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Mudanças em Minas e Energia ampliam receio com privatização da Eletrobras, dizem analistas

11 abr 2018 - 15h57
(atualizado às 17h36)
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A nomeação de Moreira Franco (MDB-RJ) como novo ministro de Minas e Energia e mudanças no time técnico da pasta, com a saída do secretário-executivo Paulo Pedrosa, ampliaram receios de investidores de que os planos do governo de privatizar a Eletrobras possam falhar ou atrasar, segundo analistas.

Linhas de transmissão de energia
31/08/2017
REUTERS/Ueslei Marcelino
Linhas de transmissão de energia 31/08/2017 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

A tensão cresceu ainda mais após o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmar ao jornal O Globo na terça-feira que Moreira Franco "tem pouco trânsito na casa" e que a articulação pela aprovação de um projeto de lei sobre a desestatização "está ruim".

Questionado pela Reuters sobre o assunto nesta quarta-feira, Maia afirmou que, com Moreira Franco no ministério, a tramitação do projeto "ficaria mais difícil, pois a articulação dele na Câmara não é boa".

"O nome de Moreira Franco para o ministério de certa forma foi recebido de maneira muito negativa pelos investidores, que ainda estão descrentes em sua capacidade de mobilizar a base para votar essa proposta no Congresso", disse à Reuters o analista político da XP Investimentos, Erich Decat.

"Essa declaração do Maia, que até disse que está quase solitário na batalha pelo projeto, é como que um desabafo, e dá um sinal muito ruim", adicionou.

As ações da Eletrobras tiveram forte queda na segunda-feira, após a nomeação de Moreira Franco e a saída de Pedrosa, tendo chegado a cair mais de 10 por cento durante o pregão, em uma sessão também impactada negativamente pelas repercussões da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na terça, os papéis da estatal se recuperaram, mas voltaram ao terreno negativo nesta quarta-feira-- as preferenciais caíam 2,5 por cento por volta das 13h45.

Analistas do Itaú BBA disseram que a saída de Pedrosa foi negativa e levou à queda das ações da Eletrobras na segunda-feira, principalmente porque ele era o nome preferido dos investidores para assumir a pasta.

Em relatório no início da semana, os analistas ressaltaram que Moreira Franco tem um bom relacionamento com a cúpula do governo do presidente Michel Temer, mas que é preciso mais tempo para entender como ele poderia ajudar no processo de desestatização.

"O histórico dele mostra que sua nomeação pode ser útil para a capitalização da Eletrobras, mas nós ainda queremos ver o que ele pode oferecer para virar esse processo."

O presidente do Fórum de Associações do Setor Elétrico (Fase), Mario Menel, que representa investidores em energia junto ao governo, disse esperar que Moreira Franco dê continuidade à atuação do antecessor, Fernando Coelho Filho, mesmo após mudanças importantes no ministério de Minas e Energia.

Além de Coelho Filho e Pedrosa, também deixaram cargos ligados à pasta o presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Barroso, e alguns outros técnicos vistos como amplamente qualificados.

"Claro que o setor elétrico se acostumou com esse 'dream team'... Essa debandada de técnicos de alto nível preocupa. Por outro lado, eles já fizeram seu trabalho... Então o centro das atenções sai um pouco do ministério para o Congresso", afirmou.

COMISSÃO

Uma comissão criada na Câmara para analisar o projeto de lei de desestatização da Eletrobras também tem gerado preocupação em investidores devido ao ritmo lento dos trabalhos, em meio a tentativas de obstrução de deputados da oposição e ausência de nomes da base aliada do presidente Temer.

O relator do PL no colegiado, deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), tem cobrado publicamente uma maior "mobilização" da base do governo para votar o texto.

Aleluia tem levantado a possibilidade de levar o texto diretamente ao Plenário se não houver avanço nos trabalhos da comissão.[nL1N1R91GF]

Mas a manobra exigiria um alinhamento com lideranças parlamentares ou uma aprovação da maioria dos deputados e poderia gerar mais polêmica, como acusações de restrição ao debate público da proposta para a estatal, apontou Decat, da XP Investimentos.

"Com a aproximação das eleições tem ficado cada vez mais notável a falta de interesse de algumas lideranças em apoiar algumas propostas que são prioridade do governo. Então, se avançar para o Plenário, tem que ver qual vai ser o humor da Casa para essa proposta... Não é muito positivo", disse.

O clima poderia piorar ainda mais no caso de uma eventual nova denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Temer, que teve amigos transformados em réus por organização criminosa nesta semana pela Justiça Federal de Brasília. [nL1N1RM25D]

"Não está muito claro se virá ou quando virá, mas dentro do cenário de vir uma nova denúncia, isso mais uma vez vai contribuir para que a Casa não avance, fique paralisada", disse Decat, após ser questionado sobre a possibilidade.

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