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Mercado vende dólares à espera de Copom mais duro

5 mai 2021 - 17h30
(atualizado às 17h33)
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O dólar sofreu firme queda nesta quarta-feira, o que levou o real ao topo dos ganhos entre as principais moedas. O movimento refletiu posicionamento do mercado em prol de um Banco Central mais duro com a inflação quando anunciar em breve sua decisão de política monetária, o que pode sinalizar um juro terminal mais alto que eleve a atratividade da moeda brasileira.

Funcionário do banco Korea Exchange conta cédulas de cem dólares na sede da instituição em Seul
28/04/2010
REUTERS/Jo Yong-Hak
Funcionário do banco Korea Exchange conta cédulas de cem dólares na sede da instituição em Seul 28/04/2010 REUTERS/Jo Yong-Hak
Foto: Reuters

O dólar à vista caiu 1,23%, a 5,3652 reais na venda, depois de tocar 5,3552 reais (-1,42%) na mínima atingida à tarde. A máxima foi de 5,442 reais (+0,18%), alcançada ainda na primeira hora de negócios.

Investidores também expressaram visão de um BC mais ortodoxo sobre a inflação no mercado de juros, em que taxas de curto prazo subiram --indicando expectativa de Selic mais alta-- enquanto as de vértices mais longos caíram. Isso causou a redução da inclinação da curva, um clássico quando se fala em BC "hawkish" (duro com a inflação).

"À luz dos dados recentes, esperamos que o comitê modifique sua comunicação, não mais descrevendo o atual processo de ajuste monetário como parcial", disse o Itaú Unibanco, em referência a números de atividade econômica, balanço de riscos, projeções e expectativas de inflação.

A Selic está em 2,75% ao ano e deve ser elevada em 0,75 ponto percentual na noite desta quarta-feira, para 3,50%. E o processo de ajuste monetário vai continuar.

"Com a Selic chegando a 4% em junho, já ficaria acima da taxa básica de alguns países pares do Brasil e em linha com a do México. Como a perspectiva é de continuidade do ciclo, isso já ajuda o real", disse Sérgio Goldenstein, consultor independente da Ohmresearch Independent Insights.

Contratos futuros de real já embutem taxa de juros perto de 4,5%, muito similar ao retorno atrelado a derivativos de igual vencimento para o peso mexicano, apesar de o juro básico mexicano (4%) ser consideravelmente maior que o brasileiro.

André Nogueira Fontenelle, responsável pelos fundos multimercados macro da Bradesco Asset Management (Bram), acredita que o status do real como financiador de operações de arbitragem com taxas de juros acabou.

Essa condição, causada pelo juro baixo, transformou a moeda brasileira em alvo fácil de operações de "hedge" para aplicações em outros mercados --estratégia que, por representar venda de reais (compra de dólar), intensificou a pressão sobre a taxa de câmbio.

RUÍDO POLÍTICO-FISCAL

O real recuperou perdas em abril, mas ainda cai 3,24% em 2021, o que se soma à perda de quase 23% no ano passado. Analistas dizem que a combinação entre juro real negativo e deterioração fiscal nocauteou a moeda brasileira. Enquanto o lado da política monetária parece encaminhado, riscos político-fiscais ainda ditam uma visão conservadora sobre o câmbio por parte de investidores estrangeiros.

"Investigações sobre a gestão da pandemia pelo governo provavelmente só aumentarão o ruído político e têm o potencial de adiar a aprovação das reformas necessárias e diluir notícias positivas relacionadas a privatizações", disse em relatório Bertrand Delgado, estrategista para mercados emergentes do Société Générale.

E analistas da TD Securities entendem que o real, apesar dos atuais patamares, ainda não está barato dados os riscos em torno.

"O risco de mais deterioração fiscal nos mantém em uma posição cautelosa em relação ao real. Como tal, não vemos a moeda como necessariamente barata em torno de 5,50 por dólar --e certamente não a 5,00 por dólar. Para isso, achamos que a taxa Selic precisará ficar pelo menos 300 pontos-base mais alta", disseram em nota.

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