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Oferta de ações na Bolsa brasileira deve chegar a R$ 120 bi em 2020

Em 2019, volume pode se aproximar de R$ 90 bi com emissões previstas ainda para este mês

10 dez 2019 - 09h59
(atualizado às 12h23)
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A fila de empresas que preparam estreia na B3, a Bolsa brasileira, em busca de recursos está robusta. Bancos de investimento preveem que o volume de ofertas de ações para o próximo ano chegue a R$ 120 bilhões, somando as aberturas de capital (ofertas públicas iniciais, ou IPO, na sigla em inglês) e as ofertas subsequentes (ou follow ons, quando uma empresa que já tem capital aberto volta ao mercado para vender mais ações). Se esse volume for alcançado, será o novo recorde para o mercado de renda variável no Brasil.

A projeção é de que, ao contrário do observado neste ano, as estreantes na Bolsa ganhem um peso maior, o que pode ser notado no número de companhias que já estão com bancos contratados para estrearem como empresa de capital aberto.

Neste ano, a Bolsa brasileira foi palco de aproximadamente R$ 79 bilhões em ofertas de ações, com 38 operações até aqui, sendo que, desse total, foram apenas cinco IPOs. Esse número deve ainda se aproximar de R$ 90 bilhões, com as ofertas que serão precificadas até o fim da próxima semana, como Notredame Intermédica, Unidas e Marfrig. O número exclui as emissões realizadas fora do País, como a da XP Investimentos.

Dentre as empresas que já estão com processos em andamento para estrear na B3 no próximo ano estão, por exemplo, a empresa catarinense de shoppings Almeida Junior, o birô de crédito Boa Vista SCPC e as construtoras Kallas e Cury.

Uma oferta importante que deve acontecer já no primeiro trimestre do ano que vem é a do Banco Votorantim. Entre as ofertas subsequentes, as vendas de ações detidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) devem ganhar a cena, abrindo o ano com a esperada oferta do frigorífico JBS, que deve ocorrer já em janeiro.

O sócio responsável pela área de renda variável do BTG Pactual, Fabio Nazari, afirma que as mais de 30 ofertas subsequentes que ocorreram em 2019 na Bolsa brasileira demonstraram que o mercado de capitais do País está funcional. Essas ofertas, segundo ele, devem funcionar como "abre-alas" para os IPOs esperados para o ano que vem.

"Há muita empresa se preparando para uma oferta em 2020 e já estamos, inclusive, montando a carteira para ofertas em 2021", comenta Nazari. O executivo destaca, ainda, que o mercado está entrando em um cenário mais construtivo, diante de um pano de fundo de recuperação dos resultados das companhias.

A intensa movimentação das companhias rumo ao mercado de capitais está refletida na carteira dos bancos. O responsável pelo Bradesco BBI, Alessandro Farkuh, afirma que hoje a carteira de empresas no banco para lançarem ofertas é a maior da história do banco. "Temos uma carteira com muitas histórias e muitas transações sendo trabalhadas para serem concretizadas ao longo do primeiro e segundo trimestres de 2020", diz.

Farkuh destaca que a expectativa é de que as ofertas no ano que vem ocorram de forma uniforme ao longo de todo o ano e o executivo já prevê que 2019 será o melhor ano da história do BBI, na esteira do aquecimento do mercado de capitais no Brasil.

Até pela expectativa de melhora também da economia, as empresas têm começado a tirar da gaveta planos de investimentos, o que neste ano começou a ficar mais evidente nas diversas ofertas de ações que ocorreram no setor imobiliário e de consumo, que já começaram a mirar novos investimentos, comenta o chefe de mercado de capitais e renda variável para Brasil do Morgan Stanley, Marcello Lo Re. O executivo destaca que, no primeiro semestre deste ano, o componente primário das ofertas foi de 25%, subindo para 40% na segunda metade do ano, evidenciando uma mudança do perfil das ofertas e maior intenção de investimentos nos negócios. Em uma oferta primária, os recursos vão para o caixa das empresas, dando a ela mais robustez financeira. Já numa oferta secundária, os recursos vão para os acionistas que vendem seus papéis.

O presidente do Morgan Stanley no Brasil, Alessandro Zema, afirma que esse aumento da participação das emissões primárias ocorre em um momento que sucede um amplo movimento de redução do endividamento das companhias, que agora estão com os balanços preparados para uma nova fase de investimentos. Nos últimos anos, algumas empresas, inclusive, realizaram ofertas de ações para levantar recursos para o pagamento de dívidas.

Farkuh, do BBI, comenta que foram observados mais ofertas subsequentes, até porque essas emissões são mais céleres e fáceis de serem colocadas no mercado. Mas os bancos já estão trabalhando em preparações de aberturas de capital, o que deve se consolidar já nos próximos meses.

Apetite do investidor

Os investidores locais devem seguir mostrando bastante apetite nas emissões de ações no Brasil, mas as ofertas maiores contarão com a presença dos estrangeiros, que, embora ainda cautelosos em relação ao País, começaram a marcar presença mais expressiva nas ofertas brasileiras.

Nazari, do BTG, afirma que no início do ano os investidores locais estavam abocanhando 80% das ofertas, mas que, agora, já começa a ser observado maior equilíbrio nessa divisão. Além disso, o executivo destaca a mudança do perfil dos gringos que começaram a marcar presença nas ofertas de ações nos últimos meses para aqueles de mais longo prazo. "Acredito que isso é apenas a ponta do iceberg. Já estamos vendo os gringos com mais força e mais qualidade", comenta.

Para Christian Egan, diretor-executivo de Mercados Globais e Tesouraria do Itaú BBA, o Brasil deve voltar a atrair investidores em 2020. "O principal fator para a volta do investidor estrangeiro está nas projeções do PIB", afirmou.

Independentemente dos estrangeiros, os fundos locais mantêm força para garantir demanda para as ofertas de ações, como já ficou provado ao longo de 2019. O fluxo de entrada de recursos aos fundos tem sido grande, com a busca dos investidores por maior rentabilidade em tempos de juros baixos.

Até novembro, os fundos de ações superaram os multimercados e alcançaram a maior captação líquida da indústria neste ano: R$ 67,5 bilhões, alta de 171,9% sobre o mesmo período do ano passado. "Esse excesso de liquidez local continua. A migração de renda fixa para renda variável mal começou", afirma o executivo do Bradesco BBI.

Estadão
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