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País perdeu poder de geração de clientes de grandes fortunas, diz gestora GPS

26 jul 2017 - 11h21
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O atual cenário do país, com economia retraída e indefinição política, diminuiu a geração de clientes de serviços de gestão de grandes fortunas e afetou a capacidade de poupar de alguns dos investidores com esse perfil, afirmou George Wachsmann, sócio da gestora de patrimônio GPS.

"Lá atrás teve um ciclo de IPO (oferta inicial de ações), de entrada de (investidores estrangeiros). Teve um processo de geração desse tipo de cliente que parou", disse Wachsmann, cuja gestora administra 25 bilhões de reais de 600 famílias do país.

Neste sentido, Wachsmann vê que a recente retomada no processo de IPOs no país começa a abrir um caminho, ainda que tímido, para a volta da formação de clientes com o perfil da gestora, com investimento acima de 10 milhões de reais.

Até o momento, o país teve cinco IPOs no ano, o maior número desde 2013, quando foram registradas nove operações. Apenas em julho a expectativa é que pelo menos outras duas empresas - IRB Brasil RE e Omega Energia - comecem a ter suas ações negociadas na B3, após a estreia do Carrefour Brasil na semana passada e da Biotoscana, na terça-feira.

"Do ponto de vista de negócios, está mais lenta a geração de cliente no mercado como um todo e... a capacidade deles de poupar diminuiu, provavelmente tendo até que despoupar", disse, acrescentando que o poder de investimento desses clientes foi afetado pela crise econômica que levou empresários a encerrar atividades ou diminuir o tamanhos de suas empresas.

Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que o total clientes atendidos por gestoras de patrimômio encolheu entre 2012 e 2016, passando de 4.470 grupos para 4.193, sendo que essas contas podem representar investidores individuais ou mais de uma pessoa no mesmo grupo.

Já o total de ativos sob gestão dessas empresas no país cresceu quase 70 por cento no mesmo período, atingindo 90,132 bilhões de reais ao final do ano passado.

Wachsmann destaca que embora alguns clientes tenham visto sua capacidade de poupar afetada, os retornos de seus investimentos vão no sentido contrário e registram números mais consistentes apesar da retração econômica e da crise política.

"Tem uma dissonância entre o que é resultado no portfólio financeiro e o que é a sensação térmica na vida real", disse, acrescentando que nos anos de 2013 e 2014 o desempenho das carteiras foi mais fraco, enquanto desde 2015 os resultados dos investimentos estão mais fortes, "talvez dos melhores anos da história da GPS".

A economia do país cresceu 1 por cento no primeiro trimestre deste ano ante os três meses anteriores, após dois anos seguidos de recessão, a mais longa da história.

O retorno dos investimentos em 2017 permanece sólido apesar do episódio envolvendo a delação de executivos da J&F, controladora da JBS, que envolveu o presidente Michel Temer e desencadeou uma crise política que afetou os mercados como um todo.

O episódio, segundo Wachsmann, afetou as carteiras de investimentos nos meses de maio e junho, mas com os ganhos registrados até abril, o portfólio do ano ainda segue positivo.

Com as incertezas no cenário político, Wachsmann afirmou que há ainda a percepção de uma diminuição momentânea na busca por ativos de maior risco, o que ainda não aconteceu em maior proporção devido à queda das taxas de juros.

"É tão absurdo o excesso de juros que eles vão ser cortados se tiver reformas ou se não tiver reformas", disse o gestor, acrescentando que a mais recente crise política promoveu "uma parada técnica", mas não foi suficiente para alterar completamente os planos de investimentos dos clientes.

A mais recente pesquisa Focus, feita pelo Banco Central mostra que economistas de instituições financeiras esperam um corte de 1 ponto percentual na Selic na próxima semana, com a taxa de juros caindo a 8 por cento no final do ano.

"O cliente quer ir atrás do retorno absoluto... Ou você mantém o risco que tem e aceita um retorno menor ou você persegue o retorno que tinha anteriormente e aceita um risco maior", disse.

Pouco mais de dois meses após a eclosão da crise envolvendo as delações dos irmãos Batista a perspectiva da equipe da GPS é de um cenário "moderadamente otimista" para o país, com a manutenção do ciclo de corte de juros e da agenda de reformas, independente da permanência ou não de Temer no cargo.

Wachsmann destaca que as reformas aprovadas ficarão aquém do que se esperava no começo do ano, mas o cenário ainda indica a possibilidade de algum avanço, com a discussão política em breve voltando para a eleição presidencial de 2018.

O foco para as próximas eleições, segundo o gestor, será a continuidade ou não da agenda de reformas do país, o que deve trazer volatilidade aos mercados conforme as pesquisas de intenção de votos surgirem.

"Pode não estar polarizada em relação a PT/PSDB, mas certamente estará polarizada em dar continuidade a essa agenda ou não", disse Wachsmann.

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