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Não há contradição em eventual ajuste para Selic ser residual em meio à inflação baixa, diz Kanczuk

3 jul 2020 - 11h03
(atualizado às 12h18)
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Não há contradição entre o Banco Central mostrar que eventual ajuste na Selic é residual e apontar, ao mesmo tempo, que a inflação esperada para 2021 está abaixo do centro da meta, defendeu nesta sexta-feira o diretor de Política Econômica da autarquia, Fabio Kanczuk.

Sede do Banco Central, em Brasília
29/10/2019
REUTERS/Adriano Machado
Sede do Banco Central, em Brasília 29/10/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Ao participar de live promovida pelo Banco Safra, ele justificou que no balanço de riscos do BC há uma assimetria, já que apareceu um risco altista para a inflação ligado à possibilidade de impulsos creditícios e programas de recomposição de renda poderem gerar demanda acima do esperado, o que implica menor ociosidade da economia.

Segundo o diretor, o BC procurou sinalizar que, para além do cenário básico em que o IPCA de 2021 está em 3,2%, há outro cenário com o qual está preocupado, em que o PIB cai menos e há inflação "sensivelmente acima" desse patamar.

"Tem um cenário básico, mas há viés para um lado e esse viés faz com que eu não esteja longe da meta (de inflação em 2021)", afirmou ele. A meta para 2021 é de inflação em 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Quando cortou a Selic em 0,75 ponto em junho, à mínima atual de 2,25% ao ano, o BC já havia aberto a porta para nova redução "residual" à frente, condicionada à avaliação do cenário. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) acontece em 4 e 5 de agosto.

Kanczuk reforçou que agora o BC está muito mais de olho nos dados de atividade do que esteve nos meses anteriores e que sempre vai dar "ênfase enorme" para a inflação propriamente dita.

LIMITE PARA QUEDA DOS JUROS

Sobre o chamado lower bound, limite de queda para a Selic a partir do qual a política monetária perderia sua eficácia, Kanczuk afirmou que o tema não foi muito debatido na última reunião do Copom como foi no encontro anterior, de maio.

"A discussão passou a ser atividade antes de qualquer coisa", disse.

O diretor avaliou que houve mudança na natureza desse limite, já que em maio as discussões estavam mais associadas a uma preocupação com o que poderia acontecer com o câmbio, num momento em que o dólar rodava em nível mais alto sobre o real.

Agora, a preocupação do BC quanto ao limite para os juros básicos está mais ligada à indústria de fundos e realocação grande para a poupança, o que poderia gerar outras ineficiências econômicas, destacou ele.

"A gente não está vendo absolutamente nenhum problema atual na indústria de fundos, mas é algo que deve ser monitorado e deve ser feito com cautela", complementou.

Kanczuk frisou ainda que esse ponto gera um debate diferente sobre qual instrumento alternativo seria usado pelo BC caso precisasse dar estímulo e não pudesse fazê-lo da forma usual, via Selic.

Segundo Kanczuk, se a preocupação prudencial do BC não é relacionada ao câmbio, mas aos juros básicos atingirem patamares muito baixos, abre-se a possibilidade de uso de orientação futura como um caminho para "proteger indústrias que estou com questionamento e vai gerar estímulo monetário que eu desejo".

Na política de orientação futura, o BC dá uma sinalização mais clara e direta da trajetória à frente da taxa de juros.

Kanczuk ponderou que no Brasil há diferença entre orientação futura e afrouxamento quantitativo com compra de títulos públicos (quantitative easing) porque com o chamado QE o BC impediria o mercado de colocar o prêmio de risco no preço dos títulos, o que acabaria fazendo esse risco aparecer em outros ativos, particularmente no dólar.

Na visão do diretor, o uso da orientação futura não teria essa desvantagem, já que ela não afeta o prêmio de risco, mas apenas os outros componentes dos juros longos, ligados à expectativa de juros futuros e ao prêmio de termo.

"O problema do ´forward guidance´ é você ter credibilidade num país onde a volatilidade é tão grande", afirmou ele.

Kanczuk sublinhou, porém, que essa discussão não está na mesa do BC e que muitas condições deveriam acontecer antes para isso aparecer "de forma relevante" para a autoridade monetária.

VOLATILIDADE CAMBIAL

Kanczuk afirmou nesta sexta-feira que o BC está tentando identificar a causa do aumento elevado da volatilidade do câmbio e se ela é eficiente ou não, reconhecendo que esse movimento destoa do nível de volatilidade visto em outros países emergentes.

"Infelizmente eu não tenho muito a adicionar. Só posso dizer que a gente está super de olho nisso tentando entender", afirmou ele. "É necessário entender exatamente o problema para daí poder pensar qual é o remédio possível", acrescentou.

Ele disse que a mudança de overhedge criou pressão no câmbio nos últimos meses e há "parte residual" que ainda pode afetar comportamento do dólar, algo a que o BC está atento.

Mas ele ponderou que há uma coisa distinta acontecendo no momento, ligada à volatilidade diária "bastante elevada" do câmbio, com aumento grande de contratos pequenos.

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