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País tem tecnologia para contornar possíveis atrasos no plantio por causa do clima, diz ministra

Antes do discurso na solenidade, Tereza Cristina esclareceu que suas declarações sobre agricultura orgânica brasileira nos Emirados Árabes na semana passada 'foram mal interpretadas'

30 set 2019 - 21h38
(atualizado às 23h05)
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A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que o Brasil "tem tecnologia" para contornar possíveis atrasos no plantio da safra 2019/20, se houver. Regiões produtoras de soja, cujo plantio se inicia nesta época do ano, têm se ressentido do regime irregular de chuvas e com isso o plantio está aquém do verificado na safra passada e na média dos últimos cinco anos.

O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea-MT) divulgou hoje, por exemplo, que o plantio de soja em Mato Grosso - o principal produtor da oleaginosa - evoluiu 1,41 ponto porcentual na última semana, para 1,69% da área prevista pelo instituto no Estado, de 9,722 milhões de hectares. Assim como na semana anterior, os trabalhos estão atrasados ante igual período do ano passado (4,32%) e na média dos últimos cinco anos (2,69%).

Para a ministra da Agricultura, que participou de evento dos 100 anos da Sociedade Rural Brasileira (SRB), no Jockey Club, em São Paulo, o País tem tecnologia para contornar eventuais atrasos. "Isso (eventuais atrasos no período de plantio) acontece todo ano; temos tecnologia pra isso e vai dar tudo certo", garantiu Tereza Cristina.

Antes do discurso na solenidade, a ministra esclareceu que suas declarações sobre agricultura orgânica brasileira, dadas em entrevista à Emirates News Agency (WAM), nos Emirados Árabes na semana passada, "foram mal interpretadas". Segundo a WAM, a ministra teria afirmado que, por causa do "clima desfavorável" no Brasil, os produtos orgânicos seriam "entre 15% e 20% mais caros" do que produtos não orgânicos, sendo privilégio apenas de classes mais abastadas.

"O que eu falei foi (dado) uma interpretação errada. Eu disse que os orgânicos estão crescendo, e muito, no Brasil. Disse que um país tropical como o nosso não pode produzir orgânicos na mesma quantidade que a gente produz a agricultura comercial", esclareceu Tereza Cristina, que continuou: "Disse também que no Brasil (a agricultura orgânica) vem crescendo muito e é uma tendência mundial e nós acompanhamos (o setor). O Ministério da Agricultura cuida dos orgânicos", disse, e completou: "Houve um mal entendido, talvez pela língua".

Em seu discurso, em homenagem aos 100 anos da SRB, Tereza Cristina elogiou o centenário da entidade. "Isso mostra por que a agricultura está na vanguarda e puxando a economia", disse. "É porque ela se organizou e os 100 anos da SRB são prova disso."

Tereza Cristina ressaltou, ainda, que mesmo pujante, a agropecuária brasileira "tem de trabalhar e ousar mais". "Tenho andado em vários países e vendo o que nós precisamos fazer, vendendo os produtos brasileiros. Mas podemos fazer muito mais. Fizemos pouco diante das oportunidades que eu enxergo para este setor aqui no Brasil e no mundo", continuou.

"Recebi há poucos dias ministros do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) e eles ficaram encantados com o que viram." Segundo a ministra, os ministros da Agricultura do Brics, reunidos na semana passada em Bonito (MS), "viram o que o agro realmente é". "Temos o agro mais sustentável do mundo, mas tem uma pecha de que não fazemos da maneira como fazemos. Isso vai passar, aliás, já está passando. O Brasil precisa se mostrar da maneira que ele realmente é. Temos problemas, mas também temos muitas coisas boas para mostrar ao mundo."

Custo Brasil

O presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Marcelo Vieira, disse que o Brasil, entre os países produtores de alimentos, tem a legislação ambiental mais exigente e a legislação trabalhista mais completa do mundo. Isso torna a produção nacional uma das mais sustentáveis do mercado mundial, na sua avaliação.

Vieira discursou agora à noite, durante o evento de comemoração dos 100 anos da SRB, no Jockey Club, em São Paulo, que contou com a presença de várias lideranças do setor agropecuário brasileiro, além de políticos, ex-ministros e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

Vieira afirmou ainda que, apesar de o País ter os custos mais competitivos, "o Custo Brasil, advindo da regulamentação excessiva, agrega custos desnecessários".

Isso, na opinião dele, "envolve desde a logística até a burocracia", disse. "No entanto, temos agora grandes oportunidades de reformas reduzindo essas limitações."

Presente ao evento da SRB, o governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que o Estado de São Paulo "representa 22% do agronegócio brasileiro, ou quase um quarto da produção agrícola brasileira". Em recentes viagens internacionais que ele fez para vender o agronegócio brasileiro e paulista, Doria disse que alcançou resultados extraordinários. "Estivemos no Japão e na China. A partir do ano que vem 10% dos 250 milhões de novos veículos da China serão aditivados com etanol do Brasil, produzido em São Paulo", afirmou. Ele citou ainda que, para o suco de laranja - cuja maior produção também está em São Paulo -, foram abertos novos mercados nos dois países. "Nessas ações, nós defendemos o Brasil, não apenas São Paulo." Doria defendeu ainda os produtores rurais que, segundo o governador, "sabem conviver e respeitar as regras do meio ambiente até porque precisam disso para perenizar as suas produções".

Dívida

O deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), disse que a questão da dívida do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (o Funrural, usado para custear a aposentadoria do trabalhador rural) "está encaminhada" junto ao governo federal.

"Mas, por enquanto, em virtude da aprovação da reforma da Previdência e também em virtude do aperto fiscal, há restrição de verbas. Nós precisamos de um recurso de aproximadamente R$ 11 bilhões (para sanar a dívida)", disse Moreira.

"Esses R$ 11 bilhões terão de ser fracionados, em 10, 12, 15 anos", disse Moreira, referindo-se a um possível parcelamento da dívida. "Temos de achar uma solução", continuou.

"A proposta do (ministro da Economia) Paulo Guedes é que, até o fim do ano a gente consiga fazer um Refis, para que aqueles que não aderiram possam aderir e pagar a dívida, para ficar todo mundo igual", disse. "Logo depois, teremos um processo de remissão total ou parcial (da dívida) para o Orçamento de 2020", descreveu, assinalando, porém, que ainda se trata de uma proposta. "Não temos essa garantia (de que a proposta será efetivada)."

Moreira disse ainda que, em recente reunião com o presidente Jair Bolsonaro, ele orientou o parlamentar a "buscar uma solução". "Ele (Bolsonaro) quer que a gente encontre uma solução, desde que isso não incida em irresponsabilidade fiscal."

O perdão da dívida bilionária que deixou de ser paga pelos agricultores era promessa do presidente Jair Bolsonaro. Essa contribuição foi considerada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2017 e a Receita quer cobrar a dívida retroativa. O governo lançou mão de um Refis para que os produtores pagassem os débitos, mas boa parte dos produtores não aderiu ao parcelamento contando com a promessa de campanha do presidente.

Guerra comercial

Mesmo que a guerra comercial entre Estados Unidos e China se encerre no curto prazo, "o Brasil só tem a ganhar", disse o vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Francisco Matturro, presente ao evento de comemoração de 100 anos da Sociedade Rural Brasileira. As rusgas entre EUA e China têm "afetado positivamente" o Brasil, que vem conseguindo, desde que a "guerra" começou, exportar mais commodities agrícolas para o gigante asiático. Para Matturro, entretanto, mesmo se os EUA se acertarem com a China "o Brasil não deve ser afetado." "Matturro disse que o Brasil vai continuar vendendo proteína animal para a China, lembrando que o país asiático enfrenta um sério problema, a peste suína africana, que obrigou ao abate de milhões de suínos nos criatórios chineses. "A carne suína é uma tradição milenar ali e o mundo não tem proteína animal suficiente para oferecer aos chineses", continuou. "Então, eles estão indo para outros tipos de carne, como carne de frango e bovina, que o Brasil pode oferecer, além da suína."

Matturro disse acreditar, ainda, que a "guerra" entre China e EUA "é comercial". "E, alguma hora, toda guerra acaba".

Estadão
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