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Nova declaração de Bolsonaro sobre Petrobrás tromba com pensamento liberal de Guedes

Nesta quinta-feira, o presidente voltou a falar que quer rever a política de preços da Petrobrás; posicionamento contraria o da equipe econômica, que busca menor intervenção do Estado na economia

17 mai 2019 - 15h10
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A equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro tem um viés liberal muito claro. Muitos dos seus integrantes, incluindo o principal deles, o ministro Paulo Guedes, são egressos da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, onde o pensamento liberal floresceu.

Esse pensamento prega basicamente a menor intervenção possível do Estado na economia. E é isso que a equipe de Guedes vem buscando, principalmente por meio de um agressivo programa de privatizações para tirar completamente o Estado de áreas nas quais, segundo a avaliação da equipe, ele não deveria estar.

A ideia é simplesmente fornecer as bases necessárias para que as empresas privadas possam exercer suas atividades sem que o Estado atrapalhe. Nesse início de governo, porém, o pensamento liberal vem trombando com as ideias do presidente Jair Bolsonaro, que ao longo de toda a sua carreira política sempre teve uma visão mais intervencionista, que de vez em quando dá o ar da graça e afeta duramente as ações das empresas, sejam privadas, sejam estatais.

Nesta quinta-feira, 16, o presidente voltou a dizer que pode rever a política de preços da Petrobrás, se não houver "prejuízo para a empresa".

Bolsonaro em Dallas, nos EUA, onde recebeu um prêmio de personalidade do ano.
Bolsonaro em Dallas, nos EUA, onde recebeu um prêmio de personalidade do ano.
Foto: Marcos Correa/Presidência da República - 16/5/2019 / Estadão

A seguir, listamos alguns momentos em que esse choque de visões ocorreu:

Juros do Banco do Brasil

Foi em tom de brincadeira, mas pegou mal no mercado o pedido de Jair Bolsonaro ao presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, para que reduzisse os juros dos financiamentos aos produtores rurais. "Eu apenas apelo, Rubem (Novaes), me permite fazer uma brincadeira aqui. Eu apenas apelo para o seu coração, para o seu patriotismo, para que esses juros, tendo em vista você parecer ser um cristão de verdade, caiam um pouquinho mais. Tenho certeza de que as nossas orações tocarão seu coração", disse Bolsonaro, durante evento do agronegócio em Ribeirão Preto, em abril.

Logo depois, as ações do Banco do Brasil chegaram a cair mais de 1%, mas acabaram se recuperando depois e fechando até com leve alta de 0,04%. Mesmo assim, à noite, o porta-voz da presidência, Otávio Rêgo Barros, foi a público dizer que o presidente "não quer" e "não vai intervir" em nenhum aspecto relacionado à política de juros dos bancos estatais.

Propaganda do BB

Ainda em abril, o presidente cometeu mais uma ingerência nas atividades do Banco do Brasil ao vetar uma propaganda voltada ao público jovem que estava sendo veiculada desde o início do mês. A peça, que incentivava a abertura de contas na instituição pelo seu aplicativo, era estrelada por atores negros e brancos, numa representação da diversidade racial e sexual do País.

Bolsonaro acionou o presidente do BB, Rubem Novaes, pedindo a retirada da publicidade e acabou causando a saída do diretor de comunicação e marketing do banco, Delano Valentim, do cargo. "O presidente e eu concordamos que o filme deveria ser recolhido. Saída do diretor em decisão de consenso, inclusive com aceitação do próprio", disse Novaes, justificando a decisão. O Planalto não justificou a decisão, que virou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais na quinta-feira, 25.

Petrobrás e o preço do combustível

O mercado também não gostou da interferência do presidente na política de preços da Petrobrás. Depois de a estatal anunciar um aumento de 5,74% no diesel no dia 11 de abril, Bolsonaro admitiu ter ligado diretamente para o presidente da empresa, Roberto Castello Branco, para questionar a decisão.

"Não sou intervencionista. Não vou praticar a política que fizemos no passado, mas quero os números da Petrobrás", afirmou o presidente ao declarar que teria se "surpreendido" com o aumento acima da projeção da inflação.

No dia seguinte, a Petrobrás perdeu R$ 32,4 bilhões de valor de mercado, após as ações ordinárias da petroleira caírem 8,54% e as preferenciais recuarem 7,75%. O presidente ainda declarou que queria um "preço justo para o diesel", visando o setor de transportes.

O governo vem acompanhando as atividades dos caminhoneiros, com o objetivo de evitar uma possível nova paralisação da classe, como a que aconteceu em maio de 2018 que teve como estopim a alta nos preços do combustíveis.

Embaixada em Israel e os exportadores de carne

Além do conservadorismo expressado por Bolsonaro, uma série de declarações pró-Israel ajudaram o então candidato a presidente a obter apoio do eleitorado evangélico. Uma de suas promessas foi seguir o posicionamento dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como a capital do país e transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para lá quando fosse eleito.

O posicionamento não agradou aos países árabes, que importam carne brasileira. A tensão cresceu após viagem do presidente para Israel, no início de abril. O governo acabou anunciando que abrirá apenas um escritório em Jerusalém e se reuniu com 37 embaixadores dos países árabes no início de abril para acalmar os ânimos.

Relações com a China e com exportadores de commodities

Desde a sua campanha eleitoral, Bolsonaro vem criando certo temor nos exportadores de commodities, com declarações polêmicas relacionadas à China, um dos maiores parceiros comerciais do País.

Com um discurso de se alinhar comercialmente e ideologicamente aos Estados Unidos, o presidente chegou a declarar que "deixamos vazar bilhões de dólares entregando riquezas minerais para os chineses" e que a China estaria "comprando o Brasil".

Os comentários foram mais uma trombada com a postura do ministro Paulo Guedes, que ainda no período eleitoral, em setembro, chegou a receber diplomatas chineses para discutir a importância do relacionamento bilateral.

A China também reagiu à postura de Bolsonaro e ao possível afastamento estratégico, alertando sobre como "o custo econômico pode ser duro para a economia brasileira". Atualmente, o país asiático compra cerca de 80% das exportações de soja do País e vem impulsionando o comércio de nióbio, metal valioso que pode ser adicionado ao aço para torná-lo mais leve e resistente.

Estadão
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