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Mercado sente baque com renovado risco fiscal apontando 2º semestre volátil

3 ago 2021 - 13h35
(atualizado às 16h53)
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Os mercados financeiros no Brasil começaram agosto sob renovadas pressões fiscais, e segundo analistas esse aumento de prêmio de risco dá o pontapé inicial de um potencial recrudescimento de temores com as contas públicas até dezembro, quando ganhará corpo a discussão sobre o Orçamento 2022 e a eleição do ano vem ficará menos distante.

16/01/2013. REUTERS/José Manuel Ribeiro
16/01/2013. REUTERS/José Manuel Ribeiro
Foto: Reuters

Desde o fim da semana passada o sentimento voltou a cambalear com manchetes do lado fiscal. Primeiro, por rumores de que o governo estudaria deixar o Bolsa Família fora do teto de gastos. Na sequência, e de forma relacionada, por alertas sobre um forte aumento no volume de pagamentos de precatórios para 2022, que abocanharia boa parte do espaço fiscal esperado para o ano que vem.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, foi explícito ao dizer que um pagamento integral dessa conta, que soma em torno de 90 bilhões de reais em 2022, atingiria as despesas do governo como um todo e não só o programa Bolsa Família, razão pela qual a União está trabalhando em proposta para flexibilizar as regras desse pagamento. Guedes reconheceu que o governo pode ter "dormido no ponto".

O reflexo desse novo episódio de ruído fiscal ficava claro nos preços do dólar e dos juros. O dólar futuro saltou 5% entre a mínima de quinta passada e a máxima desta terça. Nos juros, o spread entre os DIs janeiro de 2027 e janeiro de 2022 subiu de 252 pontos-base para 287 pontos-base.

Nesta sessão, o real tinha, com folga, o pior desempenho entre as principais moedas globais.

"O mercado segue encontrando dificuldades para acompanhar o bom humor externo, principalmente com a volta do receio com tentativas do governo de furar o teto de gastos voltando aos holofotes neste segundo semestre --a tendência é que isso se mantenha tendo em vista que ano que vem teremos eleições presidenciais", disse Victor Beyruti, economista da Guide.

Nesta semana, estrategistas do Morgan Stanley alertaram que a cada vez maior desaprovação do governo e a proximidade da eleição de 2022 sugerem potenciais riscos em direção a uma política fiscal menos austera.

"Isso poderia, em último caso, criar renovada pressão de alta para os juros longos, especialmente com o excesso de prêmio a termo se movendo para perto de zero", disseram em relatório da véspera.

A Rio Bravo vai na mesma linha.

"No segundo semestre ainda teremos a intensificação das discussões sobre a eleição do próximo ano. Promete ser um final de ano de muita incerteza econômica e fiscal, de elevado risco país e, consequentemente, de volatilidade no mercado", disse a gestora em comentário.

Essa potencial fonte de mais volatilidade acaba reduzindo o otimismo decorrente de outras variáveis que influenciam os preços dos ativos --como a alta de juros para a taxa de câmbio, por exemplo.

Os economistas Carlos Pedroso e Mauricio Nakahodo, do grupo financeiro MUFG, ainda projetam que o dólar terminará este ano em 5,10 reais, mas sob risco de deterioração do noticiário fiscal, especialmente depois das recentes manchetes sobre o Bolsa Família e o susto com os precatórios.

"Isso é preocupante, porque seria de se esperar a retomada do ajuste fiscal assim que a pandemia estivesse sob controle. Além disso, sinalizaria risco de populismo no ano eleitoral de 2022 se a chapa presidencial não estiver indo bem para a reeleição", disseram em relatório.

Saindo do campo da expectativa, recentemente os dados fiscais divulgados já vieram piores. O setor público consolidado brasileiro registrou déficit primário de 65,508 bilhões de reais em junho, acima dos 60,0 bilhões de reais previstos em pesquisa da Reuters. A dívida bruta caiu, mas ainda ficou em 84% do PIB.

"Dado o elevado patamar da dívida pública, nesse ano, é fundamental conciliar responsabilidade fiscal com a pressão por novos gastos de combate a pandemia", disse o Itaú Unibanco.

"Para os próximos anos, o principal risco é que haja uma flexibilização do regime fiscal do teto de gastos, o que ocasionaria deterioração adicional das condições financeiras, com impacto negativo sobre a atividade econômica."

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