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Para preservar o mercado, País tem de esquecer parte ideológica e ajudar a Argentina

'Não podemos esquecer que a cada US$ 1 bilhão de exportação de produtos manufaturados, são gerados 50 mil empregos diretos e indiretos', diz presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil

28 out 2019 - 13h08
(atualizado em 29/10/2019 às 10h32)
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O Brasil deve esquecer os aspectos ideológicos, ser pragmático e fortalecer a Argentina para preservar o mercado de exportações de manufaturados e impedir que esse espaço seja ocupado pela China, avaliou o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, ao comentar sobre a eleição do peronista Alberto Fernández no país vizinho.

"Não deveríamos criar atritos que já existem naturalmente. Temos que criar condições para a Argentina melhorar. Se a Argentina melhorar, o Brasil tira proveito disso. Não podemos esquecer que a cada US$ 1 bilhão de exportação de produtos manufaturados, são gerados 50 mil empregos diretos e indiretos. Se tivermos uma relação normal com a Argentina, quando o País voltar a crescer, tiraremos proveito disso", afirma.

Castro explica que ajudar a Argentina significa simplesmente não atrapalhar o país vizinho. Nesse sentido, ele cita, por exemplo, a aceitação por parte do governo brasileiro do forte aumento da taxa de estatística, que é como se fosse uma barreira tarifária e tem como objetivo conter importações.

"O governo brasileiro tem consciência que essa taxa fere as regras da OMC, mas também sabe que não adianta discutir com a Argentina. No fundo, a Argentina tem que gerar superávit, e captar recursos no mercado externo é muito difícil, já que está um grau abaixo de default, então a única forma de a Argentina captar divisas é gerar superávit comercial."

Assim, o Brasil deve ter o primeiro déficit comercial com a Argentina este ano desde 2003, e esse saldo negativo deve aumentar em 2020, não só porque a Argentina deve continuar a conter as importações como também o Brasil deve comprar mais, dada a expectativa de crescimento econômico maior no ano que vem, principalmente com maior compra de automóveis e caminhões, diz Castro. "Ajuda a Argentina e atende a necessidade do Brasil."

Castro completa que tanto Fernández quanto a vice, Cristina Kirchner, têm consciência do grande problema pela frente e que o governo formado pelos dois deve ter de adotar medidas amargas de qualquer maneira, dado o elevado déficit fiscal do país.

Já no domingo, 27, horas após a vitória do peronista Alberto Fernández na eleição presidencial, por exemplo, o Banco Central da República Argentina (BCRA) tornou os controles cambiais ainda mais rigorosos, limitando as compras de dólares a US$ 200 por mês. "Agora devemos seguir de perto os movimentos de Alberto Fernández à medida que define o seu gabinete e começa a esboçar ideias claras sobre o que planeja fazer na área econômica no futuro", avalia a INTL FCStone em nota a clientes. "Urgem definições em matéria monetária e fiscal e o marco a ser utilizado para renegociar a dívida."

Na hora inicial do primeiro pregão em Buenos Aires, o índice Merval mostra uma alta em torno de 6%. Por volta das 11h30, o Merval subia 6,32%, aos 36.704,45 pontos.

Acordos

Castro ainda diz que não acredita que a eleição de Fernández deve prejudicar o Mercosul ou mesmo o acordo firmado entre o bloco e a União Europeia. Segundo o presidente da AEB, o peronista tem se mostrado pragmático em suas declarações e indicado que tem consciência do que precisa ser feito.

"Politicamente, o acordo Mercosul-UE é muito importante para Brasil e Argentina, porque mostra que conseguiram negociar em pé de igualdade com os europeus. Além disso, o acordo representa uma reserva de mercado para o agronegócio dos dois países no confronto com os EUA", diz, explicando que, por causa disso, Washington está tentando forçar a China a importar mais produtos agropecuários americanos. "Se o acordo EUA-China for feito nesse contexto, os preços domésticos de commodities agrícolas podem cair no Brasil e na Argentina em 2020", completa.

Quanto ao Mercosul em si, Castro diz que se a Argentina abrir mão, ficaria isolada. "E o país precisa de apoio para se recuperar."

Estadão
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