posteriormente confirmada pelo Google, o artigo vazou ao ser submetido para aprovação da agência americana. Embora o Google tenha encabeçado e financiado integralmente o esforço, a pesquisa reuniu 76 pesquisadores de dez instituições diferentes - entre elas, o Google Research, braço de pesquisa da companhia, a Nasa e universidades da Alemanha e dos EUA como o Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e a Universidade da Califórnia em Santa Barbara.

Muda tudo

Apesar da complexidade, a computação quântica ainda dá os primeiros passos. Em comparação, ela está em estágio parecido com o da computação clássica nos anos 1950, quando máquinas ocupavam grandes salas, eram operadas por profissionais dedicados e tinham poder de processamento limitado. O chip do Google resolveu um problema artificial no experimento e pode não resolver nenhum problema prático.

Ao MIT Technology Review, Sundar Pichai, presidente executivo do Google, traçou uma analogia histórica para explicar o feito: "O avião dos irmãos Wright voou por 12 segundos e isso não tinha aplicação prática, mas abriu possibilidades", disse.

Segundo especialistas, estima-se que sejam necessários chips quânticos com 1 milhão de qubits para que os computadores quânticos possam ser usados em problemas reais. Se isso ocorrer, porém, a nova área pode revolucionar a forma como computadores têm impacto no mundo. Os especialistas apontam para desenvolvimento de materiais, criação de medicamentos, aprimoramento de inteligência artificial e programação de software de otimização, como áreas que podem florescer além do que imaginamos.

O impacto pode chegar até aos padrões de segurança na internet: estima-se que um computador com 20 milhões de qubits possa quebrar o RSA, código criptográfico usado na maioria das comunicações online.

Embora esses cenários estejam longe da realidade, é possível afirmar que o chip do Google já mudou a computação. O estudo afirma que o feito é a primeira prova de que a tese estendida de Church e Turing é falsa. Publicada em 1997, ela diz que qualquer forma de computação pode resolver os mesmos problemas em um período de tempo razoável. Claramente, há diferenças entre 10 mil anos e 200 segundos.

Chip por encomenda

O novo modelo de computação, porém, não significa que smartphones e PCs serão substituídos pela tecnologia quântica. Usar uma máquina quântica para carregar uma foto no Instagram seria o mesmo que usar uma metralhadora para matar um pernilongo. "Acredito que a computação quântica será usada de forma complementar à tradicional. Não faz sentido colocar máquinas quânticas para resolver problemas já solucionados por máquinas clássicas", explica Bárbara Amaral, pesquisadora de informação quântica do Instituto de Física da USP. Ela acredita que avanços quânticos também forcem a evolução da computação clássica.

Há ainda uma possível nova aplicação: chips por encomenda. É possível que no futuro chips quânticos, voltados para a resolução de um único problema, sejam requisitados por grandes clientes. Em vez de um chip que faz tudo, as empresas fornecedoras poderiam se dedicar à venda de máquinas específicas", avalia Oliveira.

O Google concorda que seu chip tem aplicação limitada, mas conclui o estudo mostrando que um novo tempo está florescendo: "Estamos apenas a um algoritmo criativo de uma aplicação prática no curto prazo".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Estadão
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