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Mercado de grãos deve acompanhar disseminação do coronavírus e logística

23 mar 2020 - 10h47
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São Paulo, 23 - Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) começam a semana atentos à disseminação do coronavírus, à logística na América do Sul e ao desempenho dos demais mercados. Nesta segunda-feira, o impacto das medidas de isolamento adotadas pelos governos pelo mundo e a votação do pacote de resgate dos EUA no Congresso norte-americano devem influenciar o comportamento dos ativos financeiros. A demanda chinesa por grãos norte-americano também volta ao radar, após a China ter anunciado compras de milho e trigo nos Estados Unidos no fim da semana passada.

Os futuros de soja terminaram em alta na sexta-feira com a expectativa de demanda chinesa pelo grão norte-americano. O vencimento maio subiu 19,25 cents (2,28%), para US$ 8,6250 por bushel. Na semana, a oleaginosa registrou ganho de 1,62%. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) informou na sexta-feira que exportadores relataram vendas de 110 mil toneladas de soja para destinos não revelados. Traders acreditam, porém, que essas vendas tenham sido para a China.

Também na sexta-feira o USDA confirmou que a China comprou milho e trigo norte-americanos. "É um sinal de que os canais de negócios começam a se abrir. A demanda mundial, mesmo com o coronavírus, segue aquecida", disse o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. No domingo, em entrevista coletiva, o presidente dos EUA, Donald Trump, destacou que a China adquiriu recentemente produtos agropecuários norte-americanos. Em relatório, a corretora Labhoro disse que, após as compras chinesas tão aguardadas da sexta-feira, não há mais informações sobre outras aquisições de commodities agrícolas, mas especula-se que devam ocorrer nesta semana.

Segundo o analista Michael McDougall, da Paragon, "os mercados finalmente estão vendo algum interesse chinês, e há preocupações crescentes com a logística (o que talvez possa explicar o interesse chinês também)". Ele observou, no entanto, que a alta parece ser uma correção e que apenas condições climáticas desfavoráveis ao plantio nos EUA ou uma piora da situação nos portos da América do Sul vão animar mais o mercado.

Terminais portuários na localidade de Timbúes, na província de Santa Fé, na Argentina, paralisaram atividades para conter o avanço do coronavírus. A medida deve se estender até o começo de abril. Há temores de que isso resulte em menor oferta de farelo de soja, já que a Argentina é o maior exportador mundial do derivado. No Brasil, os maiores portos de exportação de soja e milho ampliaram ações de combate ao coronavírus, mas garantem que isso não afetará o carregamento de grãos neste período de safra. Contudo, os estivadores no Porto de Santos decidirão nesta segunda-feira se vão paralisar ou não atividades para se proteger diante da pandemia.

Por enquanto, os embarques transcorrem normalmente no Brasil. O fechamento de novos negócios, entretanto, perdeu força na sexta-feira com o recuo do dólar - a moeda norte-americana terminou em queda de 1,48%, a R$ 5,0267. Na semana, contudo, acumulou valorização de 4,37%.

O milho fechou em baixa na sexta-feira em Chicago, apesar de fortes vendas do grão norte-americano para a China. Segundo o USDA, exportadores relataram vendas de 756 mil toneladas de milho para o país asiático. Traders explicaram que os preços caíram porque a expectativa de uma compra chinesa volumosa já tinha sido precificada na sessão anterior. A alta de quinta-feira pode ter sido motivada em parte por essa expectativa, e também por um movimento de cobertura de posições vendidas, disse Terry Reilly, da Futures International. O vencimento maio do grão recuou 1,75 cent (0,51%) na sexta, para US$ 3,4375 por bushel. Na semana, a queda foi de 6,02%.

Também pesou sobre o mercado o recuo do petróleo, que diminui a competitividade relativa do etanol. A queda recente do petróleo, por causa da guerra de preços entre Arábia Saudita e Rússia e restrições a viagens impostas por governos diante do avanço do coronavírus, está reduzindo as margens de fabricantes de etanol nos EUA, que estão cortando ou interrompendo a produção.

Os futuros de trigo negociados na CBOT fecharam em alta na sexta-feira, após o governo dos Estados Unidos informar que exportadores do país venderam 340 mil toneladas de trigo duro vermelho de inverno para a China. Além disso, a demanda por alimentos à base de trigo em decorrência da pandemia de coronavírus favorece os preços do grão. "A ideia de que demanda por produtos como farinha e massa pode aumentar nas áreas afetadas pelo vírus já é uma realidade visível para clientes em lojas", disse a analista do Commerzbank Michaela Helbing-Kuhl. Na CBOT, o vencimento maio do trigo avançou 4,25 cents (0,79%) e fechou em US$ 5,3925 por bushel. Na semana, acumulou ganho de 6,57%.

Café: mercado registra avanço de 12% na semana passada

Os contratos futuros de café arábica tiveram alta de cerca de 12,1% (1.295 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base vencimento maio de 2020. Na sexta-feira (20), os contratos fecharam a 119,70 centavos de dólar por libra-peso em comparação com 106,75 cents na sexta anterior. Na semana, os contratos marcaram máxima de 120,05 cents (sexta, dia 20) e mínima de 101,40 cents (terça, dia 17). Desde o início do ano, entretanto, o contrato registra queda de cerca de 7,5%.

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que "os estoques mundiais são baixos, nos países produtores praticamente não existem, e os grandes compradores, acostumados com uma oferta ampla até pouco tempo atrás, se habituaram a trabalhar com estoques menores e um fluxo constante de matéria prima chegando regularmente aos seus armazéns".

Conforme Carvalhaes, os preços subiram no mercado físico, principalmente para os arábicas de boa qualidade a finos da safra atual. Esses cafés foram negociados até a R$ 600,00. O volume não foi expressivo por causa da escassez de café ainda em mãos de produtores e também porque compradores e vendedores agem com cautela em virtude do quadro volátil, instável, da economia brasileira e Mundial. "A tendência é do mercado físico ficar ainda mais lento" prevê Carvalhaes.

Açúcar: contratos devem apresentar recuperação

Após recuo expressivo nas últimas semanas, os contratos futuros de açúcar demerara registraram forte alta na sexta-feira. O melhor humor dos mercados internacionais e o preço baixo da commodity abriram espaço para compras de oportunidade. Além disso, no início do pregão o petróleo se valorizou, o que impulsiona o adoçante. No entanto, no fim do dia o óleo já operava em queda, reduzindo a alta do açúcar, que chegou a trabalhar com avanço de mais de 5%.

Nesta segunda, traders devem ter no radar o relatório da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês), preços do petróleo, câmbio e a aversão a risco. Se os fatores forem favoráveis, a recuperação deve continuar.

Na sexta-feira, o vencimento maio/20 teve alta de 32 pontos (3,02%) e fechou em 10,91 cents/libra-peso. O contrato mais líquido trabalhou em alta durante toda a sessão: a máxima do dia foi de 11,19 (mais 60 pontos) e a mínima, de 10,82 (mais 23 pontos).

O avanço é uma correção após recuo em 16 das 17 sessões anteriores e perda acumulada de 28,15% no período, conforme cálculo do analista da Paragon Global Markets Michael McDougall. Ele afirma que açúcar, petróleo e etanol no Brasil estão "sobrevendidos" e que a tendência é de correção. Ainda segundo McDougall, parte do mercado age como se já estivesse decidido que o Brasil produzirá algo em torno de 36 milhões de toneladas de açúcar na safra 2020/21, o que pode não acontecer por dois motivos: o açúcar leva mais tempo para ser fabricado do que o etanol hidratado e hoje há menor capacidade de moagem por usinas; e, para quem não travou os preços de açúcar, pode ser mais lucrativo produzir etanol com os preços atuais do adoçante.

Estadão
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