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Natal deve ser marcado por preço alto e busca por pechincha

Pesquisa mostra que brasileiros vão deixar as compras para a última hora de olho em promoções e, assim, tentar driblar a disparada de preços, principalmente de alimentos

19 dez 2020 - 21h06
(atualizado às 21h21)
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O vendedor Jairo de Jesus, de 38 anos, decidiu se arriscar. De máscara, ele está disposto a enfrentar uma aglomeração no supermercado e até a correr o risco de não encontrar algum produto que procura porque pretende deixar para comprar alimentos e parte das bebidas da ceia de Natal no momento mais próximo da data. "Tem sempre aquele precinho da última hora", diz.

Consumidores na entrada do shopping Rhein Center em Rhein, Alemanha
15/06/2020
REUTERS/Arnd Wiegmann
Consumidores na entrada do shopping Rhein Center em Rhein, Alemanha 15/06/2020 REUTERS/Arnd Wiegmann
Foto: Reuters

A expectativa do vendedor é conseguir alguma promoção num ano de um Natal marcado por inflação em alta, sobretudo dos alimentos, e falta de alguns produtos - de cerveja a eletrodomésticos, ainda em função da recuperação da indústria diante do tombo na produção provocado pela paralisação das atividades por causa da pandemia.

Os planos de Jesus para o Natal deste ano são de uma comemoração modesta, só ele, a mulher e o casal de filhos pequenos. Ele pretende gastar com as compras bem menos do que em anos anteriores, quando a festa incluía parentes, amigos e vários presentes. "Este ano, vou concentrar os gastos na comida, nas lembranças para a mulher e filhos, e desembolsar menos."

O vendedor que faz parte de um grupo privilegiado - manteve o emprego e a renda nos últimos meses - não é o único que está cauteloso nos gastos. Ele é um dos 9,3 milhões de brasileiros que pretendem ir às compras na última semana antes do Natal, aponta pesquisa nacional da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com a Offer Wise Pesquisas, obtida com exclusividade pelo Estadão.

A enquete, que consultou cerca de mil pessoas na segunda quinzena de outubro, mostra que a parcela dos que planejam comprar na semana do Natal é praticamente a mesma de 2019, cerca de 10% dos entrevistados. A diferença está no peso do principal motivo para postergar as compras. Neste ano, mais da metade (61,2%) vai usar essa estratégia para encontrar alguma promoção e economizar. Em 2019, eram 47,7%.

Além de deixar as compras para a última hora em busca de pechinchas, a pesquisa mostra que a intenção de gasto médio com alimentos e bebidas no Natal diminuiu 10% este ano ante 2019. A expectativa de desembolso é de R$ 225.

 

Gastar menos especialmente com alimentos e bebidas num ano em que a comida foi a vilã da inflação não será nada fácil para o consumidor. Um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que o Natal de 2020 terá a maior inflação dos últimos cinco anos. Os preços de um grupo de 214 produtos e serviços mais consumidos neste período do ano subiram em 12 meses até novembro 9,4%. É mais que o dobro da inflação geral acumulada no mesmo período pelo Índice Preços ao Consumidor Amplo, de 4,3%. O cálculo, feito pelo o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, considerou os preços que entram na apuração do índice oficial de inflação do IBGE.

Em 2015, a inflação de Natal atingiu 11% e os preços dos alimentos natalinos tinham subido 12,9%. Agora, esses alimentos aumentaram 16% em 12 meses até novembro. Só o peru, um dos ícones da data, ficou 11,21% mais caro no período, segundo a Associação Paulista de Supermercados.

Dólar

A disparada de preços dos alimentos ocorre em razão dos aumentos das cotações dos grãos, como soja, arroz, milho, por exemplo, impulsionadas pela maior procura interna e externa por comida. A subida do dólar, que baliza os preços dessas commodities, também jogou mais lenha na fogueira das cotações em reais e estimulou as exportações, reduzindo a oferta doméstica.

A alta do câmbio também inflou os preços em reais de outros itens muito procurados no Natal, como os eletrônicos, que levam boa dose de componentes importados. TVs, som e informática ficaram 14,7% mais caros nos últimos 12 meses. Mas os alimentos estão no topo do ranking dos maiores aumentos, seguidos por joias e bijuterias (15%), bicicletas (10,6%), telefones (6,3%), entre outros. Já vestuário e passagens áreas, registram deflação.

"A armadilha é o preço do alimento", frisa Bentes. Como não há como escapar do consumo de comida, o brasileiro deixa de comprar outros itens.

O assessor econômico da Fecomércio/SP, Altamiro Carvalho, concorda com Bentes. "O cobertor é curto." Na sua opinião, o que deve acontecer no Natal é o que vem ocorrendo desde o início da pandemia: as pessoas vão abrir mão de outras despesas para dar prioridade à compra de alimentos.

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Estadão
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