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Novas gerações de cafeicultores tentam abolir uso de herbicidas nas produções

Produtor capixaba praticamente zerou o uso de inseticidas para investir no ecossistema do local; empresas internacionais já fazem programas de incentivo e fecham parcerias com fazendas sustentáveis

8 mai 2021 - 05h10
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SOROCABA - O cafeicultor Adriano Breda Rodrigues, de 25 anos, faz parte das novas gerações de cafeicultores que caminham para a produção sustentável. A família cultiva café em Barra de São Francisco, nos Pontões Capixabas, e após ingressar no Jovens Transformadores, projeto da Nescafé que foca na sucessão familiar no campo, ele passou a investir para tornar a propriedade sustentável.

Os 45 mil pés de café rendem média de 100 sacas por hectare. "Na região, quase todo café ainda é commodity, mas no ano passado fizemos nosso primeiro café especial e este ano vamos fazer de novo." O jovem participa da certificação 4C (Código Comum para a Comunidade Cafeeira), um padrão de sustentabilidade internacional.

Adriano praticamente zerou o uso de herbicidas e inseticidas. "Passamos a olhar o ecossistema fazenda, pois o mercado está atento a isso. A gente não faz mais capina nas entrelinhas, usa o controle químico de forma seletiva e avalia a introdução de árvores no cafezal, pois tivemos períodos de seca que o sombreamento ajudaria."

Outras empresas já focam na qualidade e sustentabilidade na produção. A italiana Illycaffè premia os melhores produtores pagando até 30% acima da cotação por esses grãos cultivados de acordo com as normas ambientais e sociais. A Realcafé investe em parcerias com os produtores para a produção de cafés especiais que leva em conta o grau de sustentabilidade.

Conforme a diretora da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Vanusia Nogueira, o Brasil tem o maior número de propriedades com certificações socioambientais do mundo, mas nem todo café produzido com sustentabilidade é vendido com bonificação. "Em média, apenas 30% são vendidos como café sustentável. O mundo clama por um café assim, mas não quer pagar o prêmio", disse Vanusia. Ela lembra, porém, que durante a pandemia aumentou a venda de café certificado, devido à preocupação maior das pessoas com a segurança alimentar.

Pontuação

O café especial é avaliado pelas suas características sensoriais em uma escala de zero a 100 pontos, enquadrando-se apenas os que pontuam de 80 para cima. A BSCA, que agrega 70 mil cafeicultores em todo o País, incluiu a sustentabilidade na pontuação do café especial. Para Vanusia, o bom café não pode ser uma coisa de elite, porque a produção está mais atrelada ao manejo do que ao investimento. "Mesmo que não consiga um preço elevado na venda, o produtor ganha na redução de custos com o manejo sustentável."

A agricultura regenerativa, como são chamadas as boas técnicas agrícolas do passado aliadas às inovações do presente, faz parte da rotina da fazenda São Paulo, da família Montanari, com tradição de mais de um século na cafeicultura. "Estamos começando a quinta geração com minha filha, que faz agronomia para dar sequência à tradição familiar com uma pegada diferente: trabalhar a sustentabilidade com foco na parte econômica e também na social e ambiental", disse Marcelo.

Enquanto o cafeicultor tradicional gosta de manter o cafezal com as entrelinhas bem capinadas, Montanari "cultiva" esses espaços com mato. "Fazemos análise de solo comparando o do cafezal com o da nossa reserva de mata e plantamos a espécie mais indicada para melhorar o solo, deixando parecido com o da mata." Além de economizar com adubação química, esse manejo aumenta a produtividade e gera crédito de carbono.

Estadão
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