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'Não há mágica para o crescimento', diz Alessandro Zema

Para presidente do Morgan Stanley no Brasil, o avanço gradual do PIB é a melhor fórmula para sua sustentabilidade

10 out 2019 - 04h11
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Um dos maiores bancos de investimentos do mundo, o Morgan Stanley tem perspectiva de crescimento do Brasil inferior a de seus concorrentes. Enquanto o mercado estima alta do PIB de 2,2% em 2020, o Morgan estima 1,7%. Mesmo assim, Alessandro Zema, que está à frente da instituição no Brasil, enxerga boas perspectivas para o País. "Não existe solução mágica para o crescimento sustentável: ele é lento e gradual", diz. "Tentamos soluções mágicas no passado e todas falharam."

Para ele, a agenda macroeconômica está correta e o País tem a maior agenda de privatizações do mundo, o que cria a perspectiva atraente. Zema afirma, ainda, que os investidores estrangeiros não estão fugindo do Brasil. Pelo contrário: participaram de metade das emissões do mercado de capitais este ano, que movimentaram quase R$ 60 bilhões, e estão de olho em aquisições. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. vê o desempenho da economia em 2019?

Estamos vendo o alinhamento da política monetária e fiscal, o que tem gerado resultados superpositivos. Taxa de juros baixas, inflação sob controle, percepção de risco país pequena. Dito isso, o crescimento virá de forma gradual. A gente já começa a ver os primeiros sinais, como sair de uma geração formal de 20 mil empregos por mês no início do ano, para 50 mil agora. Temos visto mais concessão de crédito e os índices de confiança do consumidor estão lentamente voltando. Há sinais de que esse crescimento está começando a voltar, mas não será exponencial. Não existe solução mágica para criar crescimento sustentado. O governo está na direção correta e teremos sinais mais auspiciosos daqui para frente.

Promissores mesmo com o cenário externo?

A gente não consegue ficar isolado das tensões internacionais, mas estamos vivendo um momento mais interessante de Brasil do que nos últimos anos. O Brasil está pouco presente em portfólios de mercados emergentes e temos um potencial de atratividade de recursos muito maior do ponto de vista macro. Vivemos no Brasil o programa de privatização mais ambicioso globalmente. O governo está dizendo que está saindo de 135 empresas estatais para 12, até 2022. Aliado a isso, há programas de concessões, leilões de pré-sal e cessão onerosa. Estamos falando de um volume de recursos, que pode chegar a R$ 1 trilhão vindo para o Brasil.

A chegada de recursos depende de aprovações de reformas?

À medida que se vai avançando nessa agenda - e ainda há muita coisa a ser feita -, maior a atratividade do Brasil para investidores de fora. Este ano, as empresas fizeram emissão de dívidas no exterior 44% maior que no ano passado, atingindo US$ 20,8 bilhões. As emissões de ações este ano também cresceram muito. Tivemos quase R$ 60 bilhões e vamos ver pelo menos mais R$ 30 bilhões em operações até o fim do ano. A normalidade da política macro andando em consonância com a política fiscal tem feito com que a atratividade do Brasil para os investidores tenha aumentado.

Mas os estrangeiros não vieram...

Queria desmistificar a ideia de que os investidores estrangeiros estejam saindo do Brasil. Segundo a B3, o fluxo de saída de recursos estrangeiros da Bolsa foi de R$ 22 bilhões. Mas dos R$ 58 bilhões em emissões feitos este ano, os estrangeiros ficaram com 50%. Teve a saída de R$ 22 bilhões e uma entrada de R$ 29 bilhões. Por outro lado, houve uma saída de mercados emergentes como um todo de US$ 35 bilhões. Do Brasil, saíram US$ 2,8 bilhões ou R$ 11 bilhões. Foram fundos passivos que saíram de mercados emergentes como um todo. Não é movimento de Brasil. Quando se incorpora o fluxo com emissões de ações, há um fluxo líquido de R$ 17,6 bilhões até agora no País. O investidor gringo está vindo e existe potencial de atrair mais.

Os discursos polêmicos do presidente Jair Bolsonaro não afugentam investidores?

Os investidores estão preocupados com assuntos macroeconômicos e a perspectiva de bons fundamentos para o Brasil não escapa de sua atenção. O que faria eles virem mais para o Brasil? Mais crescimento do PIB. Desta vez, há uma agenda muito clara do que tem sido feito e do que será feito. Ela vai ser lenta, gradual, mas vai ser sustentável, diferente de outras oportunidades do nosso passado recente, quando a gente teve um pico de crescimento e custou muito mais depois.

Quais benefícios da privatização, além dos recursos com a venda dessas empresas?

O que pouca gente fala é que, uma vez privatizadas, essas empresas vão se tornar mais eficientes, gerar mais resultados e pagar muitos mais impostos do que quando eram estatais. Não é só a monetização em si com a venda das estatais. Para o setor público, é um valor bem maior que o beneficio imediato da venda.

Estadão
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